terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O endiabrado - parte 2

Foto: Josenildo Tenório

Lula, Zé do Carmo, Birigüi, Marco Antônio, Ivã e Lotti; Jarbas, Marlon, Neto, Rômmel e Tiziu.


Os ingleses inventaram o futebol. Os brasileiros inventaram o futebol-arte. Enqüanto os europeus usavam da força na prática do esporte bretão, os canarinhos introduziram no esporte uma artimanha que tornava o jogo mais leve, agradável, e, às vezes, engraçado. Surgia o drible. Entre os seus principais apreciadores estava Marlon, camisa 7, jogando numa posição feita sob-medida para os dribladores. Na ponta (direita), ele endiabrou a vida dos laterais-esquerdo (pobre, Luizinho), especialmente os rubro-negros, enlouquecendo a massa tricolor, admiradora de um bom drible. Depois de Marlon, o Clássico das Multidões não ficaria marcado apenas pela rivalidade e a grandeza das torcidas. Os dribles humilhantes se eternizariam na memória do torcedor Cobra Coral e do amante do futebol-arte. Além disso, os gols, um título e a identificação com a torcida, fariam de Marlon, rapidamente, um ídolo do Mais Querido.


Adquirido junto ao Esportivo-RS - por um valor impossível de se entender para um simples mortal, 300 milhões de cruzeiros novos -, o ponteiro tricolor demonstrava logo na estréia que era um jogador diferente dos demais. Apesar da derrota para Náutico (3x0), pelo Brasileirão-85, Marlon, mesmo entrando no decorrer da partida, agradou a todos com a sua habilidade envolvente, tanto que, no jogo seguinte, diante do Vasco, já constava entre os titulares. Nesse Brasileiro, o Santa realizou desastrosa campanha, ocupando a penúltima posição, entre os 44 clubes. Apesar disso, Marlon fez o seu papel, pois foi o artilheiro do Tricolor, com oito gols em 16 partidas, mesmo estreando apenas na quinta rodada. Na luta do Pernambucano do mesmo ano, disputado no segundo semestre, o endiabrado era o alvo preferido dos selvagens zagueiros alvirrubros, inimigos do bom futebol, que acabaram levando o "caneco" de 85. Mas um jogo em especial desse estadual ficaria guardado na lembrança dos corais. "Em meio a dezenas de grandes atuações, neste jogo, decidindo o segundo turno, na Ilha do Retiro, talvez tenha ocorrido sua melhor atuação desde que foi contratado pelo Santa Cruz", publicou o Diario de Pernambuco. Sport e Santa decidiam o 2° turno e Marlon, sem a condição física ideal, levou O Mais Querido à vitória, de virada, com um gol no tempo normal, que terminou 1x1, e outro na prorrogação. O resultado de 2x1 garantiu o título do turno e, conseqüentemente, a vaga na final do campeonato. No estadual, ele anotou doze gols.

Ainda em 85, em julho, realizou-se o jogo Pró-Marlon. Com a aproximação do fim do empréstimo do atacante tricolor, a direção da época resolveu lançar uma campanha, a fim de arrecadar fundos e, dessa maneira, comprar o passe do atleta que pertencia ao Esportivo. O amistoso em si, frente ao CRB, era o de menos, a torcida mostrou sua força, comprando a quantidade de ingressos necessários para aquisação do ponta. Tal comoção entusiasmou Marlon. Em clima de festa, o Tricolor não passou de um empate, 3x3, em que o endiabrado, vindo de contusão, deu lugar a Gabriel, durante a partida.

Foto: Diario de Pernambuco

Marlon em ação na final de 86.

Passado o ano de 85, veio o primeiro e único título com a camisa do Santinha. Sabe-se que o goleiro Birigüi foi o grande nome da decisão de 86, na Ilha do Retiro, em que o arqueiro segurou o 0x0 diante do Sport, garantindo a taça ao Terror do Nordeste. Porém, o craque do campeonato e responsável maior pela presença na final do campeonato foi o endiabrado Marlon. De sua inspiração dependia as atuações do Santa Cruz, tornando-se numa espécie de termômetro da equipe. Dono de um drible rápido e fácil, Marlon terminou o certame como artilheiro do time, com dez gols, quatro a menos que o goleador, Luís Carlos, do Sport.


Na casa do rival, o atacante parecia ficar mais endiabrado ainda. Lá, o Santa conquistou o 1° turno, num empate, dramático, por 1x1, diante do clube mandante. Após mais uma igualdade, dessa vez sem gols, na prorrogação, os dois decidiram nos pênaltis, onde, com Marlon convertendo a sua penalidade, terminou 3x0. Nesse embate, ao sair de campo com três prêmios, por ter sido escolhido pelas rádios como melhor em campo, ele reclamava da violência do lateral adversário, Paulo Silva: "entrou em campo só para me bater e o árbitro tinha que expulsá-lo ainda no primeiro tempo". (O lateral, inclusive, havia sido contratado na semana da partida, vindo a ser dispensado poucos dias depois dela.) Ao longo de sua passagem pelo Santa, Marlon nem sempre suportou as pancadas dos rivais e a complacência dos árbitros, acumulando algumas expulsões por conta de reclamação.


No 2° turno, os rubro-negros vingaram a goleada, por 5x0, dos tricolores pelo mesmo placar no ano de 76. Com a vaga garantida na decisão do estadual, o time relaxou e, naquele jogo, Marlon e Zé do Carmo receberam o cartão vermelho. O técnico Waldemar Carabina foi mandado embora após esse resultado, vindo em seu lugar Moisés, vice-campeão Brasileiro pelo Bangu em 85. A recuperação aconteceu no 3° turno, em que o Tricolor venceu o Sport na Ilha, por 2x0, com gols de Neto e Washington. Mas a decisão do turno ficou por conta de Central e Santa Cruz, em Caruaru, escolhida através de sorteio. Depois do empate por 1x1 no tempo normal e 0x0 na prorrogação, o vencedor foi conhecido após a disputa de pênaltis, onde o Santa fez 5x4, um deles de Marlon. O campeonato, de regulamento confuso, seria decidido numa partida extra e, caso o Sport vencesse, os dois rivais fariam uma melhor-de-três. Novamente o Santa Cruz perdeu no sorteio e a Ilha do Retiro foi o palco da "extra". Birigüi fez milagres e, como o empate bastava, a torcida tricolor comemorou o 19° título. O arisco Marlon e o meia Rômmel se contundiram após as duas substituições permitidas terem sido efetuadas, aumentando a dramaticidade da conquista Coral.



Na reta final do campeonato, Marlon teve de exercer nova função na equipe, solicitada pelo técnico Moisés. Além de permanecer adiantado para receber os lançamentos em velocidade, o ponteiro teria agora de fechar no meio quando o adversário estivesse com a posse de bola. Graças à boa condição física, ele conseguiu aliar as duas funções sem perder o poder ofensivo.


Foto: Diario de Pernambuco

Marlon ajudou o Brasil a se classificar para o Pan-Americano de 1987, nos Estados Unidos.


No Brasileirão, no qual o Santa ficou na 26ª colocação, entre 48 clubes, Marlon ganhou destaque nacional. Foram três gols que lhe valeram uma convocação e uma dor de cabeça aos torcedores. Devido à convocação para a Seleção Brasileira de novos, como era chamada na época, Marlon desfalcou o Santa no campeonato nacional por cerca de 40 dias, ocasionando na queda de rendimento do Mais Querido. O aproveitamento do time era de 50% enqüanto o jogador defendia o Tricolor, que, sem ele, obteve um aproveitamento de 38%. A média de gols também caiu, de 1,07 gols por partida para 0,88. A causa da ausência ficou por conta do Campeonato Sul-Americano, no Chile, em que o Brasil conseguiu a classifição para os Jogos Pan-Americanos de 1987 e Marlon foi titular em três, das quatro partidas do escrete canarinho.

Foto: Edvaldo Rodrigues

Santa Cruz 1x1 Goiás - última vez que a camisa 7 foi vestida por Marlon.


No dia do reencontro com a torcida tricolor, na data de 10 de dezembro, no confronto entre Santa Cruz e Goiás, o que deveria ser um recomeço com a camisa Cobra-Coral, marcou a despedida do ídolo. Poucos dias depois da partida, anunciou-se a venda de Marlon ao Sporting, de Lisboa. O passe do atacante foi negociado por 3 milhões e 500 mil cruzados, sendo 2 milhões à vista e o restante com 30 dias. Ainda ficou acertada uma excursão do Santa a Lisboa, de oito jogos, sendo um deles frente ao Sporting, com o clube português bancando as passagens. Não tinha sido a primeira investida dos portugueses em Marlon. Cerca de cinco meses antes, o presidente do Sporting já havia estado no Recife, mas não chegaram a um acordo e ele acabou renovando com o Santa - curiosamente essa renovação aconteceu na sede do Náutico enqüanto Marlon participava do lançamento do programa de escolinhas de uma instituição social. Palmeiras e Fluminense também tentaram a contratação do endiabrado.

Na Europa, o ex-ponta direito tricolor permaneceu por nove temporadas, entre Portugal e Espanha, tendo mais destaque no Boa Vista, da cidade do Porto. Lá, fez jus ao apelido de endiabrado. Desde então, a torcida do Santa Cruz recorda com alegria os dribles desconcertantes e gols maravilhosos do jogador que marcou época nos anos 80.





"Não adianta nenhum zagueiro querer me amedrontar. Só me param se me quebrarem, porque quanto mais batem, mais eu vou pra cima. Quero uma providência dos apitadores para que os torcedores vejam futebol e eu não seja inutilizado por um zagueiro qualquer."

Marlon, ao Diario de Pernambuco, no dia 28 de julho de 1986.






Fontes: Entrevista com Marlon, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, Revista Placar, 85 Anos de Bola Rolando (Givanildo Alves) e as seguintes páginas na internet: http://paginas.terra.com.br/esporte/rsssfbrasil/sel/brazil198487r.htm ; http://www.zerozero.pt/uk/jogador.php?edicao_id=0&epoca_id=112&id=15391 ; http://www2.uol.com.br/JC/_2001/2005/es2005_5.htm ; http://www.blogdosantinha.com/?s=Marlon&paged=3

3 comentários:

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Sou pesquisador, ligado a RSSSF Brasil (www.rsssf.com) e responsável pelos blogs www.sumulas-tche.blogspot.com e sumulastche.wordpress.com, gostaria de trocar informações com você sobre os ex-jogadores do Santa Cruz.

Qual o seu e-mail para contato?
O meu é jblopes@gmail.com

Fico no aguardo!

Abraço e Parabéns pelo Blog!