sábado, 9 de maio de 2009
Até breve!
infelizmente, não tenho tido o tempo suficiente para mergulhar na pesquisa sobre os grandes ídolos e a história do Santa Cruz. Por isso, em vez frustar expectativas com a não publicação dos textos, decidi interrompeter as postagens por tempo indeterminado.
No entanto, o desejo de resgatar o passado coral permanece vivo. No ano que vem, eu terei de fazer um projeto de conclusão do curso de jornalismo e a minha ideia é continuar (e ao mesmo tempo começar pra valer) o que foi proposto aqui no blog.
Logicamente, quero trazer o resultado desse material aos blogueiros corais e, quem sabe, aos tricolores que não têm acesso à internet. Portanto, considero que essa parada é um até breve, pois logo logo voltarei a mergulhar na história dos ídolos do Mais Querido.
Saudações Tricolores e até breve!
quarta-feira, 21 de maio de 2008
A estrela negra tricolor - parte 1
Sebastião Luiz de França
03/09/1901, Palmares (PE)
Posição: Centro-médio (zagueiro)
Clubes: Íris, Santa Cruz (1925-30 e 1932-34) e Encruzilhada (1930-32)
Títulos: Pernambucano (1932 e 1933)
Marcas: Pela seleção Pernambucana, Sebastião disputou os campeonatos brasileiros de 1929, 31 e 34, participando de quatro vitórias e três derrotas. Por Pernambuco, teve a missão de marcar Artur Friedereinch, primeiro grande craque da história do futebol brasileiro e o jogador mais difícil que enfrentou, segundo o próprio Sebastião.
Características: Exímio roubador de bolas. Considerado, às vezes, um jogador viril, era preciso na defesa, apesar da baixa estatura. Além disso, usava a inteligêngia na hora de distribuir "o jogo".
Estréia pelo Santa: (informação obtida graças ao trabalho do pesquisador Carlos Celso Cordeiro)
07/06/1925 - Campeonato Pernambucano Local: Av. Malaquias Santa Cruz 3x3 América
Curiosidades: # A bola do jogo Santa Cruz 7x0 Sport (15/04/1934) foi guardada e posteriomente doada por Sebastião Virada à sala de trófeus do Mais Querido.
Foto: Diario de Pernambuco
#Em 1929, o centro-médio coral chegou a ser cogitado para a Seleção Brasileira e para uma excurssão do Vasco da Gama. A CBD ameaçou convocar jogadores da Bahia e Pernambucano depois que os paulistas reivindicaram uma ajuda de custo para atuar na Seleção. Virada teve o seu nome lembrado. No fim, paulistas e confederação entraram em acordo. No mesmo ano, o zagueiro deixou de viajar à Europa com o Vasco devido à precariedade de tempo na obtenção dos documentos necessários. Antes da viagem, os vascaínos treinaram no Recife e bateram o Santa, de Sebastião, por 3x1. Um dirigente carioca o procurou, mas o período de permanência do navio no Recife era curto demais.
Hoje: Informação desconhecida. Por favor, quem souber pode nos ajudar divulgando-a.
A estrela negra tricolor - parte 2
No início do século 20, o preconceito racial ainda persistia forte, apesar da abolição da escravatura, em 1888. Mesmo com alguns movimentos negro explodindo pelo País, o futebol era um retrato da discriminação. O esporte mais popular do mundo, em especial, era declaradamente racista, a ponto do então presidente da República Epitácio Pessoa, formado na Faculdade de Direito do Recife, recomendar que não se incluíssem mulatos na Seleção Brasielira que disputaria o Campeonato Sul-Americano de 1921, em Buenos Aires. Ignorando o fato de o esporte ser praticado pela elite branca, o Santa Cruz Futebol Clube, já ao nascer, em 1914, quebrou paradigmas.
Teófilo Batista de Carvalho, o Lacraia, foi um dos fundadores do Mais Querido, idealizador do escudo do Santa e principal fator para que a cobra-coral ganhasse adpetos de cor negra. Sebastião Virada seria o primeiro ídolo negro da massa antes mesmo da profissionalização do futebol na década de 1930. Para se ter uma idéia da ousadia e nobreza do tricolor, o rival Náutico só veio contratar um profissional negro em 1960, sendo o renomado técnico Gentil Cardoso, campeão pelo Santa 1959, enquanto o Grêmio de Porto Alegre proibia, nos anos 50, negros de vestir a camisa do time.
Sebastião Virada foi descoberto em 1925 por Ilo Just, outro grande nome da história coral, ex-goleiro, técnico e diretor de esportes. O center-half defendia o Beza, um time formado por gazeteiros, num jogo contra o Íris, onde Ilo era goleiro. Vale lembrar que na época o Íris não integrava a primeira divisão e, por isso, Ilo jogava tanto pelo Santa como pelo time suburbano. Dessa partida surgiu o convite para Sebastião treinar no Mais Querido. De acordo com um livro comemorativo dos 55 anos do Santa Cruz, o diálogo entre os dois teria acontecido da segunte maneira:
-Gostei de ver você jogar, Sebastião. Quer ir para o Santa Cruz, eu lhe levo.
-Lá não há lugar para mim.
-Estamos precisando de um center-half.
-Lá fazem questão de cor e eu sou preto.
-Esse negócio de cor não existe lá. O que o clube quer saber é da educação da pessoa.
E assim, ressabiado com um possível preconceito racial, Sebastião chegou ao Santa.
Em setembro de 1926, em partida amistosa, nos Aflitos, o Santa enfrentava o Ypiranga, time tradicional da Bahia e campeão do seu estado um ano antes. Esse jogo ficou marcado porque a partir dele a expressão "virada" é incorporada ao nome Sebastião. Ele foi o reponsável pela vitória coral por 1x0, num sensacional gol de "virada". No lance, Joaquim Português, do Santa, chutou mal, pegando Sebastião de surpresa que voltava para o meio de campo. Num rápido giro e um forte chute de esquerda ele definiu o placar do amistoso. A torcida logo o apelidou de Sebastião Virada. Esse triunfo sobre a equipe baiana foi um dos mais importantes nos primeiros anos de vida do Santa Cruz, ao lado da vitória diante do Botafogo, em 1919. As vitórias contra os baianos eram muito festejadas.
Em 1930, uma notícia deixou a todos perplexos. Não me refiro à Revolução (ou golpe) de 1930, liderada por Getúlio Vargas e que pôs fim à República Velha, a da política café (SP) com leite (MG), e sim a saída de Sebastião do Santa. Ele foi convidado pelo Encruzilhada, um clube novo no Pernambucano e que estava apenas na sua segunda participação no estadual. A transferência foi muito badalada por que ele recebeu um conto de réis, maior valor ganho por Virada como jogador. Na época, a estrela negra tricolor trabalhava como pedreiro. Seu time terminou na terceira posição no Pernambuco-30. No ano seguinte, em 1931, ele continuou no clube do bairro vizinho ao Arruda e, por isso, não participou do primeiro título Pernambucano do Santa Cruz. Entretanto, Sebastião retornou ao tricolor a tempo de conquistar os títulos posteriores.
No campeonato estadual-1932, a Federação decidiu inovar no sistema de disputa, tal como no Pernambucano deste ano, um desastre de organização. Os onze clubes foram divididos em dois grupos, conhecidos por séries azul e branca. Enfrantando-se apenas dentro de suas chaves, os campeões de cada grupo se encontravam na melhor-de-três que decidiria o campeonato. O Santa venceu a série branca e o Íris, levando a melhor sobre Náutico e Sport, conquistou a série azul. Nas finais, foram duas vitórias tricolores por fáceis 4x1. No segundo jogo da decisão, o Diario da Manha considerou que o Santa Cruz fez muitas faltas, sendo Sebastião o mais violento. Curiosamente, de acordo com o próprio jornal, o Mais Querido cometeu sete infrações, número baixíssimo para os padrões atuais do futebol brasileiro.
Sob o comando do diretor técnico Ilo Just, o bicampeonato foi conquistado de maneira brilhante, afinal, o Santa venceu todos os seus doze jogos, 100% de aproveitamento. Melhor ataque da competição, com 51 gols - média de 4,25 gols por partida -, defesa menos vazada, 13 vezes, e, possivelmente, o artilheiro do estadual - Lauro com 14 gols (a precariedade de registros impede a afirmação nesse quesito). Em mais da metade dos confrontos, o clube do povo venceu goleando os adversários: 8x0 no Israelita, 5x1 no Great Western, 4x1 no América, 6x1 e 8x2 no Fluminense do Recife, além dos 4x1 (duas vezes) na decisão do campeonato contra o Íris.
Foto: Diario da Manha
Notinha sobre o internamento de Sebastião que demonstra um pouco da importância do jogador, em 1932.
Não menos sensacional foi a conquista do primeiro tricampeonato da história tricolor - 13 vitórias, dois empates e uma derrota. No Pernambucano-1933, a Federação manteve o regulamento que dividia os clubes em dois grupos e cruzava o campeão de cada chave, mas, dessa vez, separou os grandes dos suburbanos. Em outras palavras, quem vencesse a série azul, chave de Santa, Sport, Náutico e América, praticamente ficaria com a taça do estadual. E foi o que aconteceu. A cobra-coral liderava o seu grupo até a penúltima rodada, quando foi derrotada pelo Náutico (1x0). O Sport, por outro lado, venceu e assumiu a ponta justamente faltando um jogo. Para azar do rubro-negro, seu adversário seria o Santa Cruz na última rodada.
O Diario de Pernambuco destacava a defesa tricolor: "Diógenes, Martins e Sherlock formam uma grande potência pela colocação e destreza nas suas jogadas. Zezé Fernandes, Sebastião e Marcionilo são médios admiráveis e fortes que defendem magnificamente e distribuem com uma felicidade desconcertante." Domingão, dia da decisão do campeonato, como os próprios jornais consideravam, a Avenida Malaquias, campo do rival, superlotada (8.000 pessoas) e o Sport levando a vantagem do empate. Para piorar, o leão larga na frente, mas, através de Limoeiro vem o empate do Santa. No 2° tempo, Tará deu a vitória ao Terror do Nordeste ao marcar duas vezes. Zezé Fernandes, no entanto, resolveu debochar dos jogadores do Sport e sentou na bola, o que resultou numa falta que originou o segundo gol do adversário, inútil por que não havia mais tempo para nada. Com o triunfo por 3x2, o Santa Cruz enfrentou o Varzeano na decisão, de fato, do campeonato. Comandado pelo "entraineur" Júlio Fernandes, o clube conquistou o tri ao vencer o time suburbano duas vezes por 5x2.
Virada esteve 23, dos 28 jogos - um deles o Santa venceu por WO -, que o tricolor disputou nos campeonatos de 32 e 33. Com ele, foram 20 vitórias, dois empates e uma derrota. Outros jogadores mereceram destaque: Diógenes (bicampeão), Sherlock (capitão e tri), Zezé Fernandes (tri), Tará (tri), Lauro (tri e artilheiro do Santa com 32 gols nos três estaduais), Limoeiro (campeão) e Walfrido (tri). No tricampeonato (1931-32-33), a equipe venceu 33, empatou três e perdeu apenas duas vezes. Foram 162 gols a favor e 46 contra, gerando um saldo positivo de 80 e uma média de 3,3 gols por partida.
O ano seguinte ao tricampeonato também pode ser considerado um ano glorioso, apesar da derrota para o Náutico na final do estadual por 2x1. Em 1934, duas vitórias entraram para sempre na história do Santa Cruz. Em 15 de agosto, na Av. Malaquias, Sport e Santa Cruz escreviam mais um capítulo da rivalidade dos Clássico das Multidões. Na liderança, o arquiinimigo coral vinha de um empate diante do Náutico, enquanto o tricolor, segundo colocado, havia sido derrotado pelo Íris (1x0). O jogo era muito aguardado pelas duas torcidas que lotaram as arquibancadas da Av. Malaquias. Brilhantemente, o Santa estabeleceu a maior goleada do confronto, 7x0!!! 4x0 só no 1° tempo. Lauro (2), Tará (2), Carlos, Limoeiro e Estevão - esse não iniciou o jogo, mas substituiu algum jogador não identificado - marcaram os gols. "Sebastião foi um eixo eficiente e seguro" do time. Pelo lado rubro-negro, Diógenes, ex-Santa, decepcionou. Dadá, Marcionilo e João Martins; Zezé Fernandes, Sebastião e Ernani; Walfrido, Limoeiro, Tará, Lauro e Carlos foram os titulares dessa memorável partida.
A segunda vitória inesquecível aconteceu em outubro. O Santa Cruz venceu a Seleção Brasileira, que excursionava pelo País após a Copa na Itália. O time do gênio Leônidas da Silva não foi páreo e saiu derrotado por 3x2 - gols de Zezé (2) e Sidinho para o Mais Querido, e Patesko e Waldemar de Brito pelo Brasil. Machucado, Sebastião deu lugar a Furlan. O ídolo negro havia de partipado do primeiro jogo entre as duas equipes onze dias antes, quando a Seleção fez 3x1. Apenas três clubes no mundo foram capazes de vencer o escrete canarinho até hoje - Flamengo, Atlético-MG e o Santinha, claro.
O ídolo negro encerrou a carreira de maneira precoce. Seu último campeonato pelo Santa Cruz foi o de 1934. Sebastião penderou as chuteiras mais cedo, aos 33 anos, porque ele não quis se submeter a uma cirurgia no menisco. Com medo de sofrer as consequências de uma operação mal feita, situação que acontecia com certa freqüência na época, o zagueiro preferiu abandonar o futebol. "Os médicos do clube cuidavam do atleta, porém, na maioria das vezes as contusões e os problemas de saúde eram cuidados pelo próprio jogador", disse Virada ao DP.
Sebastião Virada falando sobre o tempo do amadorismo ao Diario de Pernambuco, em 1970.
Fontes: Livros: Conheça o Santa Cruz - 55 anos de glórias, 85 anos de bola rolando (Givanildo Alves), Campeonato Pernambucano - 1915 a 1970 (Carlos Celso Cordeiro), Diario da Manha, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio e as seguintes páginas na internet:
http://www.blogdosantinha.com/idolos-do-passado/arruda-1970-a-foto-de-uma-lenda/
http://www.scielo.br/pdf/ea/v13n37/v13n37a09.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Epit%C3%A1cio_Pessoa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Negro
quarta-feira, 12 de março de 2008
A Maravilha do Arruda - parte 1
Foto: Diario da Manha
Cena recorrente em 73: comemorando, mesmo que discreto, seus gols.
Características: Preciso nos passes e lançamentos, mas encantava também com os chutes certeiros. Armador clássico que cadenciava bem o jogo.
Estréia pelo Santa:
16/10/1966 - Amistoso
Santa Cruz 4x0 Vera Cruz/Abreu e Lima
Curiosidades:
#Luciano recebeu de presente um curió, pássaro de valor na época, de um torcedor, pelo gol do título no campeonato de 69. Os demais jogadores pediram ao meia que deixasse o animal na concentração do clube, mas ele não se sensibilizou com o apelo: "Não! de jeito nenhum. Vou levá-lo para casa."
#No período em que defendia os juvenis do Santa Cruz, os colegas o chamavam de Dodô. No time, já existia outro Dodô, goleiro. Veio, então, um diretor e decretou que a partir daquele dia o Dodô, de Maceió, seria Luciano e o goleiro passaria a ser Gaião. O nome sugestivo acabou virando motivo de risadas e o arqueiro passou a atender pelo nome de batismo mesmo, Naércio.
Foto: Diario de Pernambuco
Luciano, com 20 anos, e Pedrinho, na comemoração do estadual de 69.
Hoje: Trabalhou, no ano passado, como técnico nas divisões de base do Tricolor. Em 1993, Luciano comandou o Náutico no vice-campeonato pernambucano, perdendo para o Santinha de virada.
A Maravilha do Arruda - parte 2
O Pentacampeonato do Santa Cruz começa, na verdade, quando o milionário James Thorp assume o departamento de futebol do clube. Além de todo o dinheiro do "inglês", como era chamado pelos torcedores, mudou-se a forma de ação. No lugar de jogadores medalhões,vindos do Rio e de São Paulo; investimento na prata-da-casa, valores da região e na estrutura do Mais Querido, construindo uma concentração e ampliando o Estádio do Arruda. Entre os garotos, estava o promissor Luciano, vindo do futebol alagoano.
Foto: Diario de Pernambuco
Outra característica marcante: o famigerado blackpower.
Peça fundamental no título mais importante do Santa Cruz, camisa 10 por vários anos, principal assistente da época e, ainda, fazia muitos gols. Na saga do Penta (69 a 73), Luciano balançou as redes 69 vezes, tornando-se, ao lado de Fernando Santana, o grande goleador desse período. Ainda foi o jogador que mais vestiu a camisa coral no Pentacampeonato, com 126 jogos, do total de 131 do Tricolor, o que representa incríveis 96% das partidas. Especialista também em quebrar longo jejuns de títulos: com o Santa, em 69, dez anos depois da última conquista estadual, no Sport, em 75, doze anos na fila e pelo Corinthians, em 77, na seca há 22 temporadas.
O primeiro treinador no profissional do Maravilha do Arruda chamava-se Alexandre Borges, homem que iniciou o trabalho com os meninos da base. Mas, quem colheu os frutos do campeonato de 69 foi Gradim, outra fera com a garotada. O presidente Aristófanes de Andrade resolveu copiar a idéia do Náutico, montando uma superestrutura que continha psicólogo, nutricionista, assistente social, dentista, e médicos. A folha salarial não era alta, pois possuía basicamente jogadores da região. Dinheiro sobrava, afinal James Thorp estava por perto, chegando ao ponto de presentear cada jogador com um fusca após a confirmação do título de 69. O campeonato se decidiu em quatro(!) partidas contra o Sport, vencedor do 1° turno, enqüanto o Santa levou o 2°. Nos três primeiros jogos, uma vitória Tricolor (3x0), outra leonina (2x0) e um empate (0x0). Na grande final, nos Aflitos, os dois rivais empatavam em 1x1, Facó para o Santa e Duda igualou o placar, quando aos 30 minutos do 2° tempo, Luciano dava a primeira mostra que crescia nas decisões: uma falta cobrada com maestria, no melhor estilo folha seca, fez explodir o povão tricolor, sedento por troféus. Ele terminou o estadual como vice-artilheiro do Santa, com 13 gols, atrás do goleador do Pernambucano-69 Fernando Santana, 23 gols, que, ao lado do volante Zito, do zagueiros Birunga e Zé Júlio e do atacante Mirobaldo, era um dos expoentes da equipe que viria a ser bicampeã em 70 e representante de Pernambuco nos Robertões de 69 e 70.
Umas das 409 partidas de Luciano, ao centro, com a camisa tricolor.
Novamente a jovem dupla de artilheiros se sobressaiu. Santana, primeiro do campeonato de novo, 15 gols e, logo depois, Luciano, com 14. Levando em conta os estaduais de 69 e 70, os dois marcaram 65 vezes, quase metade do que fez o Tricolor - 139 gols. Numa das finais do bicampeonato, agora, frente ao Náutico, A Maravilha do Arruda mais uma vez mostrou seu poder de decisão. Depois do empate - 0x0 - no primeiro jogo, o Santa fez 2x1 no alvirrubro, dois gols de Luciano, tranqüilizando os torcedores e o time para o último confronto. Outra vitória, 2x0 - Cuíca e Ramon -, deu ao Santa o histórico primeiro título no Arruda. O futebol do esquadrão do novo técnico Duque era considerado moderno, com todos cobrindo todos e revezando-se nas posições. O meio-de-campo formado por Zito e Luciano se consolidou como um dos melhores do Brasil. Mais tarde, Givanildo e Erb jogariam na posição ao lado da Maravilha do Arruda.
Esquema tático para o Robertão-70.
Durante a disputa do estadual de 70, uma grande cheia no Recife provocou a morte de 61 pessoas e inundações nos estádios da capital. Mas, passado o triste episódio, Luciano teve seu valor reconhecido na inclusão de seu nome na lista dos 40 jogadores da Seleção Brasileira para a Copa-70, assim como aconteceria com o atacante Ramon, em 74.
Mantendo o futebol de muita técnica, no qual, quem corria era a bola, e não o jogador, vieram o tri, 71, e o tetra, em 72, nesse, por sinal, o Santa teve os três goleadores do campeonato - F. Santana, 15 gols, o próprio Luciano, 13, e Ramon, com 12. Mas foi no Penta que o meia assumiu a artilharia do estadual - 25 gols -, chegando a marcar em 20, das 36 partidas, e ficando de fora apenas duas vezes. Além desses números, as estatísticas do Terror do Nordeste nos cinco títulos (69 a 73) impressionam: 101 vitórias, 19 empates, 11 derrotas, 333 gols marcados, 71 sofridos, resultando no saldo positivo de 262.
Tamanho destaque do clube e jogador não passaria em branco no sul do País. O Palmeiras chegou perto de levá-lo, mas Luciano disse aos pretendentes que só sairia por muito dinheiro, "mas muito mesmo." Depois, além do meia tricolor, os portugueses tentaram Ramon, mas a proposta do Boa Vista pelos dois foi considerada baixa.
Foto: Diario de Pernambuco
Não chegou a jogar pela Seleção, mas esteve entre os 40 relacionados para a Copa de 70, no México.
O camisa 10 do Santa Cruz teve muitos treinadores no Arruda - Alfredo Gonzalez, Duque, Evaristo de Macedo, Paulo Emílio, Caiçara, Lanzoninho e, por último, Carlos Froner -, mas nenhum deles ousou a mudar o número de sua jaqueta. Segundo maior artiheiro do Santa Cruz Futebol Clube. É um orgulho para o clube e a torcida ter em Luciano um dos jogadores que mais vestiram o manto Cobra-Coral, com 409 atuações.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
O endiabrado - parte 1
Posição: Atacante (ponta-direita)
Foto: Jornal do Commercio
Características: Acima de tudo, driblador. Veloz, de futebol alegre e muitos gols. Além disso, possuía rara habilidade nas jogadas de linha de fundo. Um autêntico ponta que chutava bem com as duas pernas.
Estréia pelo Santa:
10/02/85 - Campeonato Brasileiro
Santa Cruz 0x3 Náutico
Local: Arruda - Público: 8.404 Gols: Nunes (2 vezes) e Baiano.
Santa Cruz - Birigüi, Marco Antônio, Bosco, Jorge e Carlito; Zé do Carmo, Henágio e Carlos Roberto; Gabriel (Marlon), Falcão e Roberto.Téc.: Pedrinho.
Náutico - Pimenta, Heitor, Alfredo Santos, Édson Gaúcho e Hermes; Lourival, Baiano e Manguinha; Porto (Rogério) Nunes e Neto Surubim (Sivaldo).Téc.: Givanildo Oliveira.
Curiosidades:
Hoje: Empresário de futebol.
O endiabrado - parte 2
Lula, Zé do Carmo, Birigüi, Marco Antônio, Ivã e Lotti; Jarbas, Marlon, Neto, Rômmel e Tiziu.
Os ingleses inventaram o futebol. Os brasileiros inventaram o futebol-arte. Enqüanto os europeus usavam da força na prática do esporte bretão, os canarinhos introduziram no esporte uma artimanha que tornava o jogo mais leve, agradável, e, às vezes, engraçado. Surgia o drible. Entre os seus principais apreciadores estava Marlon, camisa 7, jogando numa posição feita sob-medida para os dribladores. Na ponta (direita), ele endiabrou a vida dos laterais-esquerdo (pobre, Luizinho), especialmente os rubro-negros, enlouquecendo a massa tricolor, admiradora de um bom drible. Depois de Marlon, o Clássico das Multidões não ficaria marcado apenas pela rivalidade e a grandeza das torcidas. Os dribles humilhantes se eternizariam na memória do torcedor Cobra Coral e do amante do futebol-arte. Além disso, os gols, um título e a identificação com a torcida, fariam de Marlon, rapidamente, um ídolo do Mais Querido.
Adquirido junto ao Esportivo-RS - por um valor impossível de se entender para um simples mortal, 300 milhões de cruzeiros novos -, o ponteiro tricolor demonstrava logo na estréia que era um jogador diferente dos demais. Apesar da derrota para Náutico (3x0), pelo Brasileirão-85, Marlon, mesmo entrando no decorrer da partida, agradou a todos com a sua habilidade envolvente, tanto que, no jogo seguinte, diante do Vasco, já constava entre os titulares. Nesse Brasileiro, o Santa realizou desastrosa campanha, ocupando a penúltima posição, entre os 44 clubes. Apesar disso, Marlon fez o seu papel, pois foi o artilheiro do Tricolor, com oito gols em 16 partidas, mesmo estreando apenas na quinta rodada. Na luta do Pernambucano do mesmo ano, disputado no segundo semestre, o endiabrado era o alvo preferido dos selvagens zagueiros alvirrubros, inimigos do bom futebol, que acabaram levando o "caneco" de 85. Mas um jogo em especial desse estadual ficaria guardado na lembrança dos corais. "Em meio a dezenas de grandes atuações, neste jogo, decidindo o segundo turno, na Ilha do Retiro, talvez tenha ocorrido sua melhor atuação desde que foi contratado pelo Santa Cruz", publicou o Diario de Pernambuco. Sport e Santa decidiam o 2° turno e Marlon, sem a condição física ideal, levou O Mais Querido à vitória, de virada, com um gol no tempo normal, que terminou 1x1, e outro na prorrogação. O resultado de 2x1 garantiu o título do turno e, conseqüentemente, a vaga na final do campeonato. No estadual, ele anotou doze gols.
Marlon em ação na final de 86.
Passado o ano de 85, veio o primeiro e único título com a camisa do Santinha. Sabe-se que o goleiro Birigüi foi o grande nome da decisão de 86, na Ilha do Retiro, em que o arqueiro segurou o 0x0 diante do Sport, garantindo a taça ao Terror do Nordeste. Porém, o craque do campeonato e responsável maior pela presença na final do campeonato foi o endiabrado Marlon. De sua inspiração dependia as atuações do Santa Cruz, tornando-se numa espécie de termômetro da equipe. Dono de um drible rápido e fácil, Marlon terminou o certame como artilheiro do time, com dez gols, quatro a menos que o goleador, Luís Carlos, do Sport.
Na casa do rival, o atacante parecia ficar mais endiabrado ainda. Lá, o Santa conquistou o 1° turno, num empate, dramático, por 1x1, diante do clube mandante. Após mais uma igualdade, dessa vez sem gols, na prorrogação, os dois decidiram nos pênaltis, onde, com Marlon convertendo a sua penalidade, terminou 3x0. Nesse embate, ao sair de campo com três prêmios, por ter sido escolhido pelas rádios como melhor em campo, ele reclamava da violência do lateral adversário, Paulo Silva: "entrou em campo só para me bater e o árbitro tinha que expulsá-lo ainda no primeiro tempo". (O lateral, inclusive, havia sido contratado na semana da partida, vindo a ser dispensado poucos dias depois dela.) Ao longo de sua passagem pelo Santa, Marlon nem sempre suportou as pancadas dos rivais e a complacência dos árbitros, acumulando algumas expulsões por conta de reclamação.
No 2° turno, os rubro-negros vingaram a goleada, por 5x0, dos tricolores pelo mesmo placar no ano de 76. Com a vaga garantida na decisão do estadual, o time relaxou e, naquele jogo, Marlon e Zé do Carmo receberam o cartão vermelho. O técnico Waldemar Carabina foi mandado embora após esse resultado, vindo em seu lugar Moisés, vice-campeão Brasileiro pelo Bangu em 85. A recuperação aconteceu no 3° turno, em que o Tricolor venceu o Sport na Ilha, por 2x0, com gols de Neto e Washington. Mas a decisão do turno ficou por conta de Central e Santa Cruz, em Caruaru, escolhida através de sorteio. Depois do empate por 1x1 no tempo normal e 0x0 na prorrogação, o vencedor foi conhecido após a disputa de pênaltis, onde o Santa fez 5x4, um deles de Marlon. O campeonato, de regulamento confuso, seria decidido numa partida extra e, caso o Sport vencesse, os dois rivais fariam uma melhor-de-três. Novamente o Santa Cruz perdeu no sorteio e a Ilha do Retiro foi o palco da "extra". Birigüi fez milagres e, como o empate bastava, a torcida tricolor comemorou o 19° título. O arisco Marlon e o meia Rômmel se contundiram após as duas substituições permitidas terem sido efetuadas, aumentando a dramaticidade da conquista Coral.
Foto: Diario de Pernambuco
Marlon ajudou o Brasil a se classificar para o Pan-Americano de 1987, nos Estados Unidos.
No Brasileirão, no qual o Santa ficou na 26ª colocação, entre 48 clubes, Marlon ganhou destaque nacional. Foram três gols que lhe valeram uma convocação e uma dor de cabeça aos torcedores. Devido à convocação para a Seleção Brasileira de novos, como era chamada na época, Marlon desfalcou o Santa no campeonato nacional por cerca de 40 dias, ocasionando na queda de rendimento do Mais Querido. O aproveitamento do time era de 50% enqüanto o jogador defendia o Tricolor, que, sem ele, obteve um aproveitamento de 38%. A média de gols também caiu, de 1,07 gols por partida para 0,88. A causa da ausência ficou por conta do Campeonato Sul-Americano, no Chile, em que o Brasil conseguiu a classifição para os Jogos Pan-Americanos de 1987 e Marlon foi titular em três, das quatro partidas do escrete canarinho.
Foto: Edvaldo Rodrigues
Santa Cruz 1x1 Goiás - última vez que a camisa 7 foi vestida por Marlon.
No dia do reencontro com a torcida tricolor, na data de 10 de dezembro, no confronto entre Santa Cruz e Goiás, o que deveria ser um recomeço com a camisa Cobra-Coral, marcou a despedida do ídolo. Poucos dias depois da partida, anunciou-se a venda de Marlon ao Sporting, de Lisboa. O passe do atacante foi negociado por 3 milhões e 500 mil cruzados, sendo 2 milhões à vista e o restante com 30 dias. Ainda ficou acertada uma excursão do Santa a Lisboa, de oito jogos, sendo um deles frente ao Sporting, com o clube português bancando as passagens. Não tinha sido a primeira investida dos portugueses em Marlon. Cerca de cinco meses antes, o presidente do Sporting já havia estado no Recife, mas não chegaram a um acordo e ele acabou renovando com o Santa - curiosamente essa renovação aconteceu na sede do Náutico enqüanto Marlon participava do lançamento do programa de escolinhas de uma instituição social. Palmeiras e Fluminense também tentaram a contratação do endiabrado.
Na Europa, o ex-ponta direito tricolor permaneceu por nove temporadas, entre Portugal e Espanha, tendo mais destaque no Boa Vista, da cidade do Porto. Lá, fez jus ao apelido de endiabrado. Desde então, a torcida do Santa Cruz recorda com alegria os dribles desconcertantes e gols maravilhosos do jogador que marcou época nos anos 80.
"Não adianta nenhum zagueiro querer me amedrontar. Só me param se me quebrarem, porque quanto mais batem, mais eu vou pra cima. Quero uma providência dos apitadores para que os torcedores vejam futebol e eu não seja inutilizado por um zagueiro qualquer."
Marlon, ao Diario de Pernambuco, no dia 28 de julho de 1986.
Fontes: Entrevista com Marlon, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, Revista Placar, 85 Anos de Bola Rolando (Givanildo Alves) e as seguintes páginas na internet: http://paginas.terra.com.br/esporte/rsssfbrasil/sel/brazil198487r.htm ; http://www.zerozero.pt/uk/jogador.php?edicao_id=0&epoca_id=112&id=15391 ; http://www2.uol.com.br/JC/_2001/2005/es2005_5.htm ; http://www.blogdosantinha.com/?s=Marlon&paged=3