quarta-feira, 12 de março de 2008

A Maravilha do Arruda - parte 1

LUCIANO

Luciano Jorge Veloso
13/09/1948, Pesqueira (PE)

Posição: Meio-campista

Clubes: CRB (1965), Santa Cruz (1965-75), Sport (1975-76), Corinthians (1977-78), Juventus (1979-1980), Portuguesa (1980-1981), Náutico (1980-82) e Central (1982).

Títulos: Pentacampeão Pernambucano (1969-70-71-72-73), Pernambucano (1975) e Paulista (1977).

Marcas: Artilheiro do Campeonato Pernambuco de 73, com 25 gols. Segundo maior artilheiro do Santa Cruz com 174 gols, em 409 jogos. Quarto maior artilheiro da história dos pernambucanos, marcando 110 vezes, 83 pelo Tricolor, atrás somente de Baiano, Tará e Fernando Carvalheira.


Foto: Diario da Manha

Cena recorrente em 73: comemorando, mesmo que discreto, seus gols.



Características: Preciso nos passes e lançamentos, mas encantava também com os chutes certeiros. Armador clássico que cadenciava bem o jogo.


Estréia pelo Santa:
16/10/1966 - Amistoso
Santa Cruz 4x0 Vera Cruz/Abreu e Lima

Curiosidades:
#Luciano recebeu de presente um curió, pássaro de valor na época, de um torcedor, pelo gol do título no campeonato de 69. Os demais jogadores pediram ao meia que deixasse o animal na concentração do clube, mas ele não se sensibilizou com o apelo: "Não! de jeito nenhum. Vou levá-lo para casa."
#No período em que defendia os juvenis do Santa Cruz, os colegas o chamavam de Dodô. No time, já existia outro Dodô, goleiro. Veio, então, um diretor e decretou que a partir daquele dia o Dodô, de Maceió, seria Luciano e o goleiro passaria a ser Gaião. O nome sugestivo acabou virando motivo de risadas e o arqueiro passou a atender pelo nome de batismo mesmo, Naércio.



Foto: Diario de Pernambuco


Luciano, com 20 anos, e Pedrinho, na comemoração do estadual de 69.



Hoje: Trabalhou, no ano passado, como técnico nas divisões de base do Tricolor. Em 1993, Luciano comandou o Náutico no vice-campeonato pernambucano, perdendo para o Santinha de virada.

A Maravilha do Arruda - parte 2

Foto: Diario de Pernambuco1969 - Pedrinho, Noberto, Zé Júlio, Zito, Birunga e Ary; Fernando Santana, Facó, Mirobaldo, Luciano e Nivaldo.




O Pentacampeonato do Santa Cruz começa, na verdade, quando o milionário James Thorp assume o departamento de futebol do clube. Além de todo o dinheiro do "inglês", como era chamado pelos torcedores, mudou-se a forma de ação. No lugar de jogadores medalhões,vindos do Rio e de São Paulo; investimento na prata-da-casa, valores da região e na estrutura do Mais Querido, construindo uma concentração e ampliando o Estádio do Arruda. Entre os garotos, estava o promissor Luciano, vindo do futebol alagoano.



Embora pernambucano, o meia começou no CRB, com 17 anos, levado pelo irmão Paulo Veloso. No estado vizinho conquistou o título dos juniores no clube regatiano e, num amistoso de entrega de faixas, contra o Santa, acabou sendo descoberto. Seu time perdeu por 3x2, mas Luciano fez os gols do CRB, chamando a atenção do técnico tricolor Batista, que, antes da viagem de volta ao Recife, já havia deixado a passagem do meia com o mesmo destino. Poucos dias depois, aquele que ficaria conhecido como A Maravilha do Arruda, chegava à capital pernambucana.



Foto: Diario de Pernambuco

Outra característica marcante: o famigerado blackpower.


Peça fundamental no título mais importante do Santa Cruz, camisa 10 por vários anos, principal assistente da época e, ainda, fazia muitos gols. Na saga do Penta (69 a 73), Luciano balançou as redes 69 vezes, tornando-se, ao lado de Fernando Santana, o grande goleador desse período. Ainda foi o jogador que mais vestiu a camisa coral no Pentacampeonato, com 126 jogos, do total de 131 do Tricolor, o que representa incríveis 96% das partidas. Especialista também em quebrar longo jejuns de títulos: com o Santa, em 69, dez anos depois da última conquista estadual, no Sport, em 75, doze anos na fila e pelo Corinthians, em 77, na seca há 22 temporadas.

O primeiro treinador no profissional do Maravilha do Arruda chamava-se Alexandre Borges, homem que iniciou o trabalho com os meninos da base. Mas, quem colheu os frutos do campeonato de 69 foi Gradim, outra fera com a garotada. O presidente Aristófanes de Andrade resolveu copiar a idéia do Náutico, montando uma superestrutura que continha psicólogo, nutricionista, assistente social, dentista, e médicos. A folha salarial não era alta, pois possuía basicamente jogadores da região. Dinheiro sobrava, afinal James Thorp estava por perto, chegando ao ponto de presentear cada jogador com um fusca após a confirmação do título de 69. O campeonato se decidiu em quatro(!) partidas contra o Sport, vencedor do 1° turno, enqüanto o Santa levou o 2°. Nos três primeiros jogos, uma vitória Tricolor (3x0), outra leonina (2x0) e um empate (0x0). Na grande final, nos Aflitos, os dois rivais empatavam em 1x1, Facó para o Santa e Duda igualou o placar, quando aos 30 minutos do 2° tempo, Luciano dava a primeira mostra que crescia nas decisões: uma falta cobrada com maestria, no melhor estilo folha seca, fez explodir o povão tricolor, sedento por troféus. Ele terminou o estadual como vice-artilheiro do Santa, com 13 gols, atrás do goleador do Pernambucano-69 Fernando Santana, 23 gols, que, ao lado do volante Zito, do zagueiros Birunga e Zé Júlio e do atacante Mirobaldo, era um dos expoentes da equipe que viria a ser bicampeã em 70 e representante de Pernambuco nos Robertões de 69 e 70.


Foto: Diario de Pernambuco

Umas das 409 partidas de Luciano, ao centro, com a camisa tricolor.


Novamente a jovem dupla de artilheiros se sobressaiu. Santana, primeiro do campeonato de novo, 15 gols e, logo depois, Luciano, com 14. Levando em conta os estaduais de 69 e 70, os dois marcaram 65 vezes, quase metade do que fez o Tricolor - 139 gols. Numa das finais do bicampeonato, agora, frente ao Náutico, A Maravilha do Arruda mais uma vez mostrou seu poder de decisão. Depois do empate - 0x0 - no primeiro jogo, o Santa fez 2x1 no alvirrubro, dois gols de Luciano, tranqüilizando os torcedores e o time para o último confronto. Outra vitória, 2x0 - Cuíca e Ramon -, deu ao Santa o histórico primeiro título no Arruda. O futebol do esquadrão do novo técnico Duque era considerado moderno, com todos cobrindo todos e revezando-se nas posições. O meio-de-campo formado por Zito e Luciano se consolidou como um dos melhores do Brasil. Mais tarde, Givanildo e Erb jogariam na posição ao lado da Maravilha do Arruda.


Foto: Revista Placar

Esquema tático para o Robertão-70.




Durante a disputa do estadual de 70, uma grande cheia no Recife provocou a morte de 61 pessoas e inundações nos estádios da capital. Mas, passado o triste episódio, Luciano teve seu valor reconhecido na inclusão de seu nome na lista dos 40 jogadores da Seleção Brasileira para a Copa-70, assim como aconteceria com o atacante Ramon, em 74.

Mantendo o futebol de muita técnica, no qual, quem corria era a bola, e não o jogador, vieram o tri, 71, e o tetra, em 72, nesse, por sinal, o Santa teve os três goleadores do campeonato - F. Santana, 15 gols, o próprio Luciano, 13, e Ramon, com 12. Mas foi no Penta que o meia assumiu a artilharia do estadual - 25 gols -, chegando a marcar em 20, das 36 partidas, e ficando de fora apenas duas vezes. Além desses números, as estatísticas do Terror do Nordeste nos cinco títulos (69 a 73) impressionam: 101 vitórias, 19 empates, 11 derrotas, 333 gols marcados, 71 sofridos, resultando no saldo positivo de 262.


Tamanho destaque do clube e jogador não passaria em branco no sul do País. O Palmeiras chegou perto de levá-lo, mas Luciano disse aos pretendentes que só sairia por muito dinheiro, "mas muito mesmo." Depois, além do meia tricolor, os portugueses tentaram Ramon, mas a proposta do Boa Vista pelos dois foi considerada baixa.



A eficiência do Maravilha do Arruda chamou a atenção também nas competições nacionais. No Brasileiro-73, ele terminou na décima colocação na Bola de Prata, da Revista Placar, atrás de feras como Forlan, do São Paulo, Ademir da Guia, do Palmeiras, e Fito, do Bahia e atual técnico do Santa Cruz. Jogando os Brasileirões, de 71 a 74, pelo Mais Querido, Luciano marcou 34 gols em 96 jogos.


Foto: Diario de Pernambuco


Não chegou a jogar pela Seleção, mas esteve entre os 40 relacionados para a Copa de 70, no México.






No início de 75, já desgastado após dez anos no Arruda, o, então, presidente José Nivaldo, resolveu negociá-lo. A transação com o Sport aconteceu justamente durante o carnaval, a fim de evitar uma revolta da torcida, concentrada na festa anual. O Santa recebeu 600 mil cruzeiros, gastos logo depois com as contratações de Mazinho, o Deus de Ébano, vindo do Grêmio, e Carlos Alberto, ex-São Paulo. Luciano segueria sua missão de tirar da fila alguns clubes importantes no cenário brasileiro. Primeiro, o grande rival tricolor, o Sport, doze anos em jejum, sendo hepta-vice. Em São Paulo, participou de 49 jogos, dos 54, pelo Corinthians no Paulistão de 77, um dos mais emblemáticos da história.

O camisa 10 do Santa Cruz teve muitos treinadores no Arruda - Alfredo Gonzalez, Duque, Evaristo de Macedo, Paulo Emílio, Caiçara, Lanzoninho e, por último, Carlos Froner -, mas nenhum deles ousou a mudar o número de sua jaqueta. Segundo maior artiheiro do Santa Cruz Futebol Clube. É um orgulho para o clube e a torcida ter em Luciano um dos jogadores que mais vestiram o manto Cobra-Coral, com 409 atuações.



"Um dos melhores jogadores da hitória de Pernambuco. "

Relato do Jornalista José Neves ( http://www.arquibancada.blog.br/ )






Fontes: Entrevista com Luciano, Revista Resenha Esportiva, 85 anos de bola rolando (Givanildo Alves), Campeonato Pernambucano (1915-1970 e 1971-2000) (Carlos Celso Cordeiro), Diario de Pernambuco, Diario da Manha Revista Placar e os seguintes sites na internet: