quarta-feira, 12 de março de 2008

A Maravilha do Arruda - parte 2

Foto: Diario de Pernambuco1969 - Pedrinho, Noberto, Zé Júlio, Zito, Birunga e Ary; Fernando Santana, Facó, Mirobaldo, Luciano e Nivaldo.




O Pentacampeonato do Santa Cruz começa, na verdade, quando o milionário James Thorp assume o departamento de futebol do clube. Além de todo o dinheiro do "inglês", como era chamado pelos torcedores, mudou-se a forma de ação. No lugar de jogadores medalhões,vindos do Rio e de São Paulo; investimento na prata-da-casa, valores da região e na estrutura do Mais Querido, construindo uma concentração e ampliando o Estádio do Arruda. Entre os garotos, estava o promissor Luciano, vindo do futebol alagoano.



Embora pernambucano, o meia começou no CRB, com 17 anos, levado pelo irmão Paulo Veloso. No estado vizinho conquistou o título dos juniores no clube regatiano e, num amistoso de entrega de faixas, contra o Santa, acabou sendo descoberto. Seu time perdeu por 3x2, mas Luciano fez os gols do CRB, chamando a atenção do técnico tricolor Batista, que, antes da viagem de volta ao Recife, já havia deixado a passagem do meia com o mesmo destino. Poucos dias depois, aquele que ficaria conhecido como A Maravilha do Arruda, chegava à capital pernambucana.



Foto: Diario de Pernambuco

Outra característica marcante: o famigerado blackpower.


Peça fundamental no título mais importante do Santa Cruz, camisa 10 por vários anos, principal assistente da época e, ainda, fazia muitos gols. Na saga do Penta (69 a 73), Luciano balançou as redes 69 vezes, tornando-se, ao lado de Fernando Santana, o grande goleador desse período. Ainda foi o jogador que mais vestiu a camisa coral no Pentacampeonato, com 126 jogos, do total de 131 do Tricolor, o que representa incríveis 96% das partidas. Especialista também em quebrar longo jejuns de títulos: com o Santa, em 69, dez anos depois da última conquista estadual, no Sport, em 75, doze anos na fila e pelo Corinthians, em 77, na seca há 22 temporadas.

O primeiro treinador no profissional do Maravilha do Arruda chamava-se Alexandre Borges, homem que iniciou o trabalho com os meninos da base. Mas, quem colheu os frutos do campeonato de 69 foi Gradim, outra fera com a garotada. O presidente Aristófanes de Andrade resolveu copiar a idéia do Náutico, montando uma superestrutura que continha psicólogo, nutricionista, assistente social, dentista, e médicos. A folha salarial não era alta, pois possuía basicamente jogadores da região. Dinheiro sobrava, afinal James Thorp estava por perto, chegando ao ponto de presentear cada jogador com um fusca após a confirmação do título de 69. O campeonato se decidiu em quatro(!) partidas contra o Sport, vencedor do 1° turno, enqüanto o Santa levou o 2°. Nos três primeiros jogos, uma vitória Tricolor (3x0), outra leonina (2x0) e um empate (0x0). Na grande final, nos Aflitos, os dois rivais empatavam em 1x1, Facó para o Santa e Duda igualou o placar, quando aos 30 minutos do 2° tempo, Luciano dava a primeira mostra que crescia nas decisões: uma falta cobrada com maestria, no melhor estilo folha seca, fez explodir o povão tricolor, sedento por troféus. Ele terminou o estadual como vice-artilheiro do Santa, com 13 gols, atrás do goleador do Pernambucano-69 Fernando Santana, 23 gols, que, ao lado do volante Zito, do zagueiros Birunga e Zé Júlio e do atacante Mirobaldo, era um dos expoentes da equipe que viria a ser bicampeã em 70 e representante de Pernambuco nos Robertões de 69 e 70.


Foto: Diario de Pernambuco

Umas das 409 partidas de Luciano, ao centro, com a camisa tricolor.


Novamente a jovem dupla de artilheiros se sobressaiu. Santana, primeiro do campeonato de novo, 15 gols e, logo depois, Luciano, com 14. Levando em conta os estaduais de 69 e 70, os dois marcaram 65 vezes, quase metade do que fez o Tricolor - 139 gols. Numa das finais do bicampeonato, agora, frente ao Náutico, A Maravilha do Arruda mais uma vez mostrou seu poder de decisão. Depois do empate - 0x0 - no primeiro jogo, o Santa fez 2x1 no alvirrubro, dois gols de Luciano, tranqüilizando os torcedores e o time para o último confronto. Outra vitória, 2x0 - Cuíca e Ramon -, deu ao Santa o histórico primeiro título no Arruda. O futebol do esquadrão do novo técnico Duque era considerado moderno, com todos cobrindo todos e revezando-se nas posições. O meio-de-campo formado por Zito e Luciano se consolidou como um dos melhores do Brasil. Mais tarde, Givanildo e Erb jogariam na posição ao lado da Maravilha do Arruda.


Foto: Revista Placar

Esquema tático para o Robertão-70.




Durante a disputa do estadual de 70, uma grande cheia no Recife provocou a morte de 61 pessoas e inundações nos estádios da capital. Mas, passado o triste episódio, Luciano teve seu valor reconhecido na inclusão de seu nome na lista dos 40 jogadores da Seleção Brasileira para a Copa-70, assim como aconteceria com o atacante Ramon, em 74.

Mantendo o futebol de muita técnica, no qual, quem corria era a bola, e não o jogador, vieram o tri, 71, e o tetra, em 72, nesse, por sinal, o Santa teve os três goleadores do campeonato - F. Santana, 15 gols, o próprio Luciano, 13, e Ramon, com 12. Mas foi no Penta que o meia assumiu a artilharia do estadual - 25 gols -, chegando a marcar em 20, das 36 partidas, e ficando de fora apenas duas vezes. Além desses números, as estatísticas do Terror do Nordeste nos cinco títulos (69 a 73) impressionam: 101 vitórias, 19 empates, 11 derrotas, 333 gols marcados, 71 sofridos, resultando no saldo positivo de 262.


Tamanho destaque do clube e jogador não passaria em branco no sul do País. O Palmeiras chegou perto de levá-lo, mas Luciano disse aos pretendentes que só sairia por muito dinheiro, "mas muito mesmo." Depois, além do meia tricolor, os portugueses tentaram Ramon, mas a proposta do Boa Vista pelos dois foi considerada baixa.



A eficiência do Maravilha do Arruda chamou a atenção também nas competições nacionais. No Brasileiro-73, ele terminou na décima colocação na Bola de Prata, da Revista Placar, atrás de feras como Forlan, do São Paulo, Ademir da Guia, do Palmeiras, e Fito, do Bahia e atual técnico do Santa Cruz. Jogando os Brasileirões, de 71 a 74, pelo Mais Querido, Luciano marcou 34 gols em 96 jogos.


Foto: Diario de Pernambuco


Não chegou a jogar pela Seleção, mas esteve entre os 40 relacionados para a Copa de 70, no México.






No início de 75, já desgastado após dez anos no Arruda, o, então, presidente José Nivaldo, resolveu negociá-lo. A transação com o Sport aconteceu justamente durante o carnaval, a fim de evitar uma revolta da torcida, concentrada na festa anual. O Santa recebeu 600 mil cruzeiros, gastos logo depois com as contratações de Mazinho, o Deus de Ébano, vindo do Grêmio, e Carlos Alberto, ex-São Paulo. Luciano segueria sua missão de tirar da fila alguns clubes importantes no cenário brasileiro. Primeiro, o grande rival tricolor, o Sport, doze anos em jejum, sendo hepta-vice. Em São Paulo, participou de 49 jogos, dos 54, pelo Corinthians no Paulistão de 77, um dos mais emblemáticos da história.

O camisa 10 do Santa Cruz teve muitos treinadores no Arruda - Alfredo Gonzalez, Duque, Evaristo de Macedo, Paulo Emílio, Caiçara, Lanzoninho e, por último, Carlos Froner -, mas nenhum deles ousou a mudar o número de sua jaqueta. Segundo maior artiheiro do Santa Cruz Futebol Clube. É um orgulho para o clube e a torcida ter em Luciano um dos jogadores que mais vestiram o manto Cobra-Coral, com 409 atuações.



"Um dos melhores jogadores da hitória de Pernambuco. "

Relato do Jornalista José Neves ( http://www.arquibancada.blog.br/ )






Fontes: Entrevista com Luciano, Revista Resenha Esportiva, 85 anos de bola rolando (Givanildo Alves), Campeonato Pernambucano (1915-1970 e 1971-2000) (Carlos Celso Cordeiro), Diario de Pernambuco, Diario da Manha Revista Placar e os seguintes sites na internet:

Um comentário:

Anônimo disse...

Marcos, mais uma vez, parabéns por resgatar a história dos grandes craques do Santa Cruz.

Nesses tempos onde a categoria é um artigo escasso nos "esquadrões" do mais querido, é um alento ler sobre os grandes jogadores que já tivemos.

Ducaldo