segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O primeiro artilheiro - parte 2

Primeiro ídolo e artilheiro do futebol pernambucano, Pitota teve de enfrentar a resistência do pai para chegar a tal condinção. Conhecido pelo nome - Alcindo Wanderley -, o jogador tricolor ganhou o apelido - Pitota - justamente para que seu pai não tomasse conhecimento das aventuras futebolísticas do garoto. O pai, advogado famoso do Recife, anos depois confessou que ouvira falar de um tal Pitota, sem saber que era o filho proibido de jogar bola.

Após passar por alguns clubes de Olinda, o artilheiro, em 1914, foi estudar no Colégio Salesiano, onde conheceu os fundadores do Santa Cruz. A partir daí, jogando pelo tricolor, se consolidaria como artilheiro de Pernambuco, mais precisamente no ano de 1917 (possivelmente também em outros anos, mas a falta de registros impede a afirmação). Nome comum nas relações da seleção da Liga Sportiva Pernambucana e combinados que participavam de amistosos. Com pouco tempo de Santa Cruz, passou a integrar a diretoria.

Em janeiro, de 1915, a Assembléia Geral elegeu a segunda diretoria do Santa Cruz, que comandaria o clube no biênio 15/16. Pitota foi eleito vice-diretor de esportes. Na eleição seguinte, tomou posse da direção de esportes. Bom na oratória, também se elegeu orador do clube, porque, naquele tempo, os jogos não começavam sem uma troca de gentilezas. E ainda foi o primeiro sócio benemérito do Santa.

Pitota só não chegou a conquistar o título do recém-criado campeonato pernambucano, colecionando alguns vices, principalmente para o Sport, pois esse sempre reforçava o time na reta final com jogadores do sul do Brasil, atitude condenada na época. Mas ele participou de momentos marcantes da hitória do Santa Cruz Futebol Clube, dos quais qualquer torcedor já ouviu falar.

Um deles foi a inacreditável virada, num jogo em que perdia por 5x1 do América, pelo pernambucano de 1917. Faltando 20 minutos para o fim da partida, muitos tricolores haviam deixado o estádio dos Aflitos, eis que o capitão Tiano resolve deslocar Pitota. Ele vai jogar na ponta-direita, no intuito de fugir da implacável marcação dos adversários. Surgi um pênalti para o Santa Cruz, e os torcedores mais resistentes devem ter ido embora, pois Pitota desperdiça a chance de diminuir restando 15 minutos. Mas, a partir daí, incrivelmente, os gols foram saindo a favor do tricolor, especialmente dos cruzamentos de Pitota da ponta-direita, evidenciando a importância da mudança tática realizada durante o jogo. O artilheiro ainda guardou o seu na espetacular vitória por 7x5(!).

http://rubbens68.blogspot.com/2007_06_03_archive.html

Outro triunfo inesquecível, do qual Pitota marcou presença, foi o de 1919, frente ao Botafogo do Rio. Este, até ofuscou a passagem de Santos Dumont pelo Recife, tamanha era a festa pela vitória, a primeira de um clube do Norte-Nordeste diante de um do Sul-Sudeste do Brasil. O lateral-esquerdo do Santa na partida, Manoel Pedro (o professor), certa vez disse que "o gol de desempate e, conseqüentemente o do triunfo, aconteceu já no finalzinho, numa jogada individual de Pitota". O Santa Cruz também ficou marcado por ter sido o primeiro clube de Pernambuco a excursionar para outro Estado. Em 1916, uma viagem a Natal era uma verdadeira epopéia, mas lá se foi o Santa enfrentar o ABC. O jogo foi acertado por João Café Filho, que mais tarde viria a ser Presidente da República, após a morte de Getúlio Vargas. Nascido em Natal, Café Filho estudava no Recife, fez amizade com o pessoal do Santa e programou o que era considerado um acontecimento. Pitota estava entre os jogadores que venceram o ABC por 4x1, mas não há registros dos autores dos gols.


Ao fim da curta carreira, Pitota se mudou para Niterói, no Rio de Janeiro, e possivelmente faleceu por lá. Um menino que, para fazer o que gostava, enfrentou a resistência em casa, tornou-se nome conhecido no Recife e em Olinda, integrou vários selecionados pernambucanos e, já na década de 1970, foi laureado com uma medalha de ouro pela diretoria do Santa da época. É reconhecidamente o primeiro artiheiro do Mais Querido e de Pernambuco.




"Pitota deixou tonta a defesa do América e passou a centrar bolas para a área.....driblou quase todo o time do América antes de marcar."

Tiano, capitão do Santa Cruz na vitória por 7x5 contra o América, em depoimento a Placar, de 1979.





Fontes: Conheça o Santa Cruz - 55 anos de glória, Revista Placar, História do Futebol em Pernambuco (Givanildo Alves) e blog Santa Cruz Desde 1914 (http://rubbens68.blogspot.com/).

4 comentários:

Anônimo disse...

olá amigo, gostaria de saber se você vai postar alguma coisa sobre o RAMÓN ? grande idolo tricolor!

abraço, saudações corais!

Marcos Velloso disse...

Sim, claro.

Mas ainda não há data prevista.

saudações!

Unknown disse...

Marcos, muito bom o seu blog, parabéns. Venho informa-lo que peguei informações no seu blog e criei comunidades referente aos ídolos no orkut, mas sempre colocando a fonte do seu blog. gostaria de pedir que se possivel divulgar as comunidades aqui no seu blog, desde ja agradeço.

torcedor tricolor!

COMUNIDADES

NUNES, O cabeo de fogo
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42213721

Birigüi, O salvador
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42187898

e mais essa que não foi do seu blog mas de minha iniciativa

TRISUPERcampeonato de 1983
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42173427

abraço!

Anônimo disse...

O artigo da história do Santa Cruz ficou muito boa, digna da wikipedia, bem informativo para a torcia. Parabéns.