quarta-feira, 21 de maio de 2008

A estrela negra tricolor - parte 1

Foto: Diario da Manha
Sebastião Virada

Sebastião Luiz de França

03/09/1901, Palmares (PE)

Posição: Centro-médio (zagueiro)

Clubes: Íris, Santa Cruz (1925-30 e 1932-34) e Encruzilhada (1930-32)

Títulos: Pernambucano (1932 e 1933)

Marcas: Pela seleção Pernambucana, Sebastião disputou os campeonatos brasileiros de 1929, 31 e 34, participando de quatro vitórias e três derrotas. Por Pernambuco, teve a missão de marcar Artur Friedereinch, primeiro grande craque da história do futebol brasileiro e o jogador mais difícil que enfrentou, segundo o próprio Sebastião.

Características: Exímio roubador de bolas. Considerado, às vezes, um jogador viril, era preciso na defesa, apesar da baixa estatura. Além disso, usava a inteligêngia na hora de distribuir "o jogo".

Estréia pelo Santa: (informação obtida graças ao trabalho do pesquisador Carlos Celso Cordeiro)
07/06/1925 - Campeonato Pernambucano Local: Av. Malaquias Santa Cruz 3x3 América

Curiosidades: # A bola do jogo Santa Cruz 7x0 Sport (15/04/1934) foi guardada e posteriomente doada por Sebastião Virada à sala de trófeus do Mais Querido.
Foto: Marcos Velloso


#No início da década de 1970, Sebastião Virada passava por uma situação difícil: sem parentes, dinheiro, lugar para morar e no anonimato. Mas, perto do ídolo completar 70 anos de idade, o Santa Cruz aparece de novo na vida dele, oferecendo-lhe o Estádio do Arruda, ainda em obras, como moradia. O seu quarto ficava abaixo das sociais e bastava abrir a porta para assistir a qualquer partida que estivesse acontecendo. O clube ainda pagava uma ajuda de custos semanalmente ao ex-jogador.

Foto: Diario de Pernambuco

O Arruda era literalmente a casa de Sebastião, em 1970.



#Em 1929, o centro-médio coral chegou a ser cogitado para a Seleção Brasileira e para uma excurssão do Vasco da Gama. A CBD ameaçou convocar jogadores da Bahia e Pernambucano depois que os paulistas reivindicaram uma ajuda de custo para atuar na Seleção. Virada teve o seu nome lembrado. No fim, paulistas e confederação entraram em acordo.
No mesmo ano, o zagueiro deixou de viajar
à Europa com o Vasco devido à precariedade de tempo na obtenção dos documentos necessários. Antes da viagem, os vascaínos treinaram no Recife e bateram o Santa, de Sebastião, por 3x1. Um dirigente carioca o procurou, mas o período de permanência do navio no Recife era curto demais.

Hoje: Informação desconhecida. Por favor, quem souber pode nos ajudar divulgando-a.

A estrela negra tricolor - parte 2

Foto: Diario da Manha
Tricampeões (1933) - João Martins, Zezé Fernandes, Sebastião Virada, Tará, Estevão, Diógenes e Lauro...



Foto: Diario da Manha
...Ernani, Carlos Benning, Sherlock, Marcionilo, Limoeiro, Walfrido e Dadá.

No início do século 20, o preconceito racial ainda persistia forte, apesar da abolição da escravatura, em 1888. Mesmo com alguns movimentos negro explodindo pelo País, o futebol era um retrato da discriminação. O esporte mais popular do mundo, em especial, era declaradamente racista, a ponto do então presidente da República Epitácio Pessoa, formado na Faculdade de Direito do Recife, recomendar que não se incluíssem mulatos na Seleção Brasielira que disputaria o Campeonato Sul-Americano de 1921, em Buenos Aires. Ignorando o fato de o esporte ser praticado pela elite branca, o Santa Cruz Futebol Clube, já ao nascer, em 1914, quebrou paradigmas.

Teófilo Batista de Carvalho, o Lacraia, foi um dos fundadores do Mais Querido, idealizador do escudo do Santa e principal fator para que a cobra-coral ganhasse adpetos de cor negra. Sebastião Virada seria o primeiro ídolo negro da massa antes mesmo da profissionalização do futebol na década de 1930. Para se ter uma idéia da ousadia e nobreza do tricolor, o rival Náutico só veio contratar um profissional negro em 1960, sendo o renomado técnico Gentil Cardoso, campeão pelo Santa 1959, enquanto o Grêmio de Porto Alegre proibia, nos anos 50, negros de vestir a camisa do time.

Sebastião Virada foi descoberto em 1925 por Ilo Just, outro grande nome da história coral, ex-goleiro, técnico e diretor de esportes. O center-half defendia o Beza, um time formado por gazeteiros, num jogo contra o Íris, onde Ilo era goleiro. Vale lembrar que na época o Íris não integrava a primeira divisão e, por isso, Ilo jogava tanto pelo Santa como pelo time suburbano. Dessa partida surgiu o convite para Sebastião treinar no Mais Querido. De acordo com um livro comemorativo dos 55 anos do Santa Cruz, o diálogo entre os dois teria acontecido da segunte maneira:
-Gostei de ver você jogar, Sebastião. Quer ir para o Santa Cruz, eu lhe levo.
-Lá não há lugar para mim.
-Estamos precisando de um center-half.
-Lá fazem questão de cor e eu sou preto.
-Esse negócio de cor não existe lá. O que o clube quer saber é da educação da pessoa.

E assim, ressabiado com um possível preconceito racial, Sebastião chegou ao Santa.

Em setembro de 1926, em partida amistosa, nos Aflitos, o Santa enfrentava o Ypiranga, time tradicional da Bahia e campeão do seu estado um ano antes. Esse jogo ficou marcado porque a partir dele a expressão "virada" é incorporada ao nome Sebastião. Ele foi o reponsável pela vitória coral por 1x0, num sensacional gol de "virada". No lance, Joaquim Português, do Santa, chutou mal, pegando Sebastião de surpresa que voltava para o meio de campo. Num rápido giro e um forte chute de esquerda ele definiu o placar do amistoso. A torcida logo o apelidou de Sebastião Virada. Esse triunfo sobre a equipe baiana foi um dos mais importantes nos primeiros anos de vida do Santa Cruz, ao lado da vitória diante do Botafogo, em 1919. As vitórias contra os baianos eram muito festejadas.

Em 1930, uma notícia deixou a todos perplexos. Não me refiro à Revolução (ou golpe) de 1930, liderada por Getúlio Vargas e que pôs fim à República Velha, a da política café (SP) com leite (MG), e sim a saída de Sebastião do Santa. Ele foi convidado pelo Encruzilhada, um clube novo no Pernambucano e que estava apenas na sua segunda participação no estadual. A transferência foi muito badalada por que ele recebeu um conto de réis, maior valor ganho por Virada como jogador. Na época, a estrela negra tricolor trabalhava como pedreiro. Seu time terminou na terceira posição no Pernambuco-30. No ano seguinte, em 1931, ele continuou no clube do bairro vizinho ao Arruda e, por isso, não participou do primeiro título Pernambucano do Santa Cruz. Entretanto, Sebastião retornou ao tricolor a tempo de conquistar os títulos posteriores.

No campeonato estadual-1932, a Federação decidiu inovar no sistema de disputa, tal como no Pernambucano deste ano, um desastre de organização. Os onze clubes foram divididos em dois grupos, conhecidos por séries azul e branca. Enfrantando-se apenas dentro de suas chaves, os campeões de cada grupo se encontravam na melhor-de-três que decidiria o campeonato. O Santa venceu a série branca e o Íris, levando a melhor sobre Náutico e Sport, conquistou a série azul. Nas finais, foram duas vitórias tricolores por fáceis 4x1. No segundo jogo da decisão, o Diario da Manha considerou que o Santa Cruz fez muitas faltas, sendo Sebastião o mais violento. Curiosamente, de acordo com o próprio jornal, o Mais Querido cometeu sete infrações, número baixíssimo para os padrões atuais do futebol brasileiro.

Sob o comando do diretor técnico Ilo Just, o bicampeonato foi conquistado de maneira brilhante, afinal, o Santa venceu todos os seus doze jogos, 100% de aproveitamento. Melhor ataque da competição, com 51 gols - média de 4,25 gols por partida -, defesa menos vazada, 13 vezes, e, possivelmente, o artilheiro do estadual - Lauro com 14 gols (a precariedade de registros impede a afirmação nesse quesito). Em mais da metade dos confrontos, o clube do povo venceu goleando os adversários: 8x0 no Israelita, 5x1 no Great Western, 4x1 no América, 6x1 e 8x2 no Fluminense do Recife, além dos 4x1 (duas vezes) na decisão do campeonato contra o Íris.



Foto: Diario da Manha

Notinha sobre o internamento de Sebastião que demonstra um pouco da importância do jogador, em 1932.

Não menos sensacional foi a conquista do primeiro tricampeonato da história tricolor - 13 vitórias, dois empates e uma derrota. No Pernambucano-1933, a Federação manteve o regulamento que dividia os clubes em dois grupos e cruzava o campeão de cada chave, mas, dessa vez, separou os grandes dos suburbanos. Em outras palavras, quem vencesse a série azul, chave de Santa, Sport, Náutico e América, praticamente ficaria com a taça do estadual. E foi o que aconteceu. A cobra-coral liderava o seu grupo até a penúltima rodada, quando foi derrotada pelo Náutico (1x0). O Sport, por outro lado, venceu e assumiu a ponta justamente faltando um jogo. Para azar do rubro-negro, seu adversário seria o Santa Cruz na última rodada.


O Diario de Pernambuco destacava a defesa tricolor: "Diógenes, Martins e Sherlock formam uma grande potência pela colocação e destreza nas suas jogadas. Zezé Fernandes, Sebastião e Marcionilo são médios admiráveis e fortes que defendem magnificamente e distribuem com uma felicidade desconcertante." Domingão, dia da decisão do campeonato, como os próprios jornais consideravam, a Avenida Malaquias, campo do rival, superlotada (8.000 pessoas) e o Sport levando a vantagem do empate. Para piorar, o leão larga na frente, mas, através de Limoeiro vem o empate do Santa. No 2° tempo, Tará deu a vitória ao Terror do Nordeste ao marcar duas vezes. Zezé Fernandes, no entanto, resolveu debochar dos jogadores do Sport e sentou na bola, o que resultou numa falta que originou o segundo gol do adversário, inútil por que não havia mais tempo para nada. Com o triunfo por 3x2, o Santa Cruz enfrentou o Varzeano na decisão, de fato, do campeonato. Comandado pelo "entraineur" Júlio Fernandes, o clube conquistou o tri ao vencer o time suburbano duas vezes por 5x2.

Virada esteve 23, dos 28 jogos - um deles o Santa venceu por WO -, que o tricolor disputou nos campeonatos de 32 e 33. Com ele, foram 20 vitórias, dois empates e uma derrota. Outros jogadores mereceram destaque: Diógenes (bicampeão), Sherlock (capitão e tri), Zezé Fernandes (tri), Tará (tri), Lauro (tri e artilheiro do Santa com 32 gols nos três estaduais), Limoeiro (campeão) e Walfrido (tri). No tricampeonato (1931-32-33), a equipe venceu 33, empatou três e perdeu apenas duas vezes. Foram 162 gols a favor e 46 contra, gerando um saldo positivo de 80 e uma média de 3,3 gols por partida.


Esquipe base do Santa Cruz, armada no esquema WM, que conquistou o tricampeonato (1931-32-33).

O ano seguinte ao tricampeonato também pode ser considerado um ano glorioso, apesar da derrota para o Náutico na final do estadual por 2x1. Em 1934, duas vitórias entraram para sempre na história do Santa Cruz. Em 15 de agosto, na Av. Malaquias, Sport e Santa Cruz escreviam mais um capítulo da rivalidade dos Clássico das Multidões. Na liderança, o arquiinimigo coral vinha de um empate diante do Náutico, enquanto o tricolor, segundo colocado, havia sido derrotado pelo Íris (1x0). O jogo era muito aguardado pelas duas torcidas que lotaram as arquibancadas da Av. Malaquias. Brilhantemente, o Santa estabeleceu a maior goleada do confronto, 7x0!!! 4x0 só no 1° tempo. Lauro (2), Tará (2), Carlos, Limoeiro e Estevão - esse não iniciou o jogo, mas substituiu algum jogador não identificado - marcaram os gols. "Sebastião foi um eixo eficiente e seguro" do time. Pelo lado rubro-negro, Diógenes, ex-Santa, decepcionou. Dadá, Marcionilo e João Martins; Zezé Fernandes, Sebastião e Ernani; Walfrido, Limoeiro, Tará, Lauro e Carlos foram os titulares dessa memorável partida.

Foto: Diario de Pernambuco

Dois instantes de Santa 7x0 Sport, em 1934.


A segunda vitória inesquecível aconteceu em outubro. O Santa Cruz venceu a Seleção Brasileira, que excursionava pelo País após a Copa na Itália. O time do gênio Leônidas da Silva não foi páreo e saiu derrotado por 3x2 - gols de Zezé (2) e Sidinho para o Mais Querido, e Patesko e Waldemar de Brito pelo Brasil. Machucado, Sebastião deu lugar a Furlan. O ídolo negro havia de partipado do primeiro jogo entre as duas equipes onze dias antes, quando a Seleção fez 3x1. Apenas três clubes no mundo foram capazes de vencer o escrete canarinho até hoje - Flamengo, Atlético-MG e o Santinha, claro.

O ídolo negro encerrou a carreira de maneira precoce. Seu último campeonato pelo Santa Cruz foi o de 1934. Sebastião penderou as chuteiras mais cedo, aos 33 anos, porque ele não quis se submeter a uma cirurgia no menisco. Com medo de sofrer as consequências de uma operação mal feita, situação que acontecia com certa freqüência na época, o zagueiro preferiu abandonar o futebol. "Os médicos do clube cuidavam do atleta, porém, na maioria das vezes as contusões e os problemas de saúde eram cuidados pelo próprio jogador", disse Virada ao DP.

Da época em que se jogava por amor ao esporte, Virada tinha seu apelido ecoado pelos estádios do Recife. Disclipinado, raçudo e pobre, o negro Sebastião é o símbolo batalhador e persistente do Santa Cruz. Assim como aconteceu com Lacraia, Sebastião Virada representou o talento e a imagem dos excluídos por causa da cor da pele. No clube do povo, ele se tornou o primeiro ídolo negro.



"O jogador trabalhava a semana inteira. No sábado ainda ficava acordado até meia-noite. No domingo, pela manhã, batia bola para jogar oficialmente à tarde. Geralmente, o jogador quando entrava no time recebia a promessa de que arranjaria emprego. Enquanto estivesse desempregado recebia gratificações pelas vitórias."

Sebastião Virada falando sobre o tempo do amadorismo ao Diario de Pernambuco, em 1970.




Fontes: Livros: Conheça o Santa Cruz - 55 anos de glórias, 85 anos de bola rolando (Givanildo Alves), Campeonato Pernambucano - 1915 a 1970 (Carlos Celso Cordeiro), Diario da Manha, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio e as seguintes páginas na internet:
http://www.blogdosantinha.com/idolos-do-passado/arruda-1970-a-foto-de-uma-lenda/
http://www.scielo.br/pdf/ea/v13n37/v13n37a09.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Epit%C3%A1cio_Pessoa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Negro

quarta-feira, 12 de março de 2008

A Maravilha do Arruda - parte 1

LUCIANO

Luciano Jorge Veloso
13/09/1948, Pesqueira (PE)

Posição: Meio-campista

Clubes: CRB (1965), Santa Cruz (1965-75), Sport (1975-76), Corinthians (1977-78), Juventus (1979-1980), Portuguesa (1980-1981), Náutico (1980-82) e Central (1982).

Títulos: Pentacampeão Pernambucano (1969-70-71-72-73), Pernambucano (1975) e Paulista (1977).

Marcas: Artilheiro do Campeonato Pernambuco de 73, com 25 gols. Segundo maior artilheiro do Santa Cruz com 174 gols, em 409 jogos. Quarto maior artilheiro da história dos pernambucanos, marcando 110 vezes, 83 pelo Tricolor, atrás somente de Baiano, Tará e Fernando Carvalheira.


Foto: Diario da Manha

Cena recorrente em 73: comemorando, mesmo que discreto, seus gols.



Características: Preciso nos passes e lançamentos, mas encantava também com os chutes certeiros. Armador clássico que cadenciava bem o jogo.


Estréia pelo Santa:
16/10/1966 - Amistoso
Santa Cruz 4x0 Vera Cruz/Abreu e Lima

Curiosidades:
#Luciano recebeu de presente um curió, pássaro de valor na época, de um torcedor, pelo gol do título no campeonato de 69. Os demais jogadores pediram ao meia que deixasse o animal na concentração do clube, mas ele não se sensibilizou com o apelo: "Não! de jeito nenhum. Vou levá-lo para casa."
#No período em que defendia os juvenis do Santa Cruz, os colegas o chamavam de Dodô. No time, já existia outro Dodô, goleiro. Veio, então, um diretor e decretou que a partir daquele dia o Dodô, de Maceió, seria Luciano e o goleiro passaria a ser Gaião. O nome sugestivo acabou virando motivo de risadas e o arqueiro passou a atender pelo nome de batismo mesmo, Naércio.



Foto: Diario de Pernambuco


Luciano, com 20 anos, e Pedrinho, na comemoração do estadual de 69.



Hoje: Trabalhou, no ano passado, como técnico nas divisões de base do Tricolor. Em 1993, Luciano comandou o Náutico no vice-campeonato pernambucano, perdendo para o Santinha de virada.

A Maravilha do Arruda - parte 2

Foto: Diario de Pernambuco1969 - Pedrinho, Noberto, Zé Júlio, Zito, Birunga e Ary; Fernando Santana, Facó, Mirobaldo, Luciano e Nivaldo.




O Pentacampeonato do Santa Cruz começa, na verdade, quando o milionário James Thorp assume o departamento de futebol do clube. Além de todo o dinheiro do "inglês", como era chamado pelos torcedores, mudou-se a forma de ação. No lugar de jogadores medalhões,vindos do Rio e de São Paulo; investimento na prata-da-casa, valores da região e na estrutura do Mais Querido, construindo uma concentração e ampliando o Estádio do Arruda. Entre os garotos, estava o promissor Luciano, vindo do futebol alagoano.



Embora pernambucano, o meia começou no CRB, com 17 anos, levado pelo irmão Paulo Veloso. No estado vizinho conquistou o título dos juniores no clube regatiano e, num amistoso de entrega de faixas, contra o Santa, acabou sendo descoberto. Seu time perdeu por 3x2, mas Luciano fez os gols do CRB, chamando a atenção do técnico tricolor Batista, que, antes da viagem de volta ao Recife, já havia deixado a passagem do meia com o mesmo destino. Poucos dias depois, aquele que ficaria conhecido como A Maravilha do Arruda, chegava à capital pernambucana.



Foto: Diario de Pernambuco

Outra característica marcante: o famigerado blackpower.


Peça fundamental no título mais importante do Santa Cruz, camisa 10 por vários anos, principal assistente da época e, ainda, fazia muitos gols. Na saga do Penta (69 a 73), Luciano balançou as redes 69 vezes, tornando-se, ao lado de Fernando Santana, o grande goleador desse período. Ainda foi o jogador que mais vestiu a camisa coral no Pentacampeonato, com 126 jogos, do total de 131 do Tricolor, o que representa incríveis 96% das partidas. Especialista também em quebrar longo jejuns de títulos: com o Santa, em 69, dez anos depois da última conquista estadual, no Sport, em 75, doze anos na fila e pelo Corinthians, em 77, na seca há 22 temporadas.

O primeiro treinador no profissional do Maravilha do Arruda chamava-se Alexandre Borges, homem que iniciou o trabalho com os meninos da base. Mas, quem colheu os frutos do campeonato de 69 foi Gradim, outra fera com a garotada. O presidente Aristófanes de Andrade resolveu copiar a idéia do Náutico, montando uma superestrutura que continha psicólogo, nutricionista, assistente social, dentista, e médicos. A folha salarial não era alta, pois possuía basicamente jogadores da região. Dinheiro sobrava, afinal James Thorp estava por perto, chegando ao ponto de presentear cada jogador com um fusca após a confirmação do título de 69. O campeonato se decidiu em quatro(!) partidas contra o Sport, vencedor do 1° turno, enqüanto o Santa levou o 2°. Nos três primeiros jogos, uma vitória Tricolor (3x0), outra leonina (2x0) e um empate (0x0). Na grande final, nos Aflitos, os dois rivais empatavam em 1x1, Facó para o Santa e Duda igualou o placar, quando aos 30 minutos do 2° tempo, Luciano dava a primeira mostra que crescia nas decisões: uma falta cobrada com maestria, no melhor estilo folha seca, fez explodir o povão tricolor, sedento por troféus. Ele terminou o estadual como vice-artilheiro do Santa, com 13 gols, atrás do goleador do Pernambucano-69 Fernando Santana, 23 gols, que, ao lado do volante Zito, do zagueiros Birunga e Zé Júlio e do atacante Mirobaldo, era um dos expoentes da equipe que viria a ser bicampeã em 70 e representante de Pernambuco nos Robertões de 69 e 70.


Foto: Diario de Pernambuco

Umas das 409 partidas de Luciano, ao centro, com a camisa tricolor.


Novamente a jovem dupla de artilheiros se sobressaiu. Santana, primeiro do campeonato de novo, 15 gols e, logo depois, Luciano, com 14. Levando em conta os estaduais de 69 e 70, os dois marcaram 65 vezes, quase metade do que fez o Tricolor - 139 gols. Numa das finais do bicampeonato, agora, frente ao Náutico, A Maravilha do Arruda mais uma vez mostrou seu poder de decisão. Depois do empate - 0x0 - no primeiro jogo, o Santa fez 2x1 no alvirrubro, dois gols de Luciano, tranqüilizando os torcedores e o time para o último confronto. Outra vitória, 2x0 - Cuíca e Ramon -, deu ao Santa o histórico primeiro título no Arruda. O futebol do esquadrão do novo técnico Duque era considerado moderno, com todos cobrindo todos e revezando-se nas posições. O meio-de-campo formado por Zito e Luciano se consolidou como um dos melhores do Brasil. Mais tarde, Givanildo e Erb jogariam na posição ao lado da Maravilha do Arruda.


Foto: Revista Placar

Esquema tático para o Robertão-70.




Durante a disputa do estadual de 70, uma grande cheia no Recife provocou a morte de 61 pessoas e inundações nos estádios da capital. Mas, passado o triste episódio, Luciano teve seu valor reconhecido na inclusão de seu nome na lista dos 40 jogadores da Seleção Brasileira para a Copa-70, assim como aconteceria com o atacante Ramon, em 74.

Mantendo o futebol de muita técnica, no qual, quem corria era a bola, e não o jogador, vieram o tri, 71, e o tetra, em 72, nesse, por sinal, o Santa teve os três goleadores do campeonato - F. Santana, 15 gols, o próprio Luciano, 13, e Ramon, com 12. Mas foi no Penta que o meia assumiu a artilharia do estadual - 25 gols -, chegando a marcar em 20, das 36 partidas, e ficando de fora apenas duas vezes. Além desses números, as estatísticas do Terror do Nordeste nos cinco títulos (69 a 73) impressionam: 101 vitórias, 19 empates, 11 derrotas, 333 gols marcados, 71 sofridos, resultando no saldo positivo de 262.


Tamanho destaque do clube e jogador não passaria em branco no sul do País. O Palmeiras chegou perto de levá-lo, mas Luciano disse aos pretendentes que só sairia por muito dinheiro, "mas muito mesmo." Depois, além do meia tricolor, os portugueses tentaram Ramon, mas a proposta do Boa Vista pelos dois foi considerada baixa.



A eficiência do Maravilha do Arruda chamou a atenção também nas competições nacionais. No Brasileiro-73, ele terminou na décima colocação na Bola de Prata, da Revista Placar, atrás de feras como Forlan, do São Paulo, Ademir da Guia, do Palmeiras, e Fito, do Bahia e atual técnico do Santa Cruz. Jogando os Brasileirões, de 71 a 74, pelo Mais Querido, Luciano marcou 34 gols em 96 jogos.


Foto: Diario de Pernambuco


Não chegou a jogar pela Seleção, mas esteve entre os 40 relacionados para a Copa de 70, no México.






No início de 75, já desgastado após dez anos no Arruda, o, então, presidente José Nivaldo, resolveu negociá-lo. A transação com o Sport aconteceu justamente durante o carnaval, a fim de evitar uma revolta da torcida, concentrada na festa anual. O Santa recebeu 600 mil cruzeiros, gastos logo depois com as contratações de Mazinho, o Deus de Ébano, vindo do Grêmio, e Carlos Alberto, ex-São Paulo. Luciano segueria sua missão de tirar da fila alguns clubes importantes no cenário brasileiro. Primeiro, o grande rival tricolor, o Sport, doze anos em jejum, sendo hepta-vice. Em São Paulo, participou de 49 jogos, dos 54, pelo Corinthians no Paulistão de 77, um dos mais emblemáticos da história.

O camisa 10 do Santa Cruz teve muitos treinadores no Arruda - Alfredo Gonzalez, Duque, Evaristo de Macedo, Paulo Emílio, Caiçara, Lanzoninho e, por último, Carlos Froner -, mas nenhum deles ousou a mudar o número de sua jaqueta. Segundo maior artiheiro do Santa Cruz Futebol Clube. É um orgulho para o clube e a torcida ter em Luciano um dos jogadores que mais vestiram o manto Cobra-Coral, com 409 atuações.



"Um dos melhores jogadores da hitória de Pernambuco. "

Relato do Jornalista José Neves ( http://www.arquibancada.blog.br/ )






Fontes: Entrevista com Luciano, Revista Resenha Esportiva, 85 anos de bola rolando (Givanildo Alves), Campeonato Pernambucano (1915-1970 e 1971-2000) (Carlos Celso Cordeiro), Diario de Pernambuco, Diario da Manha Revista Placar e os seguintes sites na internet:

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O endiabrado - parte 1

Foto: Diario de Pernambuco
MARLON

Marlon Roniel Brandão

01/09/1963, Marília (SP)

Posição: Atacante (ponta-direita)
Clubes: Marília (1980-81), Guarani (1982-83), Esportivo-RS (1984), Santa Cruz (1985-86), Sporting-POR (1986-88 e 1989-90), Estrela Amadora-POR (1988-89), Boa Vista-POR (1990-94), Valladolid-ESP(1994-95) e Fênix-EUA (1997).


Títulos: Brasileiro de amadores, pela Seleção Paulista (1983), Pernambucano (1986), Super Taça de Portugal (1987 e 1993),Taça de Portugal (1992).


Marcas: Em jogos oficiais, Marlon fez 33 gols pelo Tricolor. Foram 22 no Pernambucano (doze no de 85 e dez no de 86) mais 11 gols no Campeonato Brasileiro (oito no de 85 e três no de 86). Nos maiores rivais do Santa Cruz, ele marcou 12 vezes, sendo seis no Náutico e seis no Sport.


Foto: Jornal do Commercio


Características: Acima de tudo, driblador. Veloz, de futebol alegre e muitos gols. Além disso, possuía rara habilidade nas jogadas de linha de fundo. Um autêntico ponta que chutava bem com as duas pernas.

Estréia pelo Santa:

10/02/85 - Campeonato Brasileiro
Santa Cruz 0x3 Náutico
Local: Arruda - Público: 8.404 Gols: Nunes (2 vezes) e Baiano.

Santa Cruz - Birigüi, Marco Antônio, Bosco, Jorge e Carlito; Zé do Carmo, Henágio e Carlos Roberto; Gabriel (Marlon), Falcão e Roberto.Téc.: Pedrinho.

Náutico - Pimenta, Heitor, Alfredo Santos, Édson Gaúcho e Hermes; Lourival, Baiano e Manguinha; Porto (Rogério) Nunes e Neto Surubim (Sivaldo).Téc.: Givanildo Oliveira.




Curiosidades:
#Marlon também foi vítima da violência urbana recifense. Na primeira vez, teve o seu carro roubado, em Boa Viagem, por dois bandidos, que o deixaram, juntamente com sua namorada, na Imbiribeira. Poucos meses depois, novamente em Boa Viagem, ocorreu uma tentativa de assalto, onde um tiro foi disparado, atingindo o vidro lateral do automóvel de Marlon, provocando apenas ferimentos leves. Coincidentemente, os dois episódios aconteceram após jogos contra o Sport, nos quais o ponteiro se destacou.

#No início da carreira, Marlon jogava na posição de centroavante. Porém, devido a baixa estatura (1,70m) que dificultava no jogo aéreo, em 1982, quando estava no Guarani, ele foi deslocado para ponta-direita.


Hoje: Empresário de futebol.

O endiabrado - parte 2

Foto: Josenildo Tenório

Lula, Zé do Carmo, Birigüi, Marco Antônio, Ivã e Lotti; Jarbas, Marlon, Neto, Rômmel e Tiziu.


Os ingleses inventaram o futebol. Os brasileiros inventaram o futebol-arte. Enqüanto os europeus usavam da força na prática do esporte bretão, os canarinhos introduziram no esporte uma artimanha que tornava o jogo mais leve, agradável, e, às vezes, engraçado. Surgia o drible. Entre os seus principais apreciadores estava Marlon, camisa 7, jogando numa posição feita sob-medida para os dribladores. Na ponta (direita), ele endiabrou a vida dos laterais-esquerdo (pobre, Luizinho), especialmente os rubro-negros, enlouquecendo a massa tricolor, admiradora de um bom drible. Depois de Marlon, o Clássico das Multidões não ficaria marcado apenas pela rivalidade e a grandeza das torcidas. Os dribles humilhantes se eternizariam na memória do torcedor Cobra Coral e do amante do futebol-arte. Além disso, os gols, um título e a identificação com a torcida, fariam de Marlon, rapidamente, um ídolo do Mais Querido.


Adquirido junto ao Esportivo-RS - por um valor impossível de se entender para um simples mortal, 300 milhões de cruzeiros novos -, o ponteiro tricolor demonstrava logo na estréia que era um jogador diferente dos demais. Apesar da derrota para Náutico (3x0), pelo Brasileirão-85, Marlon, mesmo entrando no decorrer da partida, agradou a todos com a sua habilidade envolvente, tanto que, no jogo seguinte, diante do Vasco, já constava entre os titulares. Nesse Brasileiro, o Santa realizou desastrosa campanha, ocupando a penúltima posição, entre os 44 clubes. Apesar disso, Marlon fez o seu papel, pois foi o artilheiro do Tricolor, com oito gols em 16 partidas, mesmo estreando apenas na quinta rodada. Na luta do Pernambucano do mesmo ano, disputado no segundo semestre, o endiabrado era o alvo preferido dos selvagens zagueiros alvirrubros, inimigos do bom futebol, que acabaram levando o "caneco" de 85. Mas um jogo em especial desse estadual ficaria guardado na lembrança dos corais. "Em meio a dezenas de grandes atuações, neste jogo, decidindo o segundo turno, na Ilha do Retiro, talvez tenha ocorrido sua melhor atuação desde que foi contratado pelo Santa Cruz", publicou o Diario de Pernambuco. Sport e Santa decidiam o 2° turno e Marlon, sem a condição física ideal, levou O Mais Querido à vitória, de virada, com um gol no tempo normal, que terminou 1x1, e outro na prorrogação. O resultado de 2x1 garantiu o título do turno e, conseqüentemente, a vaga na final do campeonato. No estadual, ele anotou doze gols.

Ainda em 85, em julho, realizou-se o jogo Pró-Marlon. Com a aproximação do fim do empréstimo do atacante tricolor, a direção da época resolveu lançar uma campanha, a fim de arrecadar fundos e, dessa maneira, comprar o passe do atleta que pertencia ao Esportivo. O amistoso em si, frente ao CRB, era o de menos, a torcida mostrou sua força, comprando a quantidade de ingressos necessários para aquisação do ponta. Tal comoção entusiasmou Marlon. Em clima de festa, o Tricolor não passou de um empate, 3x3, em que o endiabrado, vindo de contusão, deu lugar a Gabriel, durante a partida.

Foto: Diario de Pernambuco

Marlon em ação na final de 86.

Passado o ano de 85, veio o primeiro e único título com a camisa do Santinha. Sabe-se que o goleiro Birigüi foi o grande nome da decisão de 86, na Ilha do Retiro, em que o arqueiro segurou o 0x0 diante do Sport, garantindo a taça ao Terror do Nordeste. Porém, o craque do campeonato e responsável maior pela presença na final do campeonato foi o endiabrado Marlon. De sua inspiração dependia as atuações do Santa Cruz, tornando-se numa espécie de termômetro da equipe. Dono de um drible rápido e fácil, Marlon terminou o certame como artilheiro do time, com dez gols, quatro a menos que o goleador, Luís Carlos, do Sport.


Na casa do rival, o atacante parecia ficar mais endiabrado ainda. Lá, o Santa conquistou o 1° turno, num empate, dramático, por 1x1, diante do clube mandante. Após mais uma igualdade, dessa vez sem gols, na prorrogação, os dois decidiram nos pênaltis, onde, com Marlon convertendo a sua penalidade, terminou 3x0. Nesse embate, ao sair de campo com três prêmios, por ter sido escolhido pelas rádios como melhor em campo, ele reclamava da violência do lateral adversário, Paulo Silva: "entrou em campo só para me bater e o árbitro tinha que expulsá-lo ainda no primeiro tempo". (O lateral, inclusive, havia sido contratado na semana da partida, vindo a ser dispensado poucos dias depois dela.) Ao longo de sua passagem pelo Santa, Marlon nem sempre suportou as pancadas dos rivais e a complacência dos árbitros, acumulando algumas expulsões por conta de reclamação.


No 2° turno, os rubro-negros vingaram a goleada, por 5x0, dos tricolores pelo mesmo placar no ano de 76. Com a vaga garantida na decisão do estadual, o time relaxou e, naquele jogo, Marlon e Zé do Carmo receberam o cartão vermelho. O técnico Waldemar Carabina foi mandado embora após esse resultado, vindo em seu lugar Moisés, vice-campeão Brasileiro pelo Bangu em 85. A recuperação aconteceu no 3° turno, em que o Tricolor venceu o Sport na Ilha, por 2x0, com gols de Neto e Washington. Mas a decisão do turno ficou por conta de Central e Santa Cruz, em Caruaru, escolhida através de sorteio. Depois do empate por 1x1 no tempo normal e 0x0 na prorrogação, o vencedor foi conhecido após a disputa de pênaltis, onde o Santa fez 5x4, um deles de Marlon. O campeonato, de regulamento confuso, seria decidido numa partida extra e, caso o Sport vencesse, os dois rivais fariam uma melhor-de-três. Novamente o Santa Cruz perdeu no sorteio e a Ilha do Retiro foi o palco da "extra". Birigüi fez milagres e, como o empate bastava, a torcida tricolor comemorou o 19° título. O arisco Marlon e o meia Rômmel se contundiram após as duas substituições permitidas terem sido efetuadas, aumentando a dramaticidade da conquista Coral.



Na reta final do campeonato, Marlon teve de exercer nova função na equipe, solicitada pelo técnico Moisés. Além de permanecer adiantado para receber os lançamentos em velocidade, o ponteiro teria agora de fechar no meio quando o adversário estivesse com a posse de bola. Graças à boa condição física, ele conseguiu aliar as duas funções sem perder o poder ofensivo.


Foto: Diario de Pernambuco

Marlon ajudou o Brasil a se classificar para o Pan-Americano de 1987, nos Estados Unidos.


No Brasileirão, no qual o Santa ficou na 26ª colocação, entre 48 clubes, Marlon ganhou destaque nacional. Foram três gols que lhe valeram uma convocação e uma dor de cabeça aos torcedores. Devido à convocação para a Seleção Brasileira de novos, como era chamada na época, Marlon desfalcou o Santa no campeonato nacional por cerca de 40 dias, ocasionando na queda de rendimento do Mais Querido. O aproveitamento do time era de 50% enqüanto o jogador defendia o Tricolor, que, sem ele, obteve um aproveitamento de 38%. A média de gols também caiu, de 1,07 gols por partida para 0,88. A causa da ausência ficou por conta do Campeonato Sul-Americano, no Chile, em que o Brasil conseguiu a classifição para os Jogos Pan-Americanos de 1987 e Marlon foi titular em três, das quatro partidas do escrete canarinho.

Foto: Edvaldo Rodrigues

Santa Cruz 1x1 Goiás - última vez que a camisa 7 foi vestida por Marlon.


No dia do reencontro com a torcida tricolor, na data de 10 de dezembro, no confronto entre Santa Cruz e Goiás, o que deveria ser um recomeço com a camisa Cobra-Coral, marcou a despedida do ídolo. Poucos dias depois da partida, anunciou-se a venda de Marlon ao Sporting, de Lisboa. O passe do atacante foi negociado por 3 milhões e 500 mil cruzados, sendo 2 milhões à vista e o restante com 30 dias. Ainda ficou acertada uma excursão do Santa a Lisboa, de oito jogos, sendo um deles frente ao Sporting, com o clube português bancando as passagens. Não tinha sido a primeira investida dos portugueses em Marlon. Cerca de cinco meses antes, o presidente do Sporting já havia estado no Recife, mas não chegaram a um acordo e ele acabou renovando com o Santa - curiosamente essa renovação aconteceu na sede do Náutico enqüanto Marlon participava do lançamento do programa de escolinhas de uma instituição social. Palmeiras e Fluminense também tentaram a contratação do endiabrado.

Na Europa, o ex-ponta direito tricolor permaneceu por nove temporadas, entre Portugal e Espanha, tendo mais destaque no Boa Vista, da cidade do Porto. Lá, fez jus ao apelido de endiabrado. Desde então, a torcida do Santa Cruz recorda com alegria os dribles desconcertantes e gols maravilhosos do jogador que marcou época nos anos 80.





"Não adianta nenhum zagueiro querer me amedrontar. Só me param se me quebrarem, porque quanto mais batem, mais eu vou pra cima. Quero uma providência dos apitadores para que os torcedores vejam futebol e eu não seja inutilizado por um zagueiro qualquer."

Marlon, ao Diario de Pernambuco, no dia 28 de julho de 1986.






Fontes: Entrevista com Marlon, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, Revista Placar, 85 Anos de Bola Rolando (Givanildo Alves) e as seguintes páginas na internet: http://paginas.terra.com.br/esporte/rsssfbrasil/sel/brazil198487r.htm ; http://www.zerozero.pt/uk/jogador.php?edicao_id=0&epoca_id=112&id=15391 ; http://www2.uol.com.br/JC/_2001/2005/es2005_5.htm ; http://www.blogdosantinha.com/?s=Marlon&paged=3

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O Campeão Mundial - parte 1

Foto: Diario da Noite
ZEQUINHA
José Ferreira Franco

18/11/1934, Recife (PE)

Posição: Volante


Clubes: Auto Esporte (time extinto, do Recife) (1954), Santa Cruz (1954-58), Palmeiras (1958-65 e 1965-68), Fluminense (1965), Atlético-PR (1968-70), Náutico (1970) e Seleção Brasileira (1960-65).


Títulos: Torneio Pernambuco-Bahia (1956), Supercampeão Pernambucano (1957), Paulista (1959, 1963 e 1966), Taça Brasil (1960 e 1967), Taça do Atlântico (1960), Taça Oswaldo Cruz (1962), Copa do Mundo (1962), Copa Rocca (1963), Torneio Rio-São Paulo (1965) e Torneio Roberto Gomes Pedrosa - "Robertão" (1967).


Marcas: Atuou 17 vezes pela Seleção Brasileira - 14 vitórias, um empate e duas derrotas -, tendo marcado dois gols. Na Seleção Pernambucana, esteve presente no campeonato brasileiro-56, onde Pernambuco terminou na quarta colocação. Das 11 partidas, Zequinha participou de nove, fazendo um gol. Pelo Santa, ao longo de sua passagem, foram 16 gols.


Características: Volante habilidoso, bom na dividida, embora sempre leal. Aliava ótimo sentido de marcação e visão de jogo a uma pontaria certeira. Os chutes de longa distância eram sua principal característica.


Estréia pelo Santa:
11/07/1954
Cabo Branco - João Pessoa
Amistoso Interestadual
Botafogo-PB 2x1 Santa Cruz

Foto: Placar

Curiosidades:
#Durante o Campeonato Brasileiro-2006, no jogo entre Santa Cruz e Vasco, Zequinha, ao lado do ex-zagueiro Ricardo Rocha, recebeu da CBF a Comenda João Havelange, a carteirinha da entidade e uma camisa da Seleção padronizada com o nome e número do craque usada na Copa-62. Rodadas antes, na partida envolvendo Santa Cruz e São Paulo, Zequinha havia sido homenageado pela diretoria do clube, dando nome a uma alameda que fica no primeiro andar do Arruda, no acesso ao setor das cadeiras. Porém, hoje, a placa não está mais numa das alamedas. Ela foi danificada por vândalos e a diretoria resolveu retirá-la.

#Zequinha se casou com a irmã de um antigo companheiro de clube. Minuca, o cunhado do volante, era zagueiro e jogava no Santa quando foi indicado por Zequinha à direção Palmeirense.


Foto: Arquivo/JC

Hoje: Proprietário de uma casa lotérica, aposentado, morando, atualmente, em Olinda.

O Campeão Mundial - parte 2

Foto: site Milton Neves Copa-62 - Zequinha é o último da fileira de baixo e está ao lado de Garrincha e Pelé.


O primeiro jogador revelado nas divisões de base do Santa Cruz a se tornar campeão mundial, pela Seleção Brasileira, na Copa-62, no Chile. Dessa forma, Zequinha integra um seleto grupo de lendas (vivas) do Terror do Nordeste. Além dele, apenas os tricolores Ricardo Rocha, em 94, e Rivaldo, em 2002, defenderam uma Seleção campeã do mundo. Zequinha não chegou a entrar em campo, Zito era o titular, mas é um dos orgulhos da torcida Tricolor, não apenas por participar do grupo bicampeão mundial. O volante, que revolucionou a posição, pois, além de marcar, era técnico, hábil e chegava a frente com freqüência, também fez parte do primeiro Supercampeonato, em 57, uma das conquistas mais importantes do Mais Querido.


José Ferreira Franco, o Zequinha, crescia no bairro de Santo Amaro, onde batia suas "peladas" e defendia o combinado da vila. Na adolescência, jogava entre boleiros veteranos, entre eles Valdomiro Silva, então treinador das divisões de base do Santa. Daí, em 54, Valdô, como era chamado pelos tricolores, ao ver o garoto se destacando, levou-o para o Arruda. Mais tarde, Oto Vieira, técnico do time principal Tricolor, pediu a Valdô que indicasse um jogador da equipe de aspirantes para treinar entre os profissionais. O escolhido foi Zequinha, que entrou no segundo tempo, no time reserva, e arrebentou, chamando a atenção da torcida. Os suplentes perdiam por 2x1, mas o jovem promissor empatou, num lance que viria a ser sua principal marca, o chute de fora da área. "Quando me chamaram para treinar fiquei meio receoso, mas depois entrei e fiz o gol em Miro. Acabei me soltando. No final, só ouvia os comentários dos torcedores, que foram para ver Barbosa e acabaram tendo uma grata surpresa com a minha atuação", disse Zequinha, certa vez, ao Jornal do Commercio. Antes mesmo de assinar o primeiro contrato, o volante, considerado a frente de seu tempo, já havia defendido a Seleção Pernambucana de aspirantes algumas vezes. A condição de ídolo não demoraria a chegar.

Foto: Diario da Noite


Se existe um título que lavou a alma e explodiu de alegria os tricolores, esse foi o Super de 57. A torcida, na espera por um título há quase dez anos, virou manchete nos jornais da época pela bravura e fidelidade ao time. A cerveja, de tanta festa, acabou. A equipe, que explodiu a "poeira" de felicidade, era altamente técnica e possuía na linha média o seu ponto forte. Aldemar, Zequinha e Edinho vinham atuando juntos desde o campeonato de 56, sob a tutela do técnico Palmeira. No ano seguinte, Alfredo Gonzalez, de destacada importância na conquista, assumiu o comando, trazendo, na esteira de sua chegada, craques como Lanzoninho, do São Paulo, Rudimar, que viria a se tornar o artilhero do estadual -24 gols -, Marinho, antigo ídolo, Aníbal, goleiro negociado junto ao Palmeiras após o campeonato, entre outros. Não só o Santa, mas também os outros grandes investiram pesado, levando o cronista Fausto Neto, do Diario de Pernambuco, a dizer que "a corrida louca e desenfreada dos clubes desnorteou financeira e tecnicamente o futebol local.". A novidade era a fórmula de disputa: no lugar de dois turnos, três turnos estariam em jogo agora. O Santa levou o primeiro, o Náutico, o segundo, e o Sport, o terceiro.


Um detalhe interessante é que, mesmo antes da decisão do Supercampeonato, Zequinha já havia sido sondado pela CBD - antiga CBF. Comentava-se sobre uma possível convocação do volante para os treinos da seleção nacional, visando a Copa-58, na Suécia. Embora se sentisse honrado, Zequinha envaidecia o torcedor coral, ao anunciar, no Diario de Pernambuco: "francamente, só quero pensar nisso depois de terminar o atual campeonato pernambucano. Primeiro, preciso me preocupar com o título. Por ele, darei o máximo de minhas forças. Serei mesmo capaz de me sacrificar em campo. Só quando estiver ostentando a faixa de campeão é que voltarei minhas atividades para outro setor."


Além dos fortes adversários, o Santa Cruz teve de driblar um surto de gripe "asiática". Zequinha, mais outros atletas, foram atingidos pela doença, o que ocasionou na queda de rendimento do time. É nesse momento que a equipe médica, dirigida por Braulio Pimentel, "entra em campo". Dispondo de uma aparelhagem moderna, Braulio inicia um processo de recuperação arrojado, deixando os jogadores afiados para a reta final do estadual.

Foto: Diario da Noite
Inesquecível linha-média do Santa Cruz: Zequinha, Aldemar e Edinho.



Então, o aguardado triangular começa. O Tricolor não participou do primeiro jogo, mas, pode-se dizer, que "conquistou" um bom resultado, afinal, Náutico e Sport ficaram no 1x1. Cinco dias mais tarde, o Santa estrearia no supercampeonato com convincentes 3x1 nos alvirrubros, sendo três gols de Lanzoninho, eleito pela crônica o craque do ano, que, ainda nesse jogo, teve de ir para o gol, após a expulsão de Aníbal. Foi-se, portanto, num domingo, 16 de março de 58, a final de um dos campeonatos de melhor nível técnico até então. As torcidas de Sport e Santa quebraram todos os recordes de bilheteria - por sinal, a do Mais Querido foi a campeã, proporcionando arrecadação superior a cinco milhões de cruzeiros ao longo do certame. A linha média - Aldemar, Zequinha e Edinho - teve fundamental importância na partida. Zequinha foi o responsável por anular Carlos Alberto, homem de ligação do Sport, sem deixar de alimentar o ataque. A "vitória" na disputa pelo meio-campo resultou num Santa Cruz avassalador, impondo 2x0 na primeira etapa - gols de Rudimar e Aldemar. Logo no início do segundo tempo, Zequinha sofre falta, que ele mesmo cobra na medida para Mituca estabelecer 3x0. Depois disso, quando se esperava o início do carnaval tricolor, o Sport marcou duas vezes, mantedo a massa coral apreensiva. Com o apito final, e a vitória do Santinha, por 3x2, o Diario de Pernambuco publicou que era "impossível descrever a vibração que se apossou dos torcedores do tricolor do Arruda, após a vitória memorável na peleja final do supercampeonato".


Na campanha, Zequinha não fez gol nas suas 19 partidas, do total de 21 do Santa no campeonato, o que não impediu o assédio de clubes do sudeste. O Fluminense tentou, mas não chegou a um acordo financeiro. Veio o Palmeiras, através do técnico Oswaldo Brandão. "Você já está pronto para viajar", teria perguntado Brandão a Zequinha, depois de um treino no Arruda. Iniciava-se a formação da primeira "Academia", do Palmeiras, que incluía nomes como o de Djalma Santos, Julinho Botelho, Chinezinho e, mais tarde, Ademir da Guia. Zequinha permaneceu durante dez anos no Palmeiras, tornado-se o 15° jogador em número de atuações pelo clube. Lá, ele e o alvi-verde palestrino fizeram frente ao Santos de Pelé, e o volante, cria de Valdomiro Silva e do Santa Cruz, foi premiado com a convocação para a Copa-62, no Chile. Além de ídolo do torcedor Cobra Coral, Zequinha, o garoto das "peladas" de Santo Amaro, tornou-se orgulho do futebol pernambucano.
PS.: Clique aqui para saber mais sobre Aldemar, companheiro de Zequinha, e sobre o título de 57.




Foto: site Milton Neves


"As qualidades técnicas do Zequinha, que é o titular, são superiores às minhas."

Ademir da Guia, o Divino, símbolo da "Academia" Palmeirense, quando iniciava a carreira e "esquentava" o banco.






Agradecimentos especiais ao jornalista José Neves Cabral, do blog Arquibancada ( http://www.arquibancada.blog.br/ ), e ao pesquisador Carlos Celso Cordeiro.



Fontes: Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco, Diario da Noite, 85 Anos de Bola Rolando (Givanildo Alves) e as seguintes páginas na internet:

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O Artilheiro do Brasil - parte 1

Foto: Placar/Rodolpho Machado
RAMON
Ramon da Silva Ramos

12/03/1950, Sirinhaém (PE)

Posição: Centroavante

Clubes: Santa Cruz (1967-75 e 1983), Internacional (1976), Sport (1976), Vasco (1977-79), Goiás (1979-81), Ceará (1981-82), São José-SP (1983), Ferroviário-CE (1984) e Brasília (1985).

Títulos: Pentacampeão Pernambucano (1969-1970-71-72-73), Campeão Carioca (1977), Campeão Cearense (1981).

Marcas: Artilheiro do Campeonato Brasileiro de 73, com 21 gols, maior marca até então. Pelo Tricolor foram 377 jogos e 148 gols.

Características: Versátil - adequava-se a diferentes posições na frente -, habilidoso, oportunista, móbil e tinha boa arrancada.


Estréia pelo Santa: (fonte: pesquisador Carlos Celso Cordeiro)
Entrando no decorrer da partida:
03/12/1967
Amistoso - AGA 0x1 Santa Cruz (juvenil)
Entrando de frente:
18/05/1969
Amistoso - Central 3x1 Santa Cruz


Foto: Placar/Armando Filho

Curiosidades:
#Após se tornar o artilheiro do campeonato nacional, o Jóquei Clube de Pernambuco, através de seu presidente Sadoc Souto Maior, decidiu homenagear o centroavante Ramon. Foi-se, então, realizado o Grande Prêmio Ramón.

# Um livro contando a história de Ramon está sendo elaborado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Sociologia do Futebol, da UFPE, e a Fundação Joaquim Nabuco. O lançamento da obra é aguardado para este ano.

# Em homenagem ao pentacampeonato, conquistado por Ramon e seus companheiros, os irmãos Valença, autores do hino oficial do Santa Cruz, compuseram o frevo "O papa-taças" ("Quem é que quando joga a poeira se levanta? É o Santa! É o Santa!").


Hoje:
Em 2005, na vitoriosa temporada do Santa Cruz, auxiliou o técnico Givanildo Oliveira. Além disso, já trabalhou com as categorias de base clube. Mora em Casa Amarela, no Recife.

O Artilheiro do Brasil - parte 2

Foto: Diario de Pernambuco
Penta (1973) - Gena, Gilberto, Paulo Ricardo, Erb, Antonino e Botinha; Valmir, Fernando Santana, Ramon, Luciano e Givanildo.

Natural de Sirinhaém, a 76 Km do Recife, e de origem humilde, Ramon da Silva Ramos decidiu deixar a família e equipe em que atuava - Usina Trapiche - para tentar a sorte na capital. Em 67 ele chega aos juvenis do Santa com a esperança de uma vida melhor. Dois anos depois, Ramon, então com 19, é relacionado para os últimos jogos do campeonato pernambucano, garantindo-se, assim, no grupo campeão de 69.


A trajetória de Ramon no Mais Querido começa pra valer em 1970, ano do bicampeonato. A base do time de 69, com Fernando Santana comandando o ataque, fora mantida, e Ramon foi ganhando espaço aos poucos, ora entrando no lugar de Santana, ora no de Uriel. Marcou seis gols no campeonato, sendo um deles na decisão, no Arruda, na vitória por 2x0 sobre o Náutico - Cuíca fez o outro. Ainda em 70, o Santa representou Pernambuco no "Robertão", competição que antecedeu o Brasileirão, mas fez uma campanha discreta, terminando na 12ª colocação, entre as 17 equipes.


No tricampeonato, em 71, Ramon já era considerado um dos ídolos do time. Dirigido por Duque, o Santa venceu os três turnos. Na "extra" do terceiro turno, na Ilha do Retiro, o Tricolor venceu seu arqui-inimigo por 1x0 com um gol de Cuíca aos 14 minutos do 2° tempo da prorrogação. A caminhada para o Penta seguia a passos largos e o ano de 72 é lembrado pela dupla alegria ao clube do Arruda. Primeiro, a conquista do Tetra, mais uma vez ganho com facilidade, com rodadas de antecipação num jogo contra o Central. O artilheiro do campeonato e do Santa Cruz foi Fernando Santana, com 15 gols, seguido por Ramon, com 13. Um mês depois da maior conquista do clube até então, era inaugurado o Colosso do Arruda, numa festa sem precedentes em um amistoso com o Flamengo.

Foto: Placar/Lemyr Martins




Mas o grande ano do Santa Cruz e de Ramon viria a ser o de 1973. Os meninos de Gradim, formados por pratas-da-casa como Fernando Santana, Givanildo, Ramon, Zé Maria, Luciano e muitos outros, foram mantidos. O time montado por Gradim, estava, agora, sob tutela de Paulo Emílio e também já passara pelas mãos de Evaristo Macedo e Duque. Ramon foi decisivo na conquista do Penta, marcando os dois gols do título na partida extra contra o Sport, na Ilha. 36.459 pessoas compareceram ao estádio, público recorde da época, para ver o centroavante alegrar a massa coral aos 7 minutos do 1° tempo e 36 do 2°. "Pode me botar pra fora do emprego. Não me importo. O Santa é Penta e é isso que vale", dizia um torcedor vagando pelo Arruda, às 10h da manhã do dia seguinte. Ramon marcou 21 gols no estadual, atrás apenas na artilharia para, o não menos importante no título, Luciano, que fez 25 gols. Ao todo, de 70 a 73, Ramon participou de 84 jogos em pernambucanos e deixou sua marca 46 vezes. Porém, o reconhecimento nacional viria acontecer durante o Brasileirão, disputado no segundo semestre. Ele se tornou o primeiro jogador de um clube nordestino a terminar o Campeonato Brasileiro como artilheiro. "Palmeiras é o bicampeão brasileiro e Ramon é o artilheiro", anunciavam as rádios recifenses. Dessa forma, veio a confirmação da artilharia, pois seus principais concorrrentes - Leivinha, do Palmeiras, e Mirandinha, do São Paulo - disputaram a fase final do campeonato. Foguetórios em alguns subúrbios ecoaram pela capital pernambucana. Foram 21 gols - marca inédita -, do total de 39 que o Santa fez no nacional. A campanha do clube em si não chegou a chamar à atenção - 16° entre os 40 clubes -, pois a defesa falhava demais, mas Ramon, considerado uma das maiores revelações, ficou cotado para a disputa da Copa-74, na Alemanha. A expectativa aumentou quando ele foi relacionado entre os 40 convocados por Zagallo, fazendo parte de uma espécie "lista de espera". Infelizmente, no início de 74, numa partida diante do Santo Amaro, o centroavante Tricolor forçou o músculo e sentiu-se mal, sendo substituído e amargando um longo tempo afastado.


Capa do Diario de Pernambuco de 16/08/73


Ao fim de 73, além da faixa de pentacampeão no peito e da artilharia do Brasileirão garantida, Ramon ainda terminou na segunda colocação na bola de prata, com média de 7.3, atrás apenas de Mirandinha, do São Paulo, que teve média de 7.4. Pouco tempo depois começava o Brasileirão-74, antes do estadual, e com o pensamento na conquista do hexa, o Santa fez péssima campanha no Nacional - 35° entre os 40 clubes. No Pernambucano, a disputa seguia acirrada, mas um vacilo na reta final do segundo turno contra o Ferroviário, permitiu que o Náutico fosse para a final com o Santa. Nela, os alvirrubros, ávidos para impedir o hexa coral, levaram a melhor.


O ano de 75 marcou o fim da passagem do atacante pelo Mais Querido. E foi um fechamento com a chamada "chave-de-ouro". Afinal, o Santa fez sua melhor campanha em Brasileirões, terminando na quarta colocação. Ramon balançou as redes 8 vezes, mas dois desses gols foram especiais. Maracanã lotado, Flamengo x Santa Cruz, um deles iria para a semifinal. A imprensa "nacional" simplesmente desconsiderava a chance de vitória do Santa e a conseqüente classificação entre os quatro melhores do Brasil. Eis que, Ramon apronta duas vezes, Wolney uma, Zico desconta, e o Santa estabele o placar de 3x1, calando o Maracanã e o Brasil.

Foto: Jornal do Commercio


Após mais uma destacada temporada, não foi possível segurar o terceiro maior artilheiro do clube com 148 gols. Ramon foi vendido, numa negociação milionária, ao Internacional, onde não se encaixou bem. Voltou a Pernambuco, para o Sport, não teve grande destaque, e foi negociado com o Vasco. Ao lado de Roberto Dinamite fez sucesso e, após deixar o clube carioca, rodou um pouco - inclusive pelo Santa, em 83 -, vindo encerrar a carreira em 85, no Brasília.



"Ramon, o artilheiro da jornada vitoriosa, esteve na sua grande noite. Nos 'piques' estava imbatível."

Legenda de umas das fotos do Diario de Pernambuco, na edição subseguinte à conquista do Penta, no 17 de agosto de 73.




Fontes: Entrevista com Ramon, pesquisador Carlos Celso Cordeiro, Revista Placar, 85 anos de bola rolando (Givanildo Alves), Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco e a seguinte página na internet: http://desenvolvimento.miltonneves.com.br/QFL/Conteudo.aspx?ID=61147