segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O primeiro artilheiro - parte 1

PITOTA
Alcindo Wanderley
Posição: Atacante

Clubes: Tamoio Futebol Clube (1912), 15 de Novembro e Santa Cruz (1914-1921).

Títulos: Alguns títulos amistosos, como a Taça Escola de Odontologia (1916), a Taça Almirante Barroso (1917), oferecido pelo clube de mesmo nome, ou o torneio promovido pelos cronistas esportivos, em 1921. Houve também a conquista do Torneio Início de 1919.

Marcas: Artilheiro do Campeonato Pernambucano (1917 - não se sabe a quantidade de gols).

Características: baixinho e ligeiro, era considerado um jogador determinado porque não faltava aos jogos. Participava até quando estava doente.

Estréia pelo Santa: 25/06/1914 - Santa Cruz 1x0 Coligação Esportiva

Curiosidades: #As irmãs de Pitota comandavam a torcida feminina do Santa Cruz. Maria, Aurélia, Olegária e Theodina levavam graça e animação aos estádios, chegando, casualmente, a discutir com torcedores adversários.

# Por conta da vitória diante o Botafogo, o cinema Polytheama programou para o mês de fevereiro de 1919 uma homenagem ao Santa Cruz. Foi exibido na tela os retratos de todos jogadores, além do filme "Cena de Beijos" ter sido o escolhido para homenagear os santacruzenses.

Obs.: Não se sabe a data de nascimento de Alcindo Wanderley, o Pitota, mas possivelmente ele nasceu em Olinda.

O primeiro artilheiro - parte 2

Primeiro ídolo e artilheiro do futebol pernambucano, Pitota teve de enfrentar a resistência do pai para chegar a tal condinção. Conhecido pelo nome - Alcindo Wanderley -, o jogador tricolor ganhou o apelido - Pitota - justamente para que seu pai não tomasse conhecimento das aventuras futebolísticas do garoto. O pai, advogado famoso do Recife, anos depois confessou que ouvira falar de um tal Pitota, sem saber que era o filho proibido de jogar bola.

Após passar por alguns clubes de Olinda, o artilheiro, em 1914, foi estudar no Colégio Salesiano, onde conheceu os fundadores do Santa Cruz. A partir daí, jogando pelo tricolor, se consolidaria como artilheiro de Pernambuco, mais precisamente no ano de 1917 (possivelmente também em outros anos, mas a falta de registros impede a afirmação). Nome comum nas relações da seleção da Liga Sportiva Pernambucana e combinados que participavam de amistosos. Com pouco tempo de Santa Cruz, passou a integrar a diretoria.

Em janeiro, de 1915, a Assembléia Geral elegeu a segunda diretoria do Santa Cruz, que comandaria o clube no biênio 15/16. Pitota foi eleito vice-diretor de esportes. Na eleição seguinte, tomou posse da direção de esportes. Bom na oratória, também se elegeu orador do clube, porque, naquele tempo, os jogos não começavam sem uma troca de gentilezas. E ainda foi o primeiro sócio benemérito do Santa.

Pitota só não chegou a conquistar o título do recém-criado campeonato pernambucano, colecionando alguns vices, principalmente para o Sport, pois esse sempre reforçava o time na reta final com jogadores do sul do Brasil, atitude condenada na época. Mas ele participou de momentos marcantes da hitória do Santa Cruz Futebol Clube, dos quais qualquer torcedor já ouviu falar.

Um deles foi a inacreditável virada, num jogo em que perdia por 5x1 do América, pelo pernambucano de 1917. Faltando 20 minutos para o fim da partida, muitos tricolores haviam deixado o estádio dos Aflitos, eis que o capitão Tiano resolve deslocar Pitota. Ele vai jogar na ponta-direita, no intuito de fugir da implacável marcação dos adversários. Surgi um pênalti para o Santa Cruz, e os torcedores mais resistentes devem ter ido embora, pois Pitota desperdiça a chance de diminuir restando 15 minutos. Mas, a partir daí, incrivelmente, os gols foram saindo a favor do tricolor, especialmente dos cruzamentos de Pitota da ponta-direita, evidenciando a importância da mudança tática realizada durante o jogo. O artilheiro ainda guardou o seu na espetacular vitória por 7x5(!).

http://rubbens68.blogspot.com/2007_06_03_archive.html

Outro triunfo inesquecível, do qual Pitota marcou presença, foi o de 1919, frente ao Botafogo do Rio. Este, até ofuscou a passagem de Santos Dumont pelo Recife, tamanha era a festa pela vitória, a primeira de um clube do Norte-Nordeste diante de um do Sul-Sudeste do Brasil. O lateral-esquerdo do Santa na partida, Manoel Pedro (o professor), certa vez disse que "o gol de desempate e, conseqüentemente o do triunfo, aconteceu já no finalzinho, numa jogada individual de Pitota". O Santa Cruz também ficou marcado por ter sido o primeiro clube de Pernambuco a excursionar para outro Estado. Em 1916, uma viagem a Natal era uma verdadeira epopéia, mas lá se foi o Santa enfrentar o ABC. O jogo foi acertado por João Café Filho, que mais tarde viria a ser Presidente da República, após a morte de Getúlio Vargas. Nascido em Natal, Café Filho estudava no Recife, fez amizade com o pessoal do Santa e programou o que era considerado um acontecimento. Pitota estava entre os jogadores que venceram o ABC por 4x1, mas não há registros dos autores dos gols.


Ao fim da curta carreira, Pitota se mudou para Niterói, no Rio de Janeiro, e possivelmente faleceu por lá. Um menino que, para fazer o que gostava, enfrentou a resistência em casa, tornou-se nome conhecido no Recife e em Olinda, integrou vários selecionados pernambucanos e, já na década de 1970, foi laureado com uma medalha de ouro pela diretoria do Santa da época. É reconhecidamente o primeiro artiheiro do Mais Querido e de Pernambuco.




"Pitota deixou tonta a defesa do América e passou a centrar bolas para a área.....driblou quase todo o time do América antes de marcar."

Tiano, capitão do Santa Cruz na vitória por 7x5 contra o América, em depoimento a Placar, de 1979.





Fontes: Conheça o Santa Cruz - 55 anos de glória, Revista Placar, História do Futebol em Pernambuco (Givanildo Alves) e blog Santa Cruz Desde 1914 (http://rubbens68.blogspot.com/).

domingo, 14 de outubro de 2007

Agora tentam nos calar

O ex-presidente de maior rejeição junto a torcida tricolor tenta banir um espaço na internet que conquistou e uniu os apaixonados pelo Santa Cruz.

O ex-presidente em questão é o ex-vereador José Neves, atual presidente da FBA e aliado de Romero Jatobá, outro rejetadíssimo pelos tricolores, e o espaço na internet é o influente e participativo Blog do Santinha. O argumento do "eterno" cartola é de que o intuito do Blog seria “denegrir a imagem e a moral do autor".

O Blog Os Grandes Ídolos do Santa Cruz se engaja na luta pela defesa do blog que materializou a emoção vivida nas arquibancadas do Arruda em textos.

Para saber mais acesse:
http://www.blogdosantinha.com/artigos/ex-presidente-do-santa-cruz-vai-a-justica-tentar-calar-o-blog-do-santinha/
http://www.blogdosantinha.com/eu-defendo-o-blog-do-santinha/

O cabelo de fogo - parte 1

NUNES

João Batista Nunes de Oliveira

20/05/1954, Feira de Santana (BA)

Posição: Centroavante

Clubes: Confiança (1974-75), Santa Cruz (1975-78), Fluminense (1978-79), Monterrey-MEX (1979-80), Flamengo (1980-83 e 87), Botafogo (1983-84), Náutico (1985), Boa Vista-POR (1985), Santos (1985), Atlético-MG (1986) e Volta Redonda (1987)

Títulos: Campeão Pernambucano (1976 e 85), Campeão Brasileiro (1980, 82 e 83), Campeão da Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes (1981), Campeão Carioca (1981), Campeão do Troféu Ramon de Carranza (1980) e Campeão Mineiro (1986)

Marcas: Artilheiro do Campenato Sergipano (1974 - 17 gols), do Pernambucano (1977 - 23 gols), do Brasileiro (1981 - 16 gols) e do Campeonato Mineiro (1986 - 26 gols). Pela Seleção Brasileira foram 13 jogos e 8 gols. Desses, 11 jogos e 7 gols como jogador do Mais Querido. Defendendo o Santa, foram mais de 84 gols, sendo 43 pelo Brasileiro em 72 jogos, de 75 a 78. Com isso, ele é o maior artilheiro do Santa Cruz em Brasileiros.

Características: Chutava forte com as duas pernas, sempre bem posicionado, raçudo, oportunista, trombador, movimentação constante, ágil, tinha boa condição física, ótimo no jogo aéreo, insistente e, acima de tudo, impetuoso. Conhecido também como o artilheiro invisível, porque surgia de repente, sem ser percebido, cara-a-cara com o goleiro.


Estréia pelo Santa: 31/07/75 - Sport 1x1 Santa Cruz
Ficha do Jogo
Competição: Campeonato Pernambucano (3° Turno).
Local: Ilha do Retiro; Juiz: Roberto Caúla.
Público: 30.097; Renda: Cr$ 412.705,00.
Gols: Ramon, Assis.
Sport: Toinho, Marcos, Pedro Basílio; Alberto e Cláudio Mineiro; Luciano, Assis Paraíba e Garcia; Miltão, Dario e Peri. Técnico: Duque.
Santa Cruz: Jair, Renato, Lima, Queiroz e Pedrinho; Carlos Alberto, Givanildo e Mazinho; Fumanchu (Nunes), Ramon e Santos (Pio). Técnico: Carlos Frôner.


Curiosidades: #Em julho de 78, Nunes foi indicado, numa pesquisa realizada pela Rede Globo e divulgada no programa Fantástico, como titular absoluto da camisa 9 do Brasil na preferência do povo.

#Atuando pelo Flamengo, na decisão do Campeonato Brasileiro de 80, contra o Atlético-MG, Nunes, no final da partida, driblou o zagueiro Silvestre e chutou, quase sem ângulo, fazendo 3 a 2 para o clube carioca. O ex-jogador criou uma história para o lance: -Eu disse para o Silvestre: olha lá o Cristo, e ele se distraiu. Por isso, eu passei por ele e fiz o gol -, brinca.


Hoje: Trabalha nas divisões de base do Flamengo.
Obs.: há registros de que Nunes tenha nascido no Sergipe, na cidade de Simão Dias, antiga Anápolis. Além disso, em vez de ter atuado no juvenil do Fluminense, de Feira de Santana, ele teria começado no Flamengo, do Sergipe.

O cabelo de fogo - parte 2

1978 - Joel Mendes, Carlos Barbosa, Givanildo, Paranhos, Pedrinho, Alfredo Santos, Fumanchu, Betinho, Nunes, Wilson Carrasco e Joãozinho.


NUNES NO SANTA

Nascido em Feira de Santana (BA), Nunes, o Cabelo de Fogo, começou a fazer gols no Fluminense baiano. Aos 14 anos, se mudou para o Rio de Janeiro e ingressou no juvenil do Flamengo, mas, ao estourar a idade de juniores, foi descartado pelos diregentes rubro-negros. No Confiança de Aracaju, o atacante se profissionalizou e o Santa, atento, logo contratou o jogador que viria a ser um dos grandes goleadores do Tricolor e o de maior projeção na história do clube em termos de Seleção Brasileira.

A estréia aconteceu num clássico das multidões, no finalzinho do Pernambucano-75, em jogo válido pelo 3° Turno. No memorável Brasileiro-75, no qual o Santa foi semifinalista, a melhor campanha de um time pernambucano na competição e a primeira vez que um nordestino chegava a tal fase, Nunes, ainda um jovem de 21 anos, teve participação discreta na campanha, marcando dois gols. A concorrência com Ramon, artilheiro do Brasileiro-73, era desleal. Ao lado de Fumanchu, Ramon foi o goleador do Santa com oito gols. O primeiro e único título do Cabelo Fogo pelo Santa seria o bissuper, em 76.

Naquele ano, as três torcidas estavam empolgadas, porque, além do Santa(4° colocado), Sport(11°) e Náutico(13°) tiveram boa participação no campeonato nacional de 75. O rubro-negro, de Dario, artilheiro do certame com 30 gols, levou o primeiro turno; o Santa, sem Ramon e Fumanchu negociados, faturou o segundo e o Náutico surpreendentemente ganhou o último turno. Antes de chegar no supercampeonato, porém, grandes goleadas, como a de 11x0 frente ao Íbis, com 7 gols de Volnei, e especialmente os 5x0 no Sport, onde Nunes marcou aos 45 segundos, justificando o apelido de "atacante invisível", marcaram a campanha do Santa. Na decisão entre os três grandes, Santa e Náutico venceram o Sport, por "apenas" 2x0 e 1x0 respectivamente. No jogo mais aguardado do campeonato, o Tricolor fez de novo 2x0 num Arruda abarrotado. Cerca de 62.711 pessoas compareceram ao Colosso, isso porque na época só existia o anel inferior e a polícia proibiu a entrada de mais torcedores. Nunes marcou o gol que abriu caminho para a vitória e nas palavras de Waldemar Carabina, técnico do Náutico, "foi um gol incrível, não havia condições dele fazer". Mesmo isolado, lutando contra dois zagueiros (Sidclei e Geraílton) num momento de pressão do timbu, ele deixou sua marca, embora nem fosse necessário, pois o Santa jogava pelo empate. Jadir, prata-da-casa, fechou o caixão. Um fato curioso é que essa conquista foi a primeira de Ênio Andrade como técnico de futebol. Nunes, por sua vez, não poupou nas promessas: viajou até Salvador para pagar promessa ao Senhor do Bonfim e depois partiu rumo a Aracaju a fim de "quitar a dívida" com Santo Antônio, enqüanto os outros jogadores mantiveram a tradição de ir ao morro da Conceição, no Recife mesmo. Ao fim do campeonato, Nunes, mesmo ausente de alguns jogos devido a uma contusão, contabilizou 14 gols em 28 jogos.


Após o Bissuper, grandes campanhas do Santa em Brasileiros marcaram a passagem de Nunes. Em todas elas, chegando muito próximo de alcançar a fase semifinal. A perfomance mais fraca (11°) do tricolor enqüanto Nunes esteve no Arruda aconteceu justamente quando todos estavam eufóricos com a conquista de mais um título estadual. No Brasileiro-76, tudo transcorria bem, o Mais Querido caminhava a passos largos em direção às semifinais, mas na última fase de grupos, o Santa não ficou entre os dois melhores que se classificavam para tal fase. No decorrer do campeonato, a ausência de Givanildo -vendido ao Corinthians -era sentida, e uma goleada sofrida contra o Inter, que viria a ser bicampeão, abalou o grupo. Nunes marcou 9 gols, mas também abriu espaço para Betinho fazer os mesmos 9 gols e ser artiheiro da equipe. Para o Brasileiro-77, o Cabelo de Fogo foi relacionado pela CBD entre aqueles que não poderiam ser vendidos para o Exterior.

Em mais um Brasileirão, a torcida confiava novamente em uma grande campanha, apesar do fracasso do time(3°) no Pernambucano-77, que teve Nunes como artilheiro, bem a frente dos demais. Na primeira fase do certame nacional, um grupo de 10 times, em que cinco passavam, com o Santa terminando em terceiro, atrás de Palmeiras e São Paulo. Destaque para as goleadas frente a Treze (6x0) e CRB (5x1), onde Nunes anotou cinco gols somando os dois jogos. Na fase seguinte, nova classificação, dessa vez em segundo lugar numa chave com cinco clubes. Chega então a última etapa de grupos, de onde só o campeão continuaria, com destino às semifinais. Além do Santa Cruz, Palmeiras, América-RJ, Desportiva-ES, Remo e Operário-MS compunham o grupo, no qual o alviverde paulista era considerado franco favorito. Eis que então, na penúltima rodada, o Palmeiras, atual líder, recebe o Santa no Pacaembu com mais de 62 mil pessoas, e vê sua chance de passar à semifinal praticamente acabar. Com um jogador a menos desde o primeiro tempo, Nunes foi expulso, mas antes já tinha marcado seu golzinho, o Santa não tomou conhecimento do Palmeiras de Jorge Mendonça e fez 3x1 com mais dois de Fumanchu, que voltara ao Santa junto com Givanildo. Enqüanto isso, no Rio, o Operário vencia o América-RJ e se transformava no principal concorrente à vaga. Na última rodada, os dois jogavam em casa, Santa x Remo e Operário x Palmeiras, o Mais Querido tinha vantagem, 8 pontos contra 7, mas, naquela época, vitória com diferença igual ou maior de dois gols valia três pontos. Jogando sem Nunes, suspenso, o Santa vencia por 2x0, resultado que lhe garantia a classificação, enqüanto que o Operário também ganhava pelo mesmo placar. No entanto, relembrando 75, quando o Santa sofreu um gol no "apagar das luzes" e viu a final do campeonato escapar entre os dedos, um gol de Mesquita, a favor do Remo, aos 43 minutos do 2° tempo, fez com que os dois terminassem empatados em pontos, com o Operário levando vantagem no saldo, dois a mais. Um fato triste, mas que não apaga mais uma campanha memorável, projetando Nunes de vez no cenário nacional. Na Bola de Prata da Placar, Lula (quarto-zagueiro), Givanildo (médio-volante) e Fumanchu (ponta-direita) ficaram em segundo, sexto e quarto, nas suas respectivas posições, além de Nunes ter sido o terceiro como centroavante.


Por fim, o Brasileiro-78, disputado no primeiro semestre, onde o Santa estabeleceu uma marca imbatível até hoje. Foram 27 jogos seguidos sem perder. A primeira derrota só veio acontecer nas quartas-de-final, para o Inter de Porto Alegre, eliminando o clube pernambucano, que ficou na quinta posição. Nunes esteve em campo em apenas 12 oportunidades, por causa da Seleção, deixando sua marca 11 vezes. Média de quase um gol por partida. Ao lado dele, Fumanchu e Joãozinho, advindo do mesmo Confiança do Cabelo de Fogo, formaram uma das melhores linha de frente de toda história do clube das multidões.
Com o fim do Brasileiro, no dia 30/08, Nunes, que foi comprado por 320 mil cruzeiros após os tricolores vencerem a concorrência de Vasco e Náutico, foi vendido junto com Luiz Fumanchu ao Fluminense por 11 milhões de cruzeiros. Assim, acabava a relação do Santa Cruz e um dos artilheiros que mais deixou saudades na torcida e que mais tarde brilharia no clube mais popular do país.

sábado, 13 de outubro de 2007

O cabelo de fogo - parte 3


NUNES NA SELEÇÃO
A menos de três meses para o ínicio da Copa-78, na Argentina, Cláudio Coutinho, técnico do escrete canarinho, divulgou a lista dos convocados para os amistosos preparativos do Mundial. Entre os 21 nomes estava Nunes. O anúncio, feito na sede da CBD (hoje CBF), às 13 horas, no ínicio de março, gerou comoção nacional e o atacante tricolor foi considerado uma surpresa. A imprensa carioca pedia Roberto (Dinamite), apesar da má fase e de ter marcado apenas 7 gols no Brasileiro. Serginho (Chulapa) era a aposta dos jornalistas paulistas, mas o atacante dependia de um julgamento decorrente da indisciplina do jogador que, ao contrário do atacante do Vasco, passava por bom momento e viria a ser campeão Brasileiro pelo São Paulo. A unanimidade era Reinaldo do Atlético-MG.


Lista anunciada, a torcida e a mídia esportiva aguardavam pelos amistosos contra combinados, clubes e seleções européias. Reinaldo era o centroavante titular, enqüanto Nunes ia entrando no decorrer dos jogos e deixando os seus golzinhos. Até que, mais uma vez substituindo Reinaldo, Nunes marcou o único tento da vitória brasileira frente a Alemanha Ocidental, atual campeã do mundo, em Hamburgo. A partir daí, o Cabelo de Fogo assumiu a posição de Reinaldo que já vinha sendo perseguido pelas constantes contusões. Nunes também deixou sua marca em amistosos contra a Internazionale, de Milão, e o Atlético, de Madri. No dia 13/05/78, a 21 dias da estréia na Copa do Mundo,num amistoso da Seleção Brasileira contra a Seleção Pernambucana, Nunes atuaria pela última vez pelo Brasil (e como jogador do Santa) antes de ser cortado.


A justificativa era médica, porém os tricolores não engolem essa história até hoje. O médico Lídio toledo (o mesmo do caso Ronaldo na Copa-98) é o acusado pela torcida. Comenta-se que ele teria apertado o gesso no tornozelo de Nunes mais do que devia. O fato é que Roberto substituiu o Cabelo de Fogo, atendendo aos apelos da imprensa carioca, já revoltada com a não convocação de Paulo César (Caju) do Botafogo. Os números, no entanto, credenciavam o atacante tricolor, que marcou no Brasileiro de 77 (com fim em março de 78) o dobro de gols do atacante vascaíno, 14x7, fechando na terceira colocação da tábua de artilheiros, atrás apenas de Reinaldo e Serginho. Na Bola de Prata da Placar, o centroavante Nunes também ficou em terceiro, novamente perdendo somente para Reinaldo e Serginho, enqüanto que Roberto foi o décimo primeiro melhor centroavante do campeonato. No fim das contas, Reinaldo não agüentou a dor nos meniscos e Roberto não o substituiu à altura. Nunes, dito pela Revista Placar "nosso melhor centroavante, sem discussão", voltava a jogar pelo Santa no dia 10/06, contra o Fluminense, já pelo Brasileiro de 78, apenas dois depois do segundo do jogo do Brasil na Copa, um empate por 0x0 diante da Espanha. Além disso, depois da eliminação brasileira da Copa que culminou no primeiro título mundial da Seleção argentinha, Cláudio Coutinho disse que o Brasil foi o campeão moral, por sair invicto, e muitos tricolores se viraram contra a Seleção. Esse é só mais um episódio mal explicado envolvendo a seleção da CBF.




"Nunes é para o Santa o que Pelé foi para o Santos."


Rodolfo Aguiar, presidente do Santa Cruz no biênio 79/80.





segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O príncipe - parte 1

ALDEMAR

Aldemar dos Santos

07/11/31, Rio de Janeiro (RJ)

Posição: centro-médio (zagueiro)

Clubes: Vasco (1951-54), Santa Cruz (1954-58), Palmeiras (1959-64), América-MG (1964-?) e Guarani (1966).

Títulos: Torneio Pernambuco-Bahia - 1956, Supercampeão Pernambucano - 1957, Supercampeão Paulista - 1959, Taça Brasil - 1960, Campeão Paulista - 1963, Campeão da Taça do Atlântico e da Copa Rocca - 1960 (esses pela Seleção Brasileira).

Marcas: #Foi considerado, não apenas pela imprensa, mas pelo próprio rei do futebol, como um dos melhores marcadores de Pelé. Na decisão do supercampeonato paulista de 59, Palmeiras e Santos fizeram a final e Aldemar tinha a ingrata missão de marcar o camisa 10 santista. Os elogios de Pelé a Aldemar após o título palmeirense e à atuação destacada do zagueiro foram inevitáveis.

#Aldemar atuou quatro vezes pela Seleção Brasileira, tendo três vitórias e uma derrota. Sua estréia no Brasil aconteceu em 29 de maio de 1960, na vitória por 4x1 diante da Argentina, pela Copa Rocca. E a última partida vestindo a "amarelinha" foi no dia 29 de junho do ano seguinte, num amistoso, no Maracanã, Brasil 3x2 Paraguai. Pela Seleção Pernambucana disputou o campeonato brasileiro de 1956 (quase todo jogado em 57), quando Pernambuco terminou na quarta colocação. Dos onze jogos do time pernambucano Aldemar esteve presente em seis.


Características: Era conhecido por seu futebol elegante, as passadas longas e a inteligência. Além de um ótimo e hábil marcador, tinha bom porte físico e um grande espírito de liderança. Jogador de categoria refinada.


Estréia pelo Santa: 11/06/1954 -Santa Cruz 2 x 1 Botafogo-PB. Com a colaboração do pesquisador Carlos Celso Cordeiro segue a ficha do jogo abaixo:
Data: 11/06/1954
Competição: Amistoso Interestadual. Renda: Cr$ 52.235,00.
Local: Ilha do Retiro; Juiz: Anísio Morgado.
Gols: Tonho (41/1) // Tonho (20/2), Chaves (/2).
Santa Cruz: Neves; Santana e Lucas; Aldemar, Calico e Ananias (Edinho); Jorge de Castro, Tonho, Jaime (Expedito), Mituca (Geraldo) e Tampinha (Milton Lopes). Técnico: Oto Vieira.
Botafogo-PB: Zearmando; Nelson e Kleber; Vavá, Berto e Tita; Nelsinho, Chaves, Pedro Negrinho (Delgado), Dega (Milton) e Elcio.

Curiosidades: #Em 1966, foi contratado pelo Santa para ser técnico. No Recife, nem chegou a se apresentar ao clube porque já sofria de "Amnésia". Desapareceu, até que um ex-jogador amigo o encontrou na rua e o levou para casa. Logo em seguida, ligou para seus irmãos, no Rio de Janeiro, e eles foram buscá-lo em Pernambuco.

# Aldemar não era elegante apenas no campo. Ele chegou a figurar numa lista dos "10+" elaborada pela crônica social do Recife.

Hoje: Faleceu atropelado no Recife em 21/01/77. Depois que foi cortado da Seleção, em 1962, se entregou à bebida e nunca mais foi o mesmo. Em depressão, sofrendo de amnésia e, agora, refém da bebida, sua carreira entrou em decadência e a morte viria anos mais tarde.

O príncipe - parte 2

1957 (Super) - Sidney, Diogo, Aníbal, Aldemar, Edinho e Zequinha; Lanzoninho, Rudimar, Mituca, Faustino e Jorginho.

"A torcida tricolor ficou enlouquecida. Saiu da Ilha para o Arruda em passeata. Por onde passava, ia arrastando mais gente. O torcedor perdido se agarrava à multidão, aderindo a ela como marisco em rochedo. Não teve um bar neste Recife que não ficasse coalhado de gente. E o estoque de cerveja acabou em todos os bares!" Foi dessa forma que o falecido jornalista Givanildo Alves descreveu a reação da torcida do Santa Cruz à conquista do supercampeonato de 1957. Há dez anos sem títulos, o Santa saiu da fila justamente no primeiro supercampeonato realizado e com um time, que na opinião de muitos, foi o melhor da história do clube. Naquele ano, além do título de supercampeão - o oitavo pernambucano do Mais Querido até então -, o Santa Cruz conquistou o troféu dos juvenis e juniores com times que ficaram conhecido como Juventude Transviada, em alusão a um filme de muito sucesso na época. Dois detalhes nos relevam a importância dessa conquista: o público presente na Ilha do Retiro, mais de 35 mil pessoas, o quê equivalia a 8% da população do Recife - hoje, considerando essa porcetagem, seria como se fosse 200 mil pessoas no Arruda; e as composições de Nélson Ferreira e Capiba especialmente feitas para celebrar o título. O campeonato de 57 foi do mais alto nível, com os três grandes investindo pesado. O Náutico trouxe os atacantes Benitez e Edmar, este vindo para substituir o artilheiro e ídolo alvirrubro Ivson. O Sport buscava o tricampeonato com quase o mesmo time do bi, sendo o jovem goleiro Manga a novidade. Já o Santa era recheado de craques como Aníbal, Lanzoninho, Marinho, Faustino, Edinho, Zequinha, que em 62 iria ser campeão mundial com o Brasil e, claro, Aldemar.

Foto: Diario da Noite

Aldemar marca, de pênalti, o segundo gol do Santa, na decisão de 57.

Apelidado de "o príncipe" devido ao seu estilo elegante de jogar, pois roubava a bola com maestria, sem qualquer indício de violência, Aldemar foi o capitão supercampeão e, invariavelmente, o líder de um dos melhores times do tricolor. Não bastasse a segurança na hora de defender, ele ainda marcou um dos gols (de pênalti) na partida que tirou o Santa da fila, 3x2 contra o Sport, na Ilha. No supercampeonato, Aldemar atuou em 18 dos 21 jogos do Santa e anotou oito gols. Na época ficaram famosos os duelos que travava com Naninho, um gaúcho goleador do Sport, mas que geralmente tropeçava na bola quando enfrentava o craque do Santa - mais tarde esses duelos viriam a ser com o rei Pelé. Após se destacar no Santinha, se transferiu, junto com Zequinha, ao Palmeiras para fazer parte da famosa Academia de Ademir da Guia, o Divino. Pouco depois de deixar o Recife, foi convocado pelo técnico Vicente Feola para defender o "scratch"canarinho, mas acabou sendo preterido da disputa da Copa do Mundo de 62, vencida pelo Brasil. Enquanto atuou em Pernambuco, também fez parte da Seleção Pernambucana. Infelizmente, entrou em depressão após a não convocação para a Copa, no Chile, e morreu alguns anos depois. Um ídolo não tão badalado, talvez por ser zagueiro, mas que não perde a majestade, embora não tenha sido rei.


Aldemar está na fila do meio e é o terceiro da esquerda para a direita.Em primeiro plano, o técnico argentino Alfredo Gonzales.




"...E terminamos com a adaptação de um central, Diogo, e Sidnei. Esses dois jogadores eram medianos, mas Zequinha, Aldemar e Edinho eram extraordinários."

Rodolfo Aguiar, presidente do Santa no biênio 79/80, ao Blog do Santinha em 2005.





Fontes: Revista Placar - Santa Cruz, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, 85 anos de bola rolando (Givanildo Alves) e sites: Blog do Santinha (http://www.blogdosantinha.com/entrevistas/memoria-em-tres-cores-parte-ii/), Milton Neves (http://www.miltonneves.com.br/qfl/index.asp?id_qfl=1316), Ponto Verde (http://www.pontoverde.com.br/index?click=inst_nossa_historia&page=shop/palmeiras/nossos_craques) e História do Futebol (http://blog.soccerlogos.com.br/?s=Aldemar&submit=%C2%BB).

quarta-feira, 11 de julho de 2007

São Birigüi - parte 2

clique na imagem para ampliá-la


Quem poderia imaginar que a derrota para o Bahia por 5x0, na Fonte Nova, do Brasileiro de 81 e que custou a eliminação do Santa, traria algo de bom? O goleiro desse jogo foi o experiente Wendell. Após essa fatídica partida em abril, sua permanência estava próxima do fim. Neste interem, o Guarani, de Campinas, propôs a troca de Birigüi, goleiro do clube campineiro, por Wendell. Começava ali, pouco depois da vergonhosa eliminação de 81, uma história de amor entre o ídolo e a massa coral.

Logo ao chegar no Recife, Birigüi teve de enfrentar uma feroz concorrência pela camisa 1 com Luís Neto. Essa disputa se notabilizaria como uma das melhores e mais leais, até hoje lembrada. Ao contrário do aconselhável, a constante troca não influenciava no rendimento deles, pois quando um se contundia, o outro não largava a posição. A idolatria dos tricolores era tanta, que, em época de renovação de contrato, a torcida pressionava a diretoria para que os dois ficassem no clube. Dessa forma, Birigüi e Luís Neto se revezaram na posição durante quase dez anos.

O primeiro título vestindo o manto coral veio em 83, o tri-super. Mas, nesse campeonato, Luís Neto era o dono da camisa 1. Inclusive consagrando-se como herói do título com a defesa de um pênalti na dramática decisão contra o Náutico. Birigüi se consolidou no time titular, se é que é possível dizer isso, a partir de 85. Os milagres viriam a acontecer no bicampeonato (86/87).


No campeonato de 86, o Santa havia ganhado o 1° Turno, perdido o 2° para o Sport numa goleada de 5x0, que culminou na demissão de Waldemar Carabina (Moisés o substituiu) e decidiu o 3° contra o Central, em Caruaru. O jogo terminou 1x1, e, na decisão por pênaltis, Birigüi pegou o chute de Jorge Vinícius, dando a vantagem para o tricolor na final. A decisão foi em jogo único, na Ilha do Retiro. O Sport tinha Henágio e Luís Carlos, que, no fim das contas, era pouco para atravessar a muralha chamada Birigüi. Ele segurou o 0x0, numa Ilha invadida pelos tricolores. De acordo com Chico Carlos, jornalista do jornal Tablóide Esportivo, “o jogo foi dramático e emocionante, com um herói contagiando todos. Seu nome: Birigüi. Ele foi um caso à parte. Os adjetivos para sua exibição não caberiam neste comentário”. Nesse campeonato, ele foi titular em 16 partidas (Luís Neto nas outras 13).



No ano seguinte, novamente o Sport, jogando em casa, não conseguiu bater o Santa de Birigüi. O rubro-negro possuía um time melhor no papel com Éder, Robertinho, Ribamar e Leão (técnico e goleiro), embora o Santa tivesse faturado dois turnos e chegava com a vantagem do empate. O tricolor era comandado pelo jovem Abel Braga, 34 anos na época, que viria a conquistar seu primeiro título como treinador naquele ano. De novo o goleiro do Santinha foi peça-chave para conseguir o empate (1x1) e consequentemente o bicampeonato. A imprensa o destacou também por ser um dos mais alegres pela conquista, dedicando o título à torcida. Àquela altura, a Seleção Brasileira era uma pretensão – que acabou não se concretizando.



Após o campeonato pernambucano de 88, Birigüi foi jogar em Portugal, não sem antes de ter sido eleito algumas vezes goleiro do Fantástico ao longo dos Brasileirões que disputou pelo Santa Cruz. Quem o viu atuar não hesita em chamá-lo por São Birigüi. É um desses casos raros de fidelidade a um clube e identificação com a torcida, comparável talvez ao que é hoje Rogério Ceni no São Paulo.





"O Sport procurou forçar sempre pelos flancos e esteve presente à área tricolor, mas teve no goleiro Birigüi o grande obstáculo que impediu que chegasse à tão almejada vitória. Com defesas sensacionais, que naturalmente vão colocá-lo na galeria dos grandes jogadores que fazem a história do clube, Birigüi garantiu o resultado de 0x0 que deu o título de campeão ao Santa Cruz."

Trecho do texto de Claudimir Gomes, em 86, no Diario de Pernambuco.




Agradecimentos especiais pela colaboração de Edvaldo Leite, tricolor de Paulista-PE.

Fontes: História do Brasileirão (de 1971 a 2001) da Placar; Revista Placar, Diário de Pernambuco, Tablóide Esportivo, Campeonato Pernambucano – 1971 a 2000 (Carlos Celso Cordeiro e Luciano Guedes Cordeiro), Coralnet, site Arquivos de Jogos e Fichas técnicas do Guarani (http://paginas.terra.com.br/esporte/guarani/) e site Futebol MatoGrossense(http://www.futebolmatogrossense.com.br/home/)

São Birigüi - parte 1

Birigüi

Marcos Antônio Gomes

01/04/58, Birigüi (SP)

Posição: Goleiro

Clubes: Bandeirante-SP (1973), Guarani (1974/81), Santa Cruz (1981/88 e 1990/91), Famalicão-POR (1989 e 1990), Sport (1989), Olímpia-SP (1991), Rio Branco-MG (1992) União Barbarense-SP (1993), Velo Clube-SP(1994) e Operário-MS (1995).

Títulos: Campeão da Taça de Ouro (Série A) – 1978 (pelo Guarani), Campeão da Taça de Prata(Série B) 81 (pelo Guarani), Campeão pernambucano em 83 (tri-super) e bicampeão pernambucano em 86/87.

Marcas: Birigüi jogou seis brasileiros pelo Santa. Em 82 e 83 disputou a Série B, aliás, as primeiras do Santa. De 84 a 87, Birigüi fez 57 jogos na Série A (12 vitórias, 18 empates e 27 derrotas). O Santa não era o mesmo da década anterior.

Características: Segurança, tranqüilidade e carinho pela camisa do Mais Querido.





Estréia pelo Santa (correção): 11/11/81 - Santa Cruz 4x0 Central (Birigüi desembarcou no Recife em 7 de outubro, às 20h30, ao lado do zagueiro-central Caxias, que vinha do Colorado do Paraná. Problemas com o clima da capital pernambucana atrasaram a estréia do novo goleiro tricolor. Ele foi relacionado pela primeira vez no dia 25 de outubro, no empate por 0x0 contra o Náutico, no Arruda. A aguardada estréia aconteceu em casa, em jogo válido pela última rodada do 3° turno, quando Birigüi substituiu durante a partida o então titular Luís Neto. Os gols foram de Agnaldo, Ivan, Caxias e Almilton Rocha num jogo que registrou 5.271 pagantes naquela noite. Anteriormente eu havia publicado equivocadamente que a estréia de Birigüi tinha acontecido no dia 9 de setembro de 81, quando o Santa empatou com o Central por 1x1, pelo 2° turno, também no Arruda.)


Curiosidades: # Birigüi teve uma rápida passagem de dois meses pelo Sport. Tal fato, a princípio, poderia manchar sua imagem entre os corais. Contudo, num Clássico das Multidões (de 89, Sport 1x1 Santa, 1° Turno - 2ª Fase), a torcida rubro-negra gritava o nome do goleiro no intuito de provocar os tricolores. A resposta: ô ô ô Birigüi é tricolor. Sensibilizado, após o jogo Birigüi entregou de volta o dinheiro que o Sport havia lhe dado (por sinal, para contratá-lo foi feita uma proposta milionária) e rescindiu o contrato.




# Como não havia titular fixo na disputa entre Birigüi e Luís Neto, ambos recebiam bicho integral pelas vitórias.


Hoje: Técnico de futebol. Atualmente no Cacerense-MT, que caiu na 1ª fase da Série C. Foi campeão mato-grossense de 2007 com o atual clube e, em 2005, com o Vila Aurora.

Aviso

O primeiro texto do blog, sobre o ídolo Tará, foi revisado e atualizado.
As informações são baseadas em reportagem do jornal Folha de Pernambuco.

Vale a pena conferir!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

o camisa 5 - parte 2


Lula, Pedrinho, Levir, Givanildo, Carlos A. Barbosa e Jair; Fumanchu, Alfredo, Ramon, Carlos A. Rodrigues e Pio



GIVA NO SANTA

Givanildo chegou ao Santa Cruz, em maio de 68, por intermédio do publicitário Paulo Duarte. O garoto franzino trabalhava como office-boy na empresa de Paulo, que era maranhense, mas torcedor e conselheiro do tricolor. Depois de tomar conhecimento da importância que Givanildo tinha nas equipes de várzea (Portela, de Jaboatão dos Guararapes, e 10 de Novembro, de Olinda) em que atuava, Paulo Duarte, ainda desconfiado, resolveu levá-lo para o Santa.

Passado o período de testes, Givanildo custou a entrar no time principal, a rotina apenas de treinos o incomodava. Por conta disso, o Topo Gigío quase foi emprestado ao Confiança, mas Gradim, técnico do Santa Cruz, sabia o que estava fazendo ao deixa-lo esperando. Então veio um amistoso diante do Bahia, em comemoração ao quinto aniversário da “Revolução” Militar, que mudaria a perspectiva do craque. Devido a uma série de contusões na equipe, Givanildo foi titular e começou a escrever seu nome no futebol pernambucano. Com a Ilha do Retiro lotada, ele deu duas assistências e marcou um gol na vitória por 5x2, no forte time baiano. A partir daí, seu futebol passou a ser comentado nas ruas e sua presença no time titular mais comum.
No ano seguinte, com Duque no comando do Santa, passou a atuar no meio-campo, por causa do seu estilo “incansável”. No início dos anos 70, assumiu o posto de capitão, sem falar da conquista do pentacampeonato.

Em 1975, após dois anos sem conquistas, quando as críticas apareciam, veio a memorável campanha no brasileiro. Givanildo recebeu propostas de Fluminense e Vasco, no fim de 74, mas a diretoria do Santa Cruz conseguiu segura-lo para aquela que viria a ser a melhor campanha em nacionais. O início foi claudicante, então Carlos Froner deu lugar a Paulo Emílio, o técnico do pentacampeonato. A campanha teve grandes vitórias, inclusive contra os rivais, mas a partida que decidiria um semifinalista foi especial. O palco era o Maracanã e o Flamengo o adversário. Confronto que foi apimentado pela matemática da Rede Globo. No programa Fantástico, o matemático Oswaldo de Souza calculou que o Flamengo tinha 85% de chances de ser o campeão do grupo 2, enquanto o Inter tinha 35%. O Santa, que era o segundo da chave (e os dois primeiros passavam) sequer foi citado. O episódio irritou o capitão Givanildo. Resultado: Santa 3x1, classificado em primeiro, com vaga numa das semifinais do brasileiro.

O Santa agora enfrentava o Cruzeiro, em um jogo, no Arruda, com a vantagem do empate. Mas quis o destino (e o árbitro) que o Mais Querido não fosse para a final e a libertadores do ano seguinte. A derrota por 3x2, com um gol no último minuto, não apagou a belíssima campanha que Givanildo fez com o Santa. O desempenho dele era o que faltava para mostrar ao Brasil o outro Topo Gigío, não apenas o ratinho da TV.
Surgiu o interesse do Grêmio e a convocação para a Seleção. Em agosto de 76, Givanildo atuou no amistoso Santa 2x0 Benfica, que seria na verdade um “até logo” . Dias depois, o Santa vendeu seu passe para o Corinthians por CR$ 2,5 MILHÕES, além da vinda do meia Vicente para a Cobra Coral. No clube paulista, ficou o tempo suficiente para tirar o time da “fila” de 22 anos, e, porque sua filha foi atingida pela poluição paulista, decidiu voltar ao Santa por CR$ 1,5 milhões.

Com a volta de Givanildo, veio o bicampeonato pernambucano e a segunda melhor campanha do Santa em brasileiros. No ano de 78, o tricolor estabeleceu uma marca imbatível até hoje: 27 jogos sem perder no campeonato. O Santa só perdeu nas quartas, contra o Inter. Depois dessa boa exibição, houve o convite para a excursão ao Oriente Médio e à Europa, onde o Santa saiu com o título de Fita Azul do Brasil, pois foram 12 jogos e nenhuma derrota.
Givanildo participou e foi peça fundamental em alguns dos grandes feitos do Santa Cruz. A passagem pelo Mais Querido se encerra no ano de 79, já com 31 anos, e, por conta disso, sem tanta confiança da diretoria. Ele acabou se transferindo para o Fluminense e encerrou a carreira no Sport, o que não mancha de forma alguma sua brilhante carreira.




GIVA NA SELEÇÃO
Atuando fora do eixo Rio - São Paulo, Givanildo foi convocado para a Seleção Brasileiro pela primeira vez em janeiro de 76. O garoto da Vila Popular iria estar ao lado de Zico, Rivelino, Nelinho, entre outras feras, na Taça Atlântico, sob o comando de Oswaldo Brandão. Naquela época, o Santa Cruz tinha seus jogadores bastante requisitados pela seleção. Aconteceu com Levir, Carlos Alberto Rodrigues, Santos, além do goleiro Picasso que já tinha passagem pelo time do Brasil. Mais tarde foi a vez de Nunes.




No começo, Giva só fez esquentar banco. Após a Taça Atlântico, ele foi convocado novamente, agora para o Torneio Bicentenário, sendo o único nordestino na relação. Entrou no decorrer de uma partida no lugar de Falcão. A sua atuação rendeu alguns comentários. “Givanildo jogou sério e não pode sair do time”, afirmou João Saldanha. O ex-jogador Gérson também comentou: “se Brandão mantiver o volante do Inter, é porque está o protegendo”. Na final do torneio, contra a Itália, Brandão manteve Givanildo no banco de reservas. Mas, com o fraco desempenho e o empate (1x1), o técnico se viu obrigado a sacar Falcão, no intervalo. E o volante tricolor mudou a cara do jogo, dando um passe para Zico selar a vitória brasileira por 3x1. Após essa competição, Revista Placar publicou suas conclusões, com Giva na capa: “Givanildo, Gil, a certeza de que Luís Pereira é necessário, a lição de que é preciso se organizar melhor – isso foi o que Brandão tirou de mais importante desta excursão da Seleção”.




A imprensa mexicana o chamava de “El incansable Givanildo”. Cerca de 5 mil pessoas foram ao Aeroporto Internacional dos Guararapes para homenagear o craque pernambucano. O Santa aproveitou o momento. O cachê cobrado em amistoso custaria CR$ 100 mil. O ciclo de Givanildo na seleção se encerrou em fevereiro de 77, quando ele já aspirava a possibilidade de participar da Copa de 78, na Argentina. A ausência dele se deu por conta da saída de Oswaldo Brandão. O novo técnico seria Cláudio Coutinho, que tinha forte ligação com o futebol carioca. Coutinho dizia que o estilo de jogo de Givanildo não se enquadraria na sua filosofia de trabalho. Desculpa esfarrapada, já que se tratava de um jogador que se destacava pela disciplina tática.




"Com Givanildo, o jogo sai mais rápido, os toques são feitos de primeira, envolvendo o adversário, tirando-lhe tempo para pensar e defender. Sem ter medo de ficar com a bola, sem ela lhe queimar os pés, Givanildo dificilmente dá dois toques antes do passe e sempre o faz com precisão."



Análise da Revista Placar após a participação de Givanildo na seleção.







Fontes: Givanildo - uma vida de luta e virótias (Marcelo Cavalcante), Revista Placar e Campeonato Pernambucano (Carlos C. Cordeiro e Luciano Guedes Cordeiro)

o camisa 5 - parte 1




GIVANILDO

Givanildo José de Oliveira

Nascimento: 8/8/1948, em Olinda

Posição: Volante

Carreira: Santa Cruz (1968/76 – 1977/79), Corinthians (1976-77), Fluminense (1980) e Sport (1980/83)

Títulos: Campeão pernambucano em 69, 70, 71, 72, 73, 76, 78, 79, 80, 81, 82 (os três últimos pelo Sport). Campeão da Taça Atlântico e do Torneio Bicentenário em 76 (pela Seleção Brasileira). Campeão Paulista em 77 (pelo Corinthians). Vice-campeão Brasileiro em 77 (pelo Corinthians).

Marcas:
Durante o pentacampeonato (69/73), Givanildo disputou 113 partidas como titular, contabilizando 89 vitórias, 17 empates e sete derrotas. Marcou 11 gols nesse período.



No ano de 2000, a editora Abril lançou o Guia dos Craques – “Os grandes jogadores do Brasil e do Mundo”, do jornalista Marcelo Duarte, e Givanildo se faz presente vestindo a camisa do Santa, dividindo o selo dos 100 melhores com Pelé, Jairzinho, Cruyff, Maradona...





Características: No início, atacante que ajudava na marcação. Ao ser recuado, tornou-se num grande operário. Corria o tempo inteiro, tinha bom passe, visão de jogo e roubava bola, ou seja, foi um típico armador. Era um futebol simples, no entanto, bonito de se ver. Apesar da timidez fora de campo, transformava-se em líder dentro das quatro linhas.


Estréia pelo Santa: 31/7/1968, Alecrim 0x6 Santa Cruz, válido por um torneio amistoso, disputado em Natal, que ainda tinha ABC e América.

Curiosidades: Passou parte da carreira atuando na ponta-esquerda (atacante). Porém, na decisão do Pernambuco de 70, Duque escalou Giva no meio-campo, no lugar de Erb. O Topo Gigío, apelido de Givanildo, se tornou o motorzinho e o responsável pela saída de jogo do time, mas a permanência na cabeça-de-área ainda era uma eventualidade. Apenas em 1973, com Paulo Emílio, é que Giva foi efetivado como volante.
Hoje: Técnico de futebol desde 1983. Foi campeão pernambucano pelo Santa em 2005 e vice-brasileiro da Série B no mesmo ano.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O homem que mudou o Santa Cruz

Olá, tricolores.

Este blog nasce com a intenção de preservar e reverenciar os grandes ídolos do Santa Cruz.

O objetivo é manter vivos os heróis que glorificaram o nome do Mais Querido. A passagem deles pelo Santa será destrinchada, estudada e debatida por vocês.


E o primeiro personagem é o homem que deu o primeiro título ao Santa Cruz, Tará.



TARÁ

Humberto de Azevedo Viana

Nascimento: 1914

Posição: Center-forward (centroavante)

Carreira: Mocidade de Beberibe (1929), Atheniense (1930), Santa Cruz (1931/42 - 1948), Náutico(1943/47)

Títulos: Campeão Pernambucano em 1931/ 32/ 33 (os três primeiros da história do Santa), 1935, 1940 e 1945 (esse pelo Náutico).

Marcas: Artilheiro dos campeonatos de 1938 (25 gols), 1940 (20 gols) e 1945 (28 gols – pelo Náutico). Em 1945, no jogo Flamengo do Recife 3x21 Náutico, Tará marcou 10 gols. Fez gol de bicicleta antes de Leônidas, que marcou o seu na Copa de 38. Fez um gol do meio-de-campo, contra o Náutico (o goleiro era Djalma).

Características: Não se contentava em vencer, só saía de campo satisfeito se deixasse sua marca. Era baixo, mas fazia muitos gols de cabeça e, principalmente, de “virada”. Considerado um centroavante nato. "Meu estilo era um misto de rompedor e técnico" (depoimento dado a Folha de Pernambuco, em 29 de novembro de 1998).

Estréia pelo Santa: Setembro de 1931, Santa Cruz 2x2 Íris (não marcou). Seu primeiro gol aconteceu na partida seguinte, contra o Flamengo do Recife, na vitória por 3x1. E fez logo dois.

Curiosidades: Em uma determinada época jogou ao lado de quatro irmãos no Náutico (Orlando, Isaac, Gérson e Roldan).


Possui uma música em sua homenagem:

Mestre Tará (Samba de Bráulio de Castro)

Depois de Garrincha e Pelé/ Vou te falar/ O maior do mundo foi Tará/ Mestre Tará
Não havia teipe/ Pra registrar seu futebol/ Mas o jornal diz que ele/ Marcou dez vezes, num jogo só/ Driblava até o goleiro/ E fazia de calcanhar/ O maior do mundo foi Tará
Era um Deus nos acuda/ Jogando com Siduca/ Deixava qualquer defesa/ Adversária, lelé da cuca/ Driblava até o goleiro/ E fazia de calcanhar/ O maior do mundo foi Tará








Em 1940, contra o Sport, eterno rival, Tará faz um golaço decisivo para a conquista do campeonato daquele ano, o quinto do Santa. Depois, em 46/47, o Santa seria bicampeão.


Tará é considerado, pelos mais antigos, o maior jogador da história de Pernambuco. Há quem diga que o Santa Cruz tem duas fases: antes e depois de Tará. Tanto é, que antes dele, o Santa não havia conquistado nenhum título estadual, e depois do ídolo, O Mais Querido arrematou logo um tri-campeonato. Ele foi convidado a jogar no Rio de Janeiro (Fluminense e Vasco o procuraram), mas era a época do amadorismo e Tará preferiu dar preferência à carreira militar, recusando as propostas dos clubes cariocas. Participou da Seleção Pernambucana e estava no memorável jogo contra a seleção baiana, em 1945, pelo Campeonato Brasileiro, que Pernambuco venceu por 9x1 (Tará fez três). Infelizmente brigou com um diretor tricolor e foi para o Náutico, onde seu irmão Orlando, o pingo de ouro, atuava. Mas, em 1948, voltou ao tricolor para encerrar a carreira no clube de coração.







“Não joguei lá (Rio de Janeiro) porque não quis. Gentil Cardoso esteve no Recife e tentou me convencer a ir para o Fluminense. Não aceitei, pois fazia o curso para oficial. Outra vez, depois de um treino da seleção de Pernambuco, em São Januário, recebi convite do Vasco.”


Depoimento dado a um especial da Revista Placar em 1979.







PS1. Em pesquisa da Revista Placar, em 1999, Tará foi escolhido pela crítica o grande craque do Santa, no século XX. O levantamento foi realizado de duas formas: o voto da crítica, onde dez pessoas, entre jornalistas e conselheiros do clube, votavam nos melhores jogadores, e o júri popular, que foi feito através da internet e qualquer um pôde escolher. Tará recebeu cincos votos contra dois de Luciano Veloso, dois de Ramón e uma indicação de Mazinho. Na internet, Givanildo foi o eleito.



PS2. De acordo com uma reportagem especial da Folha de Pernambuco, em novembro de 1998, Tará disputou 102 jogos e fez 80 gols pelo Santa, apenas no período de 38 a 42 - não há informações seguras do período anterior. Na época da matéria, Tará, que dedicou o resto da sua vida à carreira militar, tinha 84 anos. Quem tiver mais informações sobre o que aconteceu com ele após a matéria, por favor, compartilhe conosco. Acima, foto publicada na reportagem do jornalista Leonardo Guerreiro.

PS3. Segundo o tricolor Júlio Vila Nova, Tará faleceu, ao 86 anos, de ataque cardíaco, no dia 7 de setembro de 2000, no hospital da Polícia Militar, no Recife. Valeu pela informação, Júlio.

PS4 (atualizado em 29/08). Tará é o maior artilheiro da história do Santa Cruz, com 198 gols contabilizados até 1940, de acordo com matéria do Diário de Pernambuco de 03/02/2004. Como ele marcou 80 vezes só no período de 38 a 42 e voltou ao clube em 48, presume-se que ultrapassou a marca dos duzentos gols. O segundo maior artilheiro é Luciano Veloso com 175, seguido por Ramon com 146 gols.


Fontes: Conheça o Santa Cruz (Fascículos em comemoração aos 55 anos do clube), Eu Sou Santa Cruz de Corpo e Alma (Mário Filho), Santa Cruz - As maiores torcidas do Brasil (especial da Placar de 1979) e Campeonato Pernambucano - 1915 a 1970 (Carlos Celso Cordeiro e Luciano Guedes Cordeiro).