quarta-feira, 27 de junho de 2007

o camisa 5 - parte 2


Lula, Pedrinho, Levir, Givanildo, Carlos A. Barbosa e Jair; Fumanchu, Alfredo, Ramon, Carlos A. Rodrigues e Pio



GIVA NO SANTA

Givanildo chegou ao Santa Cruz, em maio de 68, por intermédio do publicitário Paulo Duarte. O garoto franzino trabalhava como office-boy na empresa de Paulo, que era maranhense, mas torcedor e conselheiro do tricolor. Depois de tomar conhecimento da importância que Givanildo tinha nas equipes de várzea (Portela, de Jaboatão dos Guararapes, e 10 de Novembro, de Olinda) em que atuava, Paulo Duarte, ainda desconfiado, resolveu levá-lo para o Santa.

Passado o período de testes, Givanildo custou a entrar no time principal, a rotina apenas de treinos o incomodava. Por conta disso, o Topo Gigío quase foi emprestado ao Confiança, mas Gradim, técnico do Santa Cruz, sabia o que estava fazendo ao deixa-lo esperando. Então veio um amistoso diante do Bahia, em comemoração ao quinto aniversário da “Revolução” Militar, que mudaria a perspectiva do craque. Devido a uma série de contusões na equipe, Givanildo foi titular e começou a escrever seu nome no futebol pernambucano. Com a Ilha do Retiro lotada, ele deu duas assistências e marcou um gol na vitória por 5x2, no forte time baiano. A partir daí, seu futebol passou a ser comentado nas ruas e sua presença no time titular mais comum.
No ano seguinte, com Duque no comando do Santa, passou a atuar no meio-campo, por causa do seu estilo “incansável”. No início dos anos 70, assumiu o posto de capitão, sem falar da conquista do pentacampeonato.

Em 1975, após dois anos sem conquistas, quando as críticas apareciam, veio a memorável campanha no brasileiro. Givanildo recebeu propostas de Fluminense e Vasco, no fim de 74, mas a diretoria do Santa Cruz conseguiu segura-lo para aquela que viria a ser a melhor campanha em nacionais. O início foi claudicante, então Carlos Froner deu lugar a Paulo Emílio, o técnico do pentacampeonato. A campanha teve grandes vitórias, inclusive contra os rivais, mas a partida que decidiria um semifinalista foi especial. O palco era o Maracanã e o Flamengo o adversário. Confronto que foi apimentado pela matemática da Rede Globo. No programa Fantástico, o matemático Oswaldo de Souza calculou que o Flamengo tinha 85% de chances de ser o campeão do grupo 2, enquanto o Inter tinha 35%. O Santa, que era o segundo da chave (e os dois primeiros passavam) sequer foi citado. O episódio irritou o capitão Givanildo. Resultado: Santa 3x1, classificado em primeiro, com vaga numa das semifinais do brasileiro.

O Santa agora enfrentava o Cruzeiro, em um jogo, no Arruda, com a vantagem do empate. Mas quis o destino (e o árbitro) que o Mais Querido não fosse para a final e a libertadores do ano seguinte. A derrota por 3x2, com um gol no último minuto, não apagou a belíssima campanha que Givanildo fez com o Santa. O desempenho dele era o que faltava para mostrar ao Brasil o outro Topo Gigío, não apenas o ratinho da TV.
Surgiu o interesse do Grêmio e a convocação para a Seleção. Em agosto de 76, Givanildo atuou no amistoso Santa 2x0 Benfica, que seria na verdade um “até logo” . Dias depois, o Santa vendeu seu passe para o Corinthians por CR$ 2,5 MILHÕES, além da vinda do meia Vicente para a Cobra Coral. No clube paulista, ficou o tempo suficiente para tirar o time da “fila” de 22 anos, e, porque sua filha foi atingida pela poluição paulista, decidiu voltar ao Santa por CR$ 1,5 milhões.

Com a volta de Givanildo, veio o bicampeonato pernambucano e a segunda melhor campanha do Santa em brasileiros. No ano de 78, o tricolor estabeleceu uma marca imbatível até hoje: 27 jogos sem perder no campeonato. O Santa só perdeu nas quartas, contra o Inter. Depois dessa boa exibição, houve o convite para a excursão ao Oriente Médio e à Europa, onde o Santa saiu com o título de Fita Azul do Brasil, pois foram 12 jogos e nenhuma derrota.
Givanildo participou e foi peça fundamental em alguns dos grandes feitos do Santa Cruz. A passagem pelo Mais Querido se encerra no ano de 79, já com 31 anos, e, por conta disso, sem tanta confiança da diretoria. Ele acabou se transferindo para o Fluminense e encerrou a carreira no Sport, o que não mancha de forma alguma sua brilhante carreira.




GIVA NA SELEÇÃO
Atuando fora do eixo Rio - São Paulo, Givanildo foi convocado para a Seleção Brasileiro pela primeira vez em janeiro de 76. O garoto da Vila Popular iria estar ao lado de Zico, Rivelino, Nelinho, entre outras feras, na Taça Atlântico, sob o comando de Oswaldo Brandão. Naquela época, o Santa Cruz tinha seus jogadores bastante requisitados pela seleção. Aconteceu com Levir, Carlos Alberto Rodrigues, Santos, além do goleiro Picasso que já tinha passagem pelo time do Brasil. Mais tarde foi a vez de Nunes.




No começo, Giva só fez esquentar banco. Após a Taça Atlântico, ele foi convocado novamente, agora para o Torneio Bicentenário, sendo o único nordestino na relação. Entrou no decorrer de uma partida no lugar de Falcão. A sua atuação rendeu alguns comentários. “Givanildo jogou sério e não pode sair do time”, afirmou João Saldanha. O ex-jogador Gérson também comentou: “se Brandão mantiver o volante do Inter, é porque está o protegendo”. Na final do torneio, contra a Itália, Brandão manteve Givanildo no banco de reservas. Mas, com o fraco desempenho e o empate (1x1), o técnico se viu obrigado a sacar Falcão, no intervalo. E o volante tricolor mudou a cara do jogo, dando um passe para Zico selar a vitória brasileira por 3x1. Após essa competição, Revista Placar publicou suas conclusões, com Giva na capa: “Givanildo, Gil, a certeza de que Luís Pereira é necessário, a lição de que é preciso se organizar melhor – isso foi o que Brandão tirou de mais importante desta excursão da Seleção”.




A imprensa mexicana o chamava de “El incansable Givanildo”. Cerca de 5 mil pessoas foram ao Aeroporto Internacional dos Guararapes para homenagear o craque pernambucano. O Santa aproveitou o momento. O cachê cobrado em amistoso custaria CR$ 100 mil. O ciclo de Givanildo na seleção se encerrou em fevereiro de 77, quando ele já aspirava a possibilidade de participar da Copa de 78, na Argentina. A ausência dele se deu por conta da saída de Oswaldo Brandão. O novo técnico seria Cláudio Coutinho, que tinha forte ligação com o futebol carioca. Coutinho dizia que o estilo de jogo de Givanildo não se enquadraria na sua filosofia de trabalho. Desculpa esfarrapada, já que se tratava de um jogador que se destacava pela disciplina tática.




"Com Givanildo, o jogo sai mais rápido, os toques são feitos de primeira, envolvendo o adversário, tirando-lhe tempo para pensar e defender. Sem ter medo de ficar com a bola, sem ela lhe queimar os pés, Givanildo dificilmente dá dois toques antes do passe e sempre o faz com precisão."



Análise da Revista Placar após a participação de Givanildo na seleção.







Fontes: Givanildo - uma vida de luta e virótias (Marcelo Cavalcante), Revista Placar e Campeonato Pernambucano (Carlos C. Cordeiro e Luciano Guedes Cordeiro)

o camisa 5 - parte 1




GIVANILDO

Givanildo José de Oliveira

Nascimento: 8/8/1948, em Olinda

Posição: Volante

Carreira: Santa Cruz (1968/76 – 1977/79), Corinthians (1976-77), Fluminense (1980) e Sport (1980/83)

Títulos: Campeão pernambucano em 69, 70, 71, 72, 73, 76, 78, 79, 80, 81, 82 (os três últimos pelo Sport). Campeão da Taça Atlântico e do Torneio Bicentenário em 76 (pela Seleção Brasileira). Campeão Paulista em 77 (pelo Corinthians). Vice-campeão Brasileiro em 77 (pelo Corinthians).

Marcas:
Durante o pentacampeonato (69/73), Givanildo disputou 113 partidas como titular, contabilizando 89 vitórias, 17 empates e sete derrotas. Marcou 11 gols nesse período.



No ano de 2000, a editora Abril lançou o Guia dos Craques – “Os grandes jogadores do Brasil e do Mundo”, do jornalista Marcelo Duarte, e Givanildo se faz presente vestindo a camisa do Santa, dividindo o selo dos 100 melhores com Pelé, Jairzinho, Cruyff, Maradona...





Características: No início, atacante que ajudava na marcação. Ao ser recuado, tornou-se num grande operário. Corria o tempo inteiro, tinha bom passe, visão de jogo e roubava bola, ou seja, foi um típico armador. Era um futebol simples, no entanto, bonito de se ver. Apesar da timidez fora de campo, transformava-se em líder dentro das quatro linhas.


Estréia pelo Santa: 31/7/1968, Alecrim 0x6 Santa Cruz, válido por um torneio amistoso, disputado em Natal, que ainda tinha ABC e América.

Curiosidades: Passou parte da carreira atuando na ponta-esquerda (atacante). Porém, na decisão do Pernambuco de 70, Duque escalou Giva no meio-campo, no lugar de Erb. O Topo Gigío, apelido de Givanildo, se tornou o motorzinho e o responsável pela saída de jogo do time, mas a permanência na cabeça-de-área ainda era uma eventualidade. Apenas em 1973, com Paulo Emílio, é que Giva foi efetivado como volante.
Hoje: Técnico de futebol desde 1983. Foi campeão pernambucano pelo Santa em 2005 e vice-brasileiro da Série B no mesmo ano.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O homem que mudou o Santa Cruz

Olá, tricolores.

Este blog nasce com a intenção de preservar e reverenciar os grandes ídolos do Santa Cruz.

O objetivo é manter vivos os heróis que glorificaram o nome do Mais Querido. A passagem deles pelo Santa será destrinchada, estudada e debatida por vocês.


E o primeiro personagem é o homem que deu o primeiro título ao Santa Cruz, Tará.



TARÁ

Humberto de Azevedo Viana

Nascimento: 1914

Posição: Center-forward (centroavante)

Carreira: Mocidade de Beberibe (1929), Atheniense (1930), Santa Cruz (1931/42 - 1948), Náutico(1943/47)

Títulos: Campeão Pernambucano em 1931/ 32/ 33 (os três primeiros da história do Santa), 1935, 1940 e 1945 (esse pelo Náutico).

Marcas: Artilheiro dos campeonatos de 1938 (25 gols), 1940 (20 gols) e 1945 (28 gols – pelo Náutico). Em 1945, no jogo Flamengo do Recife 3x21 Náutico, Tará marcou 10 gols. Fez gol de bicicleta antes de Leônidas, que marcou o seu na Copa de 38. Fez um gol do meio-de-campo, contra o Náutico (o goleiro era Djalma).

Características: Não se contentava em vencer, só saía de campo satisfeito se deixasse sua marca. Era baixo, mas fazia muitos gols de cabeça e, principalmente, de “virada”. Considerado um centroavante nato. "Meu estilo era um misto de rompedor e técnico" (depoimento dado a Folha de Pernambuco, em 29 de novembro de 1998).

Estréia pelo Santa: Setembro de 1931, Santa Cruz 2x2 Íris (não marcou). Seu primeiro gol aconteceu na partida seguinte, contra o Flamengo do Recife, na vitória por 3x1. E fez logo dois.

Curiosidades: Em uma determinada época jogou ao lado de quatro irmãos no Náutico (Orlando, Isaac, Gérson e Roldan).


Possui uma música em sua homenagem:

Mestre Tará (Samba de Bráulio de Castro)

Depois de Garrincha e Pelé/ Vou te falar/ O maior do mundo foi Tará/ Mestre Tará
Não havia teipe/ Pra registrar seu futebol/ Mas o jornal diz que ele/ Marcou dez vezes, num jogo só/ Driblava até o goleiro/ E fazia de calcanhar/ O maior do mundo foi Tará
Era um Deus nos acuda/ Jogando com Siduca/ Deixava qualquer defesa/ Adversária, lelé da cuca/ Driblava até o goleiro/ E fazia de calcanhar/ O maior do mundo foi Tará








Em 1940, contra o Sport, eterno rival, Tará faz um golaço decisivo para a conquista do campeonato daquele ano, o quinto do Santa. Depois, em 46/47, o Santa seria bicampeão.


Tará é considerado, pelos mais antigos, o maior jogador da história de Pernambuco. Há quem diga que o Santa Cruz tem duas fases: antes e depois de Tará. Tanto é, que antes dele, o Santa não havia conquistado nenhum título estadual, e depois do ídolo, O Mais Querido arrematou logo um tri-campeonato. Ele foi convidado a jogar no Rio de Janeiro (Fluminense e Vasco o procuraram), mas era a época do amadorismo e Tará preferiu dar preferência à carreira militar, recusando as propostas dos clubes cariocas. Participou da Seleção Pernambucana e estava no memorável jogo contra a seleção baiana, em 1945, pelo Campeonato Brasileiro, que Pernambuco venceu por 9x1 (Tará fez três). Infelizmente brigou com um diretor tricolor e foi para o Náutico, onde seu irmão Orlando, o pingo de ouro, atuava. Mas, em 1948, voltou ao tricolor para encerrar a carreira no clube de coração.







“Não joguei lá (Rio de Janeiro) porque não quis. Gentil Cardoso esteve no Recife e tentou me convencer a ir para o Fluminense. Não aceitei, pois fazia o curso para oficial. Outra vez, depois de um treino da seleção de Pernambuco, em São Januário, recebi convite do Vasco.”


Depoimento dado a um especial da Revista Placar em 1979.







PS1. Em pesquisa da Revista Placar, em 1999, Tará foi escolhido pela crítica o grande craque do Santa, no século XX. O levantamento foi realizado de duas formas: o voto da crítica, onde dez pessoas, entre jornalistas e conselheiros do clube, votavam nos melhores jogadores, e o júri popular, que foi feito através da internet e qualquer um pôde escolher. Tará recebeu cincos votos contra dois de Luciano Veloso, dois de Ramón e uma indicação de Mazinho. Na internet, Givanildo foi o eleito.



PS2. De acordo com uma reportagem especial da Folha de Pernambuco, em novembro de 1998, Tará disputou 102 jogos e fez 80 gols pelo Santa, apenas no período de 38 a 42 - não há informações seguras do período anterior. Na época da matéria, Tará, que dedicou o resto da sua vida à carreira militar, tinha 84 anos. Quem tiver mais informações sobre o que aconteceu com ele após a matéria, por favor, compartilhe conosco. Acima, foto publicada na reportagem do jornalista Leonardo Guerreiro.

PS3. Segundo o tricolor Júlio Vila Nova, Tará faleceu, ao 86 anos, de ataque cardíaco, no dia 7 de setembro de 2000, no hospital da Polícia Militar, no Recife. Valeu pela informação, Júlio.

PS4 (atualizado em 29/08). Tará é o maior artilheiro da história do Santa Cruz, com 198 gols contabilizados até 1940, de acordo com matéria do Diário de Pernambuco de 03/02/2004. Como ele marcou 80 vezes só no período de 38 a 42 e voltou ao clube em 48, presume-se que ultrapassou a marca dos duzentos gols. O segundo maior artilheiro é Luciano Veloso com 175, seguido por Ramon com 146 gols.


Fontes: Conheça o Santa Cruz (Fascículos em comemoração aos 55 anos do clube), Eu Sou Santa Cruz de Corpo e Alma (Mário Filho), Santa Cruz - As maiores torcidas do Brasil (especial da Placar de 1979) e Campeonato Pernambucano - 1915 a 1970 (Carlos Celso Cordeiro e Luciano Guedes Cordeiro).