segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O Campeão Mundial - parte 2

Foto: site Milton Neves Copa-62 - Zequinha é o último da fileira de baixo e está ao lado de Garrincha e Pelé.


O primeiro jogador revelado nas divisões de base do Santa Cruz a se tornar campeão mundial, pela Seleção Brasileira, na Copa-62, no Chile. Dessa forma, Zequinha integra um seleto grupo de lendas (vivas) do Terror do Nordeste. Além dele, apenas os tricolores Ricardo Rocha, em 94, e Rivaldo, em 2002, defenderam uma Seleção campeã do mundo. Zequinha não chegou a entrar em campo, Zito era o titular, mas é um dos orgulhos da torcida Tricolor, não apenas por participar do grupo bicampeão mundial. O volante, que revolucionou a posição, pois, além de marcar, era técnico, hábil e chegava a frente com freqüência, também fez parte do primeiro Supercampeonato, em 57, uma das conquistas mais importantes do Mais Querido.


José Ferreira Franco, o Zequinha, crescia no bairro de Santo Amaro, onde batia suas "peladas" e defendia o combinado da vila. Na adolescência, jogava entre boleiros veteranos, entre eles Valdomiro Silva, então treinador das divisões de base do Santa. Daí, em 54, Valdô, como era chamado pelos tricolores, ao ver o garoto se destacando, levou-o para o Arruda. Mais tarde, Oto Vieira, técnico do time principal Tricolor, pediu a Valdô que indicasse um jogador da equipe de aspirantes para treinar entre os profissionais. O escolhido foi Zequinha, que entrou no segundo tempo, no time reserva, e arrebentou, chamando a atenção da torcida. Os suplentes perdiam por 2x1, mas o jovem promissor empatou, num lance que viria a ser sua principal marca, o chute de fora da área. "Quando me chamaram para treinar fiquei meio receoso, mas depois entrei e fiz o gol em Miro. Acabei me soltando. No final, só ouvia os comentários dos torcedores, que foram para ver Barbosa e acabaram tendo uma grata surpresa com a minha atuação", disse Zequinha, certa vez, ao Jornal do Commercio. Antes mesmo de assinar o primeiro contrato, o volante, considerado a frente de seu tempo, já havia defendido a Seleção Pernambucana de aspirantes algumas vezes. A condição de ídolo não demoraria a chegar.

Foto: Diario da Noite


Se existe um título que lavou a alma e explodiu de alegria os tricolores, esse foi o Super de 57. A torcida, na espera por um título há quase dez anos, virou manchete nos jornais da época pela bravura e fidelidade ao time. A cerveja, de tanta festa, acabou. A equipe, que explodiu a "poeira" de felicidade, era altamente técnica e possuía na linha média o seu ponto forte. Aldemar, Zequinha e Edinho vinham atuando juntos desde o campeonato de 56, sob a tutela do técnico Palmeira. No ano seguinte, Alfredo Gonzalez, de destacada importância na conquista, assumiu o comando, trazendo, na esteira de sua chegada, craques como Lanzoninho, do São Paulo, Rudimar, que viria a se tornar o artilhero do estadual -24 gols -, Marinho, antigo ídolo, Aníbal, goleiro negociado junto ao Palmeiras após o campeonato, entre outros. Não só o Santa, mas também os outros grandes investiram pesado, levando o cronista Fausto Neto, do Diario de Pernambuco, a dizer que "a corrida louca e desenfreada dos clubes desnorteou financeira e tecnicamente o futebol local.". A novidade era a fórmula de disputa: no lugar de dois turnos, três turnos estariam em jogo agora. O Santa levou o primeiro, o Náutico, o segundo, e o Sport, o terceiro.


Um detalhe interessante é que, mesmo antes da decisão do Supercampeonato, Zequinha já havia sido sondado pela CBD - antiga CBF. Comentava-se sobre uma possível convocação do volante para os treinos da seleção nacional, visando a Copa-58, na Suécia. Embora se sentisse honrado, Zequinha envaidecia o torcedor coral, ao anunciar, no Diario de Pernambuco: "francamente, só quero pensar nisso depois de terminar o atual campeonato pernambucano. Primeiro, preciso me preocupar com o título. Por ele, darei o máximo de minhas forças. Serei mesmo capaz de me sacrificar em campo. Só quando estiver ostentando a faixa de campeão é que voltarei minhas atividades para outro setor."


Além dos fortes adversários, o Santa Cruz teve de driblar um surto de gripe "asiática". Zequinha, mais outros atletas, foram atingidos pela doença, o que ocasionou na queda de rendimento do time. É nesse momento que a equipe médica, dirigida por Braulio Pimentel, "entra em campo". Dispondo de uma aparelhagem moderna, Braulio inicia um processo de recuperação arrojado, deixando os jogadores afiados para a reta final do estadual.

Foto: Diario da Noite
Inesquecível linha-média do Santa Cruz: Zequinha, Aldemar e Edinho.



Então, o aguardado triangular começa. O Tricolor não participou do primeiro jogo, mas, pode-se dizer, que "conquistou" um bom resultado, afinal, Náutico e Sport ficaram no 1x1. Cinco dias mais tarde, o Santa estrearia no supercampeonato com convincentes 3x1 nos alvirrubros, sendo três gols de Lanzoninho, eleito pela crônica o craque do ano, que, ainda nesse jogo, teve de ir para o gol, após a expulsão de Aníbal. Foi-se, portanto, num domingo, 16 de março de 58, a final de um dos campeonatos de melhor nível técnico até então. As torcidas de Sport e Santa quebraram todos os recordes de bilheteria - por sinal, a do Mais Querido foi a campeã, proporcionando arrecadação superior a cinco milhões de cruzeiros ao longo do certame. A linha média - Aldemar, Zequinha e Edinho - teve fundamental importância na partida. Zequinha foi o responsável por anular Carlos Alberto, homem de ligação do Sport, sem deixar de alimentar o ataque. A "vitória" na disputa pelo meio-campo resultou num Santa Cruz avassalador, impondo 2x0 na primeira etapa - gols de Rudimar e Aldemar. Logo no início do segundo tempo, Zequinha sofre falta, que ele mesmo cobra na medida para Mituca estabelecer 3x0. Depois disso, quando se esperava o início do carnaval tricolor, o Sport marcou duas vezes, mantedo a massa coral apreensiva. Com o apito final, e a vitória do Santinha, por 3x2, o Diario de Pernambuco publicou que era "impossível descrever a vibração que se apossou dos torcedores do tricolor do Arruda, após a vitória memorável na peleja final do supercampeonato".


Na campanha, Zequinha não fez gol nas suas 19 partidas, do total de 21 do Santa no campeonato, o que não impediu o assédio de clubes do sudeste. O Fluminense tentou, mas não chegou a um acordo financeiro. Veio o Palmeiras, através do técnico Oswaldo Brandão. "Você já está pronto para viajar", teria perguntado Brandão a Zequinha, depois de um treino no Arruda. Iniciava-se a formação da primeira "Academia", do Palmeiras, que incluía nomes como o de Djalma Santos, Julinho Botelho, Chinezinho e, mais tarde, Ademir da Guia. Zequinha permaneceu durante dez anos no Palmeiras, tornado-se o 15° jogador em número de atuações pelo clube. Lá, ele e o alvi-verde palestrino fizeram frente ao Santos de Pelé, e o volante, cria de Valdomiro Silva e do Santa Cruz, foi premiado com a convocação para a Copa-62, no Chile. Além de ídolo do torcedor Cobra Coral, Zequinha, o garoto das "peladas" de Santo Amaro, tornou-se orgulho do futebol pernambucano.
PS.: Clique aqui para saber mais sobre Aldemar, companheiro de Zequinha, e sobre o título de 57.




Foto: site Milton Neves


"As qualidades técnicas do Zequinha, que é o titular, são superiores às minhas."

Ademir da Guia, o Divino, símbolo da "Academia" Palmeirense, quando iniciava a carreira e "esquentava" o banco.






Agradecimentos especiais ao jornalista José Neves Cabral, do blog Arquibancada ( http://www.arquibancada.blog.br/ ), e ao pesquisador Carlos Celso Cordeiro.



Fontes: Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco, Diario da Noite, 85 Anos de Bola Rolando (Givanildo Alves) e as seguintes páginas na internet:

Um comentário:

Alsione Filho disse...

O Grande Zequinha, morreu no sábado que passou (25.07.2009)