domingo, 14 de outubro de 2007

O cabelo de fogo - parte 2

1978 - Joel Mendes, Carlos Barbosa, Givanildo, Paranhos, Pedrinho, Alfredo Santos, Fumanchu, Betinho, Nunes, Wilson Carrasco e Joãozinho.


NUNES NO SANTA

Nascido em Feira de Santana (BA), Nunes, o Cabelo de Fogo, começou a fazer gols no Fluminense baiano. Aos 14 anos, se mudou para o Rio de Janeiro e ingressou no juvenil do Flamengo, mas, ao estourar a idade de juniores, foi descartado pelos diregentes rubro-negros. No Confiança de Aracaju, o atacante se profissionalizou e o Santa, atento, logo contratou o jogador que viria a ser um dos grandes goleadores do Tricolor e o de maior projeção na história do clube em termos de Seleção Brasileira.

A estréia aconteceu num clássico das multidões, no finalzinho do Pernambucano-75, em jogo válido pelo 3° Turno. No memorável Brasileiro-75, no qual o Santa foi semifinalista, a melhor campanha de um time pernambucano na competição e a primeira vez que um nordestino chegava a tal fase, Nunes, ainda um jovem de 21 anos, teve participação discreta na campanha, marcando dois gols. A concorrência com Ramon, artilheiro do Brasileiro-73, era desleal. Ao lado de Fumanchu, Ramon foi o goleador do Santa com oito gols. O primeiro e único título do Cabelo Fogo pelo Santa seria o bissuper, em 76.

Naquele ano, as três torcidas estavam empolgadas, porque, além do Santa(4° colocado), Sport(11°) e Náutico(13°) tiveram boa participação no campeonato nacional de 75. O rubro-negro, de Dario, artilheiro do certame com 30 gols, levou o primeiro turno; o Santa, sem Ramon e Fumanchu negociados, faturou o segundo e o Náutico surpreendentemente ganhou o último turno. Antes de chegar no supercampeonato, porém, grandes goleadas, como a de 11x0 frente ao Íbis, com 7 gols de Volnei, e especialmente os 5x0 no Sport, onde Nunes marcou aos 45 segundos, justificando o apelido de "atacante invisível", marcaram a campanha do Santa. Na decisão entre os três grandes, Santa e Náutico venceram o Sport, por "apenas" 2x0 e 1x0 respectivamente. No jogo mais aguardado do campeonato, o Tricolor fez de novo 2x0 num Arruda abarrotado. Cerca de 62.711 pessoas compareceram ao Colosso, isso porque na época só existia o anel inferior e a polícia proibiu a entrada de mais torcedores. Nunes marcou o gol que abriu caminho para a vitória e nas palavras de Waldemar Carabina, técnico do Náutico, "foi um gol incrível, não havia condições dele fazer". Mesmo isolado, lutando contra dois zagueiros (Sidclei e Geraílton) num momento de pressão do timbu, ele deixou sua marca, embora nem fosse necessário, pois o Santa jogava pelo empate. Jadir, prata-da-casa, fechou o caixão. Um fato curioso é que essa conquista foi a primeira de Ênio Andrade como técnico de futebol. Nunes, por sua vez, não poupou nas promessas: viajou até Salvador para pagar promessa ao Senhor do Bonfim e depois partiu rumo a Aracaju a fim de "quitar a dívida" com Santo Antônio, enqüanto os outros jogadores mantiveram a tradição de ir ao morro da Conceição, no Recife mesmo. Ao fim do campeonato, Nunes, mesmo ausente de alguns jogos devido a uma contusão, contabilizou 14 gols em 28 jogos.


Após o Bissuper, grandes campanhas do Santa em Brasileiros marcaram a passagem de Nunes. Em todas elas, chegando muito próximo de alcançar a fase semifinal. A perfomance mais fraca (11°) do tricolor enqüanto Nunes esteve no Arruda aconteceu justamente quando todos estavam eufóricos com a conquista de mais um título estadual. No Brasileiro-76, tudo transcorria bem, o Mais Querido caminhava a passos largos em direção às semifinais, mas na última fase de grupos, o Santa não ficou entre os dois melhores que se classificavam para tal fase. No decorrer do campeonato, a ausência de Givanildo -vendido ao Corinthians -era sentida, e uma goleada sofrida contra o Inter, que viria a ser bicampeão, abalou o grupo. Nunes marcou 9 gols, mas também abriu espaço para Betinho fazer os mesmos 9 gols e ser artiheiro da equipe. Para o Brasileiro-77, o Cabelo de Fogo foi relacionado pela CBD entre aqueles que não poderiam ser vendidos para o Exterior.

Em mais um Brasileirão, a torcida confiava novamente em uma grande campanha, apesar do fracasso do time(3°) no Pernambucano-77, que teve Nunes como artilheiro, bem a frente dos demais. Na primeira fase do certame nacional, um grupo de 10 times, em que cinco passavam, com o Santa terminando em terceiro, atrás de Palmeiras e São Paulo. Destaque para as goleadas frente a Treze (6x0) e CRB (5x1), onde Nunes anotou cinco gols somando os dois jogos. Na fase seguinte, nova classificação, dessa vez em segundo lugar numa chave com cinco clubes. Chega então a última etapa de grupos, de onde só o campeão continuaria, com destino às semifinais. Além do Santa Cruz, Palmeiras, América-RJ, Desportiva-ES, Remo e Operário-MS compunham o grupo, no qual o alviverde paulista era considerado franco favorito. Eis que então, na penúltima rodada, o Palmeiras, atual líder, recebe o Santa no Pacaembu com mais de 62 mil pessoas, e vê sua chance de passar à semifinal praticamente acabar. Com um jogador a menos desde o primeiro tempo, Nunes foi expulso, mas antes já tinha marcado seu golzinho, o Santa não tomou conhecimento do Palmeiras de Jorge Mendonça e fez 3x1 com mais dois de Fumanchu, que voltara ao Santa junto com Givanildo. Enqüanto isso, no Rio, o Operário vencia o América-RJ e se transformava no principal concorrente à vaga. Na última rodada, os dois jogavam em casa, Santa x Remo e Operário x Palmeiras, o Mais Querido tinha vantagem, 8 pontos contra 7, mas, naquela época, vitória com diferença igual ou maior de dois gols valia três pontos. Jogando sem Nunes, suspenso, o Santa vencia por 2x0, resultado que lhe garantia a classificação, enqüanto que o Operário também ganhava pelo mesmo placar. No entanto, relembrando 75, quando o Santa sofreu um gol no "apagar das luzes" e viu a final do campeonato escapar entre os dedos, um gol de Mesquita, a favor do Remo, aos 43 minutos do 2° tempo, fez com que os dois terminassem empatados em pontos, com o Operário levando vantagem no saldo, dois a mais. Um fato triste, mas que não apaga mais uma campanha memorável, projetando Nunes de vez no cenário nacional. Na Bola de Prata da Placar, Lula (quarto-zagueiro), Givanildo (médio-volante) e Fumanchu (ponta-direita) ficaram em segundo, sexto e quarto, nas suas respectivas posições, além de Nunes ter sido o terceiro como centroavante.


Por fim, o Brasileiro-78, disputado no primeiro semestre, onde o Santa estabeleceu uma marca imbatível até hoje. Foram 27 jogos seguidos sem perder. A primeira derrota só veio acontecer nas quartas-de-final, para o Inter de Porto Alegre, eliminando o clube pernambucano, que ficou na quinta posição. Nunes esteve em campo em apenas 12 oportunidades, por causa da Seleção, deixando sua marca 11 vezes. Média de quase um gol por partida. Ao lado dele, Fumanchu e Joãozinho, advindo do mesmo Confiança do Cabelo de Fogo, formaram uma das melhores linha de frente de toda história do clube das multidões.
Com o fim do Brasileiro, no dia 30/08, Nunes, que foi comprado por 320 mil cruzeiros após os tricolores vencerem a concorrência de Vasco e Náutico, foi vendido junto com Luiz Fumanchu ao Fluminense por 11 milhões de cruzeiros. Assim, acabava a relação do Santa Cruz e um dos artilheiros que mais deixou saudades na torcida e que mais tarde brilharia no clube mais popular do país.

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